domingo, 23 de fevereiro de 2025
Rótulos de cigarros, provavelmente fabricados em Cajazeiras e Sousa.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Em Cajazeiras, um tea for two na porta de entrada para o Cine Éden
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
O Jornal A União, domingo - 26.01.25, Caderno Cultura, página 9, publicou matéria alusiva aos 40 anos do Teatro Ica.
porEsmejoano Lincol
Íracles
Brocos Pires, a dona Ica, diretora paraibana e entusiasta da cultura local,
lutava por um espaço maior para a promoção de espetáculos em Cajazeiras, no
Sertão da Paraíba. Em meados dos anos 1970, a ideia começou a tomar forma, e
ela vislumbrou a possibilidade de dar o nome do escritor Ariano Suassuna ao
equipamento que seria construído. O destino não permitiu que ela pudesse ver o
sonho tornar-se real, mas sua partida fez com que esse palco levasse o seu
nome. Inaugurado há 40 anos, o Teatro Íracles Brocos Pires segue a missão de
promover a arte do estado. A programação especial de aniversário se encerra
hoje com shows do Grupo Dança de Rua da Paraíba e de Seu Pereira e Coletivo
401, a partir das 19h30.
A
União cobriu o lançamento do Ica, entregue pelo então governador Wilson Braga,
na edição de 29 de janeiro de 1985. Na mesma oportunidade, o gestor também
realizou a inauguração do Estádio Perpétuo Corrêa Lima, o Perpetão, que àquela
altura era chamado de Wilsão, em deferência ao político. Em seu discurso, Braga
exaltou o trabalho dos artistas locais, como Marcélia Cartaxo, que, conta a
reportagem, havia sido recentemente escalada para o icônico papel de Macabéa no
longa-metragem A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. “Que ela [a ‘casa teatral’,
como chamou o governador] agora cumpra a sua missão história para o futuro”,
projetou Braga, na sua fala à população.
Quem
recorda o legado de Íracles é seu filho, o advogado Pepé Pires. Ele afirma que,
quando da escolha de dona Ica para dar nome ao teatro, houve quem questionasse
o fato de ela não ter sido atriz, ainda que tenha se empenhado em sua própria
formação - nos anos 1950, rumou para o Rio de Janeiro, onde estudou no Tablado,
fundado pela dramaturga Maria Clara Machado.
“Ela
tinha um talento nato. Na década de 1960, encenou O Auto da Compadecida e
contou com a participação do próprio Suassuna, que teceu elogios diante da
capacidade dos artistas locais, incluindo a minha mãe, de realizar uma
adaptação daquela qualidade”, evoca.
Íracles
faleceu em março de 1979, num trágico acidente automobilístico em Jequié, na
Bahia, mas Pepé afirma que a influência de sua mãe na cena local ultrapassa o
título dado ao equipamento público - em consonância com a cena nacional, a
diretora trouxe para Cajazeiras peças de vanguarda contemporâneas à sua
circulação no Sudeste, como dona Xepa, de Pedro Bloch. “Antes da construção do
espaço, minha mãe trazia duas peças por ano para a cidade. O Ica hoje é uma
referência na cultura do município, que gira em torno daquele ambiente”,
conclui.
PALCO
PARA A “ANDORINHA”
Dona
Ica também compartilha seu apelido com esse espaço: o Teatro Ica, como é
carinhosamente chamado por atores e moradores, era uma demanda antiga da cena
local. Antes, os artistas e o público tinham de recorrer a ambientes
improvisados na rua, no antigo Colégio Diocesano, ou no Cine Teatro Apolo XI.
O
ator Buda Lira, também cajazeirense, deu seus primeiros passos na dramaturgia
justamente nos quintais e nas calçadas do município, quando de sua experiência
com o Grupo Terra, montado junto com seus irmãos, Bertand, Nanego e Soia.
“Participamos do grupo que fez a campanha para a construção desse teatro”,
recorda.
Anos depois, mais experiente e residindo em João Pessoa, retornou ao Ica para se apresentar com dois espetáculos importantes em sua trajetória como ator: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de 1992, e A Gaivota (Alguns Rascunhos), de 2007, ambos produzidos pelo Grupo Piollin, do qual passou a fazer parte. Buda atesta a importância desse teatro, considerando sua localização no interior do estado. “Acho que não chega a 5% o número de municípios brasileiros que possuem, oficialmente, casas de espetáculos”, declara.
