Cajazeiras
fez com Vladimir de Carvalho o que deveria ser regra para o reconhecimento de
grandes talentos ou seres humanos excepcionais: a homenagem em vida. Na década
de 1970, um bando de jovens ousados e sonhadores fundou o Cine Clube Vladimir
de Carvalho, então presidido pelo jornalista Nonato Guedes, com o objetivo de
discutir cinema e ser mais trincheira de combate à ditadura militar.
Certa
noite, estava na Toca, barzinho na Tenente Sabino montado pelo ator Sávio Rolim
e família, numa tentativa de volta às origens, quando apareceu alguém da Fafic
(Faculdade de Filosofia Ciências e Letras) informando que havia dois homens
procurando por pessoas do Cine Clube de Vladimir de Carvalho. Fui lá e, para
surpresa, era o próprio, acompanhado pelo irmão Walter Carvalho, fotógrafo e
posteriormente diretor de cinema.
Vladimir
queria conhecer as pessoas que faziam o cine clube com seu nome, mas também
fazer tomadas para o documentário O Homem de Areia, que à época tinha o nome
provisório de sem me rir, sem chorar.
Naquela
noite, Vladimir quis voltar ao Barraco do Teteu, barzinho de madeira sem porta,
que não fechava nunca, para onde os boêmios e beberrões de cidade acorriam
durante a madrugada para saborear o famoso caldo de mocotó de Joaquim, e
cenário usado por ele para filmagens de cenas com violeiros cantando para o
País de São Saruê, que estava sob censura e impedido de exibição.
No dia
seguinte, Vladimir e Walter captaram imagens de árvores secas, pássaros,
agricultores arando a terra e um homem montado a cavalo, vestido de azul,
passando distante, representando Zé Américo (O homem de Areia), indo para a
cidade Sousa tomar posse no cargo de Promotor de Justiça.
Depois,
Vladimir de Carvalho voltou a Cajazeiras, em 2000, a convite do deputado Edme
Tavares, para realizar documentário e ministrar seminário por ocasião das
comemorações do bicentenário do padre Rolim (Inácio de Souza Rolim), que deu
forma e asas à cidade, fundando uma escola na primeira metade do século XIX.
Sempre
solícito, consciente do fantástico potencial do interior do Nordeste e
especificamente do Sertão da Paraíba, cenário e ambiente cultural de muitos de
seus documentários, Vladimir Carvalho propagava, sorrindo, a extraordinária
grandeza da humildade.
As
entrevistas vieram depois, em João Pessoa, mas nada se compara com aquelas
cenas em torno do cine clube e das passagens de Vladimir de Carvalho e outros
expoentes da cultura por Cajazeiras, certamente, o que ajudou a dar combustível
ao movimento cultural lá do Sertão, que projetou e ainda projeta grandes
talentos cajazeirenses para brilho no teatro, cinema nacional e na televisão
(Eliezer Rolim, Marcélia Cartaxo, Soia, Nanego, Buda e Bertrand Lira, Tardelli
Lima, Suzy Lopes, entre muitos outros nomes), sem deixar de mencionar o nome do
professor Lúcio Vilar, que foi presidente do Cine Clube Vladimir de Carvalho e
que sustenta anualmente a realização do Fest Aruanda (festival de cinema da
Paraíba).
Essa
ligação de Cajazeiras com Vladimir de Carvalho e vice-versa não se deu por
acaso. Era movida pela força da história e do espírito da cultura. Não se
encerrará.
P.S:
Vale lembrar que o Cine Clube Vladimir de Carvalho também atraiu para
Cajazeiras, para ministração de curso sobre cinema, o grande crítico e
professor Jean-Claude Bernardet.
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