terça-feira, 15 de abril de 2025

As ruas da cidade viravam paredes expostas com cartazes, fotos e filmes

porCleudimar Ferreira




Na era dos cinemas de ruas, as ruas da cidade de Cajazeiras, se tornaram paredes expostas em cartaz, que parecia projetar para o futuro todo romantismo de uma época, onde o cinema reinava absoluto, não só na produção das suas imagens ilusórias, mágicas, mas também sob o sentimento que essas icônicas estampas fotográficas provocavam na população que iam aos cinemas. Cartazes mostrados nas suas vias de pedras anômalos, eram sinônimos de aglomerações e curiosidades.

Os retratos batidos pelos seus fotógrafos do tempo, são provas que Cajazeiras viveu esse momento com obstinação e paixão. Digo assim, por que vivi esse ciclo e percebia o apego a sétima arte, dos que frequentavam as três salas de exibições da cidade, estrategicamente distribuídas e fixadas no seu espaço geográfico, de acordo com as maiores movimentações e fluxo comun dos seus habitantes

Com a presença tão unânime do seu povo, os espaços de convivência da cidade iam se transformando em pontos de exposições das chamadas tabuletas de cinema. Pontos esses disputados pelos donos dos cinemas, para divulgação dos filmes da semana. Vias públicas a exemplo da Praça João Pessoa e Terminal Rodoviário, por certo era os locais de maior convergência de transeuntes.

A Praça João Pessoa, cuja posição urbana ficava e ainda fica na parte central da cidade, foi nas décadas 50 e 60 o principal entreposto ocupado pelo Cine Éden. Não por imposição do proprietário desse cinema, mas por ser a artéria onde estava instalada essa sala de exibições e ter a maioria dos bares, lanchonetes, danceterias e sorveterias como paradas obrigatórias da juventude cajazeirense dessa época.

Por outro lado, o principal terminal rodoviário da cidade - anexo ao Edifício Antônio Ferreira, era ponto cativo de divulgação dos filmes que seriam exibidos no Cine Teatro Apolo XI, de propriedade da Diocese de Cajazeiras. Para o exibidor do Apolo XI, o local era estratégico, por ser porta de entrada dos visitantes que chegavam e dos filhos da terra que retornava à cidade. 

A ocupação desses espaços públicos com essas carimbadas tabuletas, nos fazia entender como era percebível, sob o ponto de vista financeiro, o interesse de cada proprietário dessas salas. Ou seja, o Cine Éden acreditava na grande fluência de pessoas do centro comercial, por achar que essa concentração tinha um perfil mais popular. Nesse sentido, havia mais possibilidade de ter nas sessões da noite, principalmente as dos finais de semanas, o seu auditório lotado. 

No caso do Cine Apolo XI, havia uma confiança no movimento de embarque e desembarque dos ônibus e dos serviços de hotelaria do Edifício Antônio Ferreira, como fator importante para o aumento de público nas suas sessões diárias. Como esse cinema era um pouco afastado do centro, apostava também no poder aquisitivo da população da parte norte da cidade, onde o cinema estava situado, compreendendo aí os moradores da Barão do Rio Branco e das famílias de classe média da Rua Victor Jurema. 

Na contramão da prática seguida pelos cines Éden e Apolo XI, o Cine Teatro Pax, outro cinema administrado pela diocese, por ser o local de produção de tudo quanto era material de propaganda dos chamados cinemas do bispo, não tinha um ponto externo, específico, para divulgação da sua programação. A chamamento do público a sua sala, se limitava apenas aos cartazes colocados no seu interior ou na parte de fora do moro que quadava o seu adro. 

Como esse cinema estava situado na confluência entre o centro e as regiões sul e sudoeste da cidade, o público frequentador do Cine Pax - na sua maioria da zona sul, era fiel e mais cativo nas suas sessões, independente ou não do filme que estava em cartaz. Sendo quase certeza de auditório cheio. Por conta disso, achava o seu administrador, que as tais tabuletas de rua não eram tão necessárias, por isso, raramente se via esses espaços de propagando do Cine Pax, nas ruas de Cajazeiras. 

As tradicionais tabuletas, bases de madeiras emolduradas, para aberturas dos letreiros indicativos dos filmes que seriam exibidos nos dias da semana, enfeitava a paisagem central da cidade. Vez por outras, a pura abertura desses letreiros era quebrada e, os cinemas, embora esporadicamente, misturava colagem de cartazes coloridos com palavras, numa forma atrativa de atrair o público ao cinema. Mas isso era uma raridade e nem sempre era assim. O que prevalecia mesmo, era os evidentes letreiros estilizados.  

Essas famosas tabuletas, tão comum no espaço urbano da Cajazeiras do passado, simbolizava a melhor solução, em termo de propaganda, que os cinemas da cidade tinham para divulgar seus filmes. Elas eram um atrativo a mais no meio dos merchandisings que o comércio produzia para divulgar e vender. Muito mais do que simplesmente tabuletas publicitarias, elas eram também, objetos que compondo a paisagem urbana, serviram para testemunhar um passado, quando esses cinemas reinavam absolutos na vida dos cajazeirenses. 


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