Rivelino Martins, também ator e natural de Cajazeiras, conheceu dona Ica por meio de artistas contemporâneos à primeira-dama do teatro cajazeirense, como Larcy Nogueira. Com quase 40 anos dedicados à arte, encenou novas versões de espetáculos que, no passado, foram dirigidos por ela, como A Incelença, escrito por Luiz Marinho. “Era tida como uma mulher além do seu tempo, no nosso Sertão paraibano. Seja no teatro, na comunicação radiofônica e na política”, pontua.
Nos primeiros anos, o teatro chegou a ser administrado, via modelo de comodato, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas, atualmente, o Ica é gerido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). Rivelino ressalta que o vínculo com o Governo do Estado garantiu, em 2018, uma reforma que trouxe melhorias diversas, como a ampliação do número de lugares disponíveis, de 174 para 285.
“Ganhamos
iluminação e sonorização modernas e uma sala de ensaios. A partir daí,
companhias de teatro de outros estados do Brasil, que estiveram no Ica,
consideram um dos mais modernos e equipados do Nordeste”, informa.
Desde o ano passado, o teatro é gerido por Iza Nonato, produtora e gestora cultural nascida em Cajazeiras. Na juventude, acompanhou os espetáculos que eram encenados no palco do Ica. Depois de alguns anos residindo na capital, retornou à sua cidade de origem para coordenar o espaço. Dentre as ações que fizeram parte desse aniversário de 40 anos, estão a construção de uma galeria fotográfica, que rememora peças e demais eventos que marcaram essas quatro décadas de existência, e uma exposição de figurinos e objetos utilizados por dona Ica em espetáculos históricos.
Iza
enaltece a programação que tomou conta do teatro na última semana, incluindo
recital de Jessier Quirino e a montagem de Beiço de Estrada, texto clássico do
dramaturgo Eliezer Rolim. A gestora assevera que as comemorações continuam até
o fim do mês com a grade do projeto Férias Funesc, que fornecerá ações
culturais gratuitas voltadas para as crianças e adolescentes da rede pública de
ensino (confira no quadro ao lado).
“O
Ica representa não apenas um espaço de expressão cultural, mas também um
instrumento de preservação da história e da identidade local. Ele tem um papel
fundamental na formação de público e na promoção de artistas da região”,
sustenta Iza.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Funesc: ‘40 anos do ICA’ terá oficinas, homenagens, música, teatro, dança, circo, fotografia, cinema, literatura e cultura popular, em Cajazeiras
19/01 – DOMINGO
19h - Cerimônia de abertura e inauguração da Galeria Fotográfica com a exposição ‘Memórias’
20h – Apresentação ORQUESTRA SINFÔNICA PRIMA
20h30 – Exibição do curta-metragem ‘Cajazeiras sitiada’, de Janduy Acedino
20/01 SEGUNDA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
18h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
21/01 TERÇA-FEIRA
17h - Espetáculo Infantil de dança ‘Raxa’
18h - Espetáculo Infantil de circo ‘Viva o Circo’
22/01 QUARTA-FEIRA
17h - Contação de história Infantil ‘Meio mundo de histórias’
23/01 – QUINTA FEIRA
19h – Show musical ‘Senhor Cordel’
19h30 - Repente com Jonas Bezerra e Felipe Pereira
20h – Recital com Jessier Quirino
24/01 – SEXTA-FEIRA
19h – Homenagem in memorian Eliézer Rolim
19h30 - Espetáculo teatral ‘Beiço de estrada’
21h - Show musical
25/01 – SÁBADO
19h – Espetáculo teatral ‘Oh! Terrinha boa’
20h30 – Show musical com Flávio Leandro
26/01 – DOMINGO
19h30 – Grupo Dança de Rua da Paraíba - DRP
20h – Show com Seu Pereira & Coletivo 401
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Espelho Rachado - Uma história de final de ano
Não tem jeito: todo final de
ano lembro meu amigo Baxter. Um cara legal, talvez meio bobão, mas gente boa.
Sua única mancada na vida foi aquela de se passar para emprestar seu
apartamento de solteiro aos seus superiores no trabalho. Entendam: era naquele
tempo em que não existia essa coisa prática chamada Motel, e, funcionário de
uma grande Empresa de Seguros, ele achava que esses empréstimos escusos de seu
modesto lar podiam lhe trazer promoções ou subidas de cargo.
Por causa disso, coitado,
vivia debruçado sobre a agenda, marcando encontros para os outros. Nos dias e
horários dos tais encontros, tinha que, depois do expediente, permanecer na rua
por horas, mal acomodado nos bancos das praças, sujeito a frio e chuva,
enquanto velhotes safados traçavam garotas de programa na sua cama. Negócio de
doido.
E ele próprio, sem ninguém. A
não ser que se diga que era meio caidinho pela ascensorista da Empresa, uma
moça bonita e simpática que, se não correspondia ao flerte, ao menos era super
gentil com ele.
Pois um dia, o que aconteceu?
Baxter foi chamado ao último andar do arranha-céu da empresa, falar com o
chefão. Sua tramoia havia sido descoberta, e quando ele estava para pedir
perdão, foi o chefão quem falou: ao invés de condená-lo, pediu a duplicata da
chave do apartamento, pois queria ser, a partir daquele dia, o único “freguês”.
E aquela foi, pra Baxter, mais
uma metade de noite na rua. Ao voltar pra seu apartamento, achou no assoalho,
um espelho de mão rachado. Devia ter havido briga entre o chefão e sua garota,
fosse ela quem fosse. Guardou o espelho rachado e, no dia seguinte, teve o
cuidado de entregá-lo ao chefão.
A recompensa pelo uso do
apartamento desta vez veio rápido: Baxter foi promovido e mudou de sala, do
andar em que estava para um outro, bem mais alto – e, na empresa, quanto mais
alto o andar do prédio, mais prestígio.
Por coincidência, ele estava
na sua nova e charmosa sala de trabalho, comemorando a promoção, quando a bela
ascensorista apareceu. Provando um chapéu novo, ele perguntou a ela se
combinava com sua postura, e aí, ela tirou da bolsa um espelho de mão e lhe deu
pra que ele mesmo se mirasse. Foi nesse momento que o mundo de Baxter desabou:
era o mesmo espelho rachado que ele encontrara no seu apartamento e devolvera
ao chefão, ou seja, a amante escusa do chefão era ela, sua tão adorada e
supostamente inocente ascensorista.
O baque foi grande, mas Baxter
tentou se segurar. A carreira profissional de um homem não era mais importante
que sua vida amorosa? Engoliu em seco e foi adiante. Quando o chefão solicitou
seu apartamento no dia de natal, ele, claro, cedeu. Naquela noite, ficou pelos
bares, tristonho, mas terminou arranjando uma paquera casual, que aceitou ir,
sim, para o apartamento dele. Naquela hora, mais de meia noite, Baxter sabia
que o chefão e a ascensorista já haviam encerrado o rendez-vous.
Ao chegar em casa, não prestou
não. Abrindo a porta do quarto tomou o maior susto de sua vida: lá estava a
moça, sim, sua linda ascensorista, em sua cama, desfalecida. Tentou acordá-la,
mas que nada: na cabeceira da cama estava um frasco de comprimidos para dormir
completamente vazio. E aí, foi um deus nos acuda. Telefonou imediatamente para
o chefão, mas este alegou que tinha esposa e filhos e que não podia fazer nada;
e sugeriu que Baxter, ele mesmo, resolvesse o problema. Assim, o pobre do
Baxter se acudiu de um médico vizinho e amigo, e foram horas e mais horas de
arrastar a moça desfalecida pelo apartamento, de lhe empurrar café goela
abaixo, e de muitas outras providências e cuidados.
Quando a moça melhorou,
terminou ficando uns dias no apartamento dele, e puderam conversar um bocado e
à vontade sobre as coisas da vida e as dores do amor.
Voltando ao trabalho, Baxter
foi chamado pelo chefão, que agradeceu suas providências e pediu, de novo, a
chave do apartamento, desta vez uma cópia exclusiva. E foi aí que veio a
redenção moral do nosso amigo Baxter: ele se negou a ceder a chave. O chefão
ameaçou demiti-lo, e ele, impávido e altaneiro, aceitou a demissão de bom
grado.
Na Noite de Ano, estavam a
jovem ascensorista e o chefão num salão festivo de bar quando foi anunciado o
nascer do novo ano. Ele virou-se de lado para brindar com todos, e ao voltar-se
pra brindar com ela, a moça havia desaparecido. Vocês não vão acreditar, mas
conto assim mesmo: não sei o que deu nela, que saiu correndo feito uma louca, e
foi bater na porta do modesto apartamento de Baxter, o qual, no meio dos móveis
empacotados para mudança, tinha, por coincidência, acabado de abrir uma garrafa
de champanhe para comemorar o seu desemprego e desalento. Brindaram os dois e
foram muito felizes depois daquele brinde. Creio que para sempre.
O espelho rachado? Ela jogou
fora e comprou um outro, novinho em folha, como o ano que se iniciava.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Seminário Diocesano Nossa Senhora da Assunção: História, lançamento da pedra fundamental e inauguração
A pedra fundamental do Seminário de Nossa Senhora da Assunção foi benta em Roma, por S. S. o Papa Pio XII, então gloriosamente reinante, no dia 16 de junho de 1950, Festa do Coração de Jesus.
Transcorria festivamente o dia 22 de agosto, mais um aniversário de Cajazeiras, comemorando-se os 150 anos do nascimento do seu imortal fundador, Padre Mestre Inácio de Sousa Rolim.
Naquele ano jubilar de 1950, era chegado, naquela mesma data, o momento histórico, ardentemente desejado por D. Mousinho, seu Clero e por todos os seus diocesanos.
Refiro-me a mais um acontecimento inesquecível e de significados indeléveis do tão famoso 22 de agosto, no calendário cajazeirense. Soara a hora deveras almejada em que S. Exa. Revma. D. Luís do Amaral Mousinho, de saudosa e imortal memória, contando com a presença efetiva e afetiva de D. Anselmo Pietrulla, Bispo de Campina Grande; D. Antônio Campelo, Bispo Auxiliar de Cuiabá; dos Sacerdotes Diocesanos e Salesianos e das autoridades locais: Prefeito Arsênio Araruna, Juiz de Direito Antônio do Couto Cartaxo, Presidente da Câmara de Vereadores José Bonifácio de Moura e também com a participação de representações dos estabelecimentos de ensino da cidade e grande massa popular, revestido de paramentação solene, deu início à cerimônia do lançamento da Pedra Fundamental do Seminário Nossa Senhora da Assunção.
Fizeram-se fotografias. O ato foi saudado com vibrantes e estrepitosas salvas de palmas. A Banda de Música Municipal executou um dobrado. Houve espocar de foguetes. Foi entoado, fervorosa e entusiasticamente, o hino religioso-popular “Queremos Deus”, testemunhando a expansão de fé de todos os presentes.
O Bispo Diocesano dirigiu sua palavra de Pastor, com júbilo, sabedoria, eloquência e amor, afirmando que aquela tarde magnífica, daquele dia solene, constituía “o mais emocionante momento de sua vida episcopal”, porque talvez nenhum outro empreendimento mais notável pudesse executar para a sua Diocese.
Na ocasião, ressaltou a urgente e grave necessidade do recrutamento e orientação das Vocações Sacerdotais, acentuou a sublime missão do sacerdote, evangelizador dos povos, propugnador da verdade e sentinela dos direitos humanos.
Formulou ardentes votos para que o futuro Seminário forjasse corações abrasados como o de outro Moisés e inteligências brilhantes como a daquele Santo Sacerdote, Padre Mestre Inácio de Sousa Rolim.
Pediu insistente e confiante aos diocesanos que elevassem preces ao Altíssimo para que a semente plantada nascesse, crescesse, florescesse, frutificasse e safrejasse (sic), abundantemente, numerosos santos sacerdotes para a Igreja de Deus.
Na oportunidade, disse, igualmente, que fazia presente ao Seminário de um Cálice banhado a ouro, recebido como lembrança de sua eleição para Bispo de Cajazeiras.
Afirmou que muitos compreendem o valor do Seminário, embora outros existam que não querem ver a sua alta missão de formar cidadãos que se tornam verdadeiros expoentes da vida social. Ao finalizar, proclamou em alto e bom som: "Neste Seminário irá se construir toda a segurança de nosso passado e toda grandeza de nosso futuro”.
Por sua vez, agradeceu a generosidade até agora recebida em prol do Seminário a ser construído, mas ressaltou, de maneira especial, o grande apoio da Prefeitura Municipal, através da pessoa do seu dinâmico Prefeito Arsênio Rolim Araruna e da benemérita Câmara de Vereadores, tendo como Presidente o Sr. José Bonifácio de Moura, pela doação de um terreno de nove (09) hectares, com sua escritura devidamente registrada no Cartório do Registro de móveis, deste Município, no qual foi construído o Seminário.
Em seguida, convidou, D. Antônio Campelo, Bispo Auxiliar de Cuiabá, para usar da palavra, conclamando toda a Diocese de Cajazeiras cerrar fileiras, ardorosas e generosamente, na grande cruzada pela causa da construção e funcionamento do Seminário.
Dom Campelo, conhecedor profundo da fé e da generosidade do povo sertanejo, concitou os católicos da Diocese a prestarem o mais decisivo e irrestrito apoio ao empreendimento da criação do Seminário, obra fundamental e anseio ardente do coração de seu grande Pastor D. Mousinho.
Procedeu-se, finalmente, o lançamento da pedra fundamental que foi colocada dentro de um tubo metálico “juntamente com objetos da época, quais sejam Moeda do Brasil e uma do Estado do Vaticano, jornais, etc.”.
O Sr. Bispo depositou o invólucro em um receptáculo especialmente preparado, selando-se com cimento que os guardará à posteridade. Tudo foi depositado e acompanhado de um original da Ata da solenidade, escrita pelo Padre Américo Sérgio Maia, Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade e Cura da Sé.
Convém notar que antes de ser depositado o original da referida Ata, no aludido receptáculo, foi extraída da mesma uma cópia, naquele momento, como perpétua memória daquela ocorrência verdadeiramente histórica.
Cumpre-me, ademais, registrar que assinaram aquela ata, após sua leitura e aprovação, os Exmos. Srs. Bispos, sacerdotes e autoridades presentes, a saber: D. Luís do Amaral Mousinho, D. Anselmo Pietrulla, D. Antônio Campelo, Arsênio Rolim Araruna, Prefeito Municipal; Dr. Antônio do Couto Cartaxo, Juiz de Direito da Comarca de Cajazeiras; José Bonifácio de Moura, Presidente da Câmara Municipal; Mons. Abdon Pereira, Padre Osias Teixeira Leite - SDB, Padre Zacarias Rolim de Moura, Padre Oriel Antônio Fernandes, Padre Mário Balbi - SDB, Padre Luís Laires da Nóbrega e Padre Américo Maia.
No dia 30 de janeiro do ano de 1955, dia inesquecível e histórico para toda a Diocese de Cajazeiras, foi inaugurado, solenemente, o Seminário Nossa Senhora da Assunção.
Cajazeiras desperta alegre e feliz, pelas quatro horas da manhã com uma alvorada festiva. Ouve-se o troar de bombas. Escuta-se a execução de melodiosos dobrados da Banda de Música Municipal a desfilar pelas principais artérias da Cidade.
Prosseguindo a programação desta data inaugural, às cinco horas da manhã, D. Zacarias Rolim de Moura celebrou Solene Pontificai, na antiga Catedral de Nossa Senhora da Piedade, atual Matriz de Nossa Senhora de Fátima, em ação de graças pelo feliz evento da conclusão dos trabalhos da construção do Seminário Diocesano, cuja inauguração, naquele dia, se efetivava solenemente. Ao Evangelho, fez um belo sermão o Côn. Manoel Vieira, Diretor do Ginásio Diocesano de Patos, ressaltando o altíssimo significado da inauguração do Seminário, para a formação dos futuros sacerdotes da Diocese de Cajazeiras.
Assistiram à Solene Missa Pontifical os Srs. Bispos: D, Luís do Amaral Mousinho, D. Aureliano Matos, D. Manoel Pereira da Costa, o clero, religiosas, autoridades locais, seminaristas, representações das paróquias e o povo católico em geral.
Chegando a Procissão ao Seminário, procedeu-se imediatamente à inauguração. Fizeram-se ouvir quatro oradores: D. Zacarias Rolim de Moura, D. Luís do Amaral Mousinho, Côn. Manoel Vieira e Mons. Abdon Pereira, os quais extravasaram seu contentamento com a indivisível vitória da Diocese de Cajazeiras que, após uma batalha de grandes e incontáveis sacrifícios, nesta data marcante e jamais esquecida, inaugurava o majestoso edifício do Seminário Diocesano, mercê de Deus e das bênçãos de Nossa Senhora da Assunção.
Proferidos os discursos, é chegado o momento do corte da fita simbólica de inauguração. A fita deveria ser cortada pelo Côn. Manoel Vieira, honra que lhe coubera por ser Diretor do Ginásio Diocesano de Patos, que mais contribuíra na Campanha Mariana, em favor do Seminário. Entretanto, o Revmo. Côn. Manoel Vieira declinou da honra para o Exmo. Sr. D. Luís do Amaral Mousinho, uma vez que ele, quando Bispo de Cajazeiras, tinha lançado a Pedra Fundamental do bonito edifício que ora se inaugurava.
Organizou-se uma triunfal procissão com a imagem de Nossa Senhora da Assunção, Padroeira do Seminário, partindo do Palácio Episcopal, em piedosa e festiva caminhada, para o Seminário.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Vladimir de Carvalho, Cajazeiras e o espírito da cultura
Cajazeiras
fez com Vladimir de Carvalho o que deveria ser regra para o reconhecimento de
grandes talentos ou seres humanos excepcionais: a homenagem em vida. Na década
de 1970, um bando de jovens ousados e sonhadores fundou o Cine Clube Vladimir
de Carvalho, então presidido pelo jornalista Nonato Guedes, com o objetivo de
discutir cinema e ser mais trincheira de combate à ditadura militar.
Certa
noite, estava na Toca, barzinho na Tenente Sabino montado pelo ator Sávio Rolim
e família, numa tentativa de volta às origens, quando apareceu alguém da Fafic
(Faculdade de Filosofia Ciências e Letras) informando que havia dois homens
procurando por pessoas do Cine Clube de Vladimir de Carvalho. Fui lá e, para
surpresa, era o próprio, acompanhado pelo irmão Walter Carvalho, fotógrafo e
posteriormente diretor de cinema.
Vladimir
queria conhecer as pessoas que faziam o cine clube com seu nome, mas também
fazer tomadas para o documentário O Homem de Areia, que à época tinha o nome
provisório de sem me rir, sem chorar.
Naquela
noite, Vladimir quis voltar ao Barraco do Teteu, barzinho de madeira sem porta,
que não fechava nunca, para onde os boêmios e beberrões de cidade acorriam
durante a madrugada para saborear o famoso caldo de mocotó de Joaquim, e
cenário usado por ele para filmagens de cenas com violeiros cantando para o
País de São Saruê, que estava sob censura e impedido de exibição.
No dia
seguinte, Vladimir e Walter captaram imagens de árvores secas, pássaros,
agricultores arando a terra e um homem montado a cavalo, vestido de azul,
passando distante, representando Zé Américo (O homem de Areia), indo para a
cidade Sousa tomar posse no cargo de Promotor de Justiça.
Depois,
Vladimir de Carvalho voltou a Cajazeiras, em 2000, a convite do deputado Edme
Tavares, para realizar documentário e ministrar seminário por ocasião das
comemorações do bicentenário do padre Rolim (Inácio de Souza Rolim), que deu
forma e asas à cidade, fundando uma escola na primeira metade do século XIX.
Sempre
solícito, consciente do fantástico potencial do interior do Nordeste e
especificamente do Sertão da Paraíba, cenário e ambiente cultural de muitos de
seus documentários, Vladimir Carvalho propagava, sorrindo, a extraordinária
grandeza da humildade.
As
entrevistas vieram depois, em João Pessoa, mas nada se compara com aquelas
cenas em torno do cine clube e das passagens de Vladimir de Carvalho e outros
expoentes da cultura por Cajazeiras, certamente, o que ajudou a dar combustível
ao movimento cultural lá do Sertão, que projetou e ainda projeta grandes
talentos cajazeirenses para brilho no teatro, cinema nacional e na televisão
(Eliezer Rolim, Marcélia Cartaxo, Soia, Nanego, Buda e Bertrand Lira, Tardelli
Lima, Suzy Lopes, entre muitos outros nomes), sem deixar de mencionar o nome do
professor Lúcio Vilar, que foi presidente do Cine Clube Vladimir de Carvalho e
que sustenta anualmente a realização do Fest Aruanda (festival de cinema da
Paraíba).
Essa
ligação de Cajazeiras com Vladimir de Carvalho e vice-versa não se deu por
acaso. Era movida pela força da história e do espírito da cultura. Não se
encerrará.
P.S:
Vale lembrar que o Cine Clube Vladimir de Carvalho também atraiu para
Cajazeiras, para ministração de curso sobre cinema, o grande crítico e
professor Jean-Claude Bernardet.