O sentido de estarmos aqui é
uma questão que escapa a qualquer resposta definitiva. "Aqui" não é
apenas um lugar; é uma condição. É o fato de sermos lançados ao mundo,
existindo no tempo e no espaço, atravessando experiências compartilhadas e individuais.
É o estar no mundo junto com o outro, com a natureza, com o desconhecido. Viver
é construir sentido, mesmo que esse sentido seja transitório e frágil, algo que
criamos no encontro entre as perguntas e os gestos do cotidiano.
Para mim, aniversariar, seja
no dia do nascimento ou no renascimento, é um momento de profundo significado.
Hoje completo 64 anos, mas considero o dia 22 de janeiro tão significativo
quanto: a data em que recebi um transplante de fígado, substituindo um órgão
tomado por um tumor. Foi ali que ganhei uma nova oportunidade, um novo signo
para minha existência. Não que eu tenha mudado meu olhar de maneira absoluta,
mas ele passou a brilhar um pouco mais, estimulado pela gratidão de continuar.
Esse brilho não vem de
otimismo ou pessimismo; é algo mais complexo. Como o niilismo ativo de
Nietzsche, não vejo a vida como desprovida de sentido, mas como um espaço
aberto para construí-lo. Nesse espaço, há temperança, resiliência e a
consciência de que dar sentido é uma tarefa contínua. Se não damos sentido,
como fica a vida? O mundo, afinal, está cheio de significados ocultos, desde as
pedras que sentem e constroem suas histórias até as formigas, que me fazem
refletir sobre como repousam em meio a uma vida organizada e frenética.
Deus, para mim, é a soma de
todas essas possibilidades. Está no humano, na natureza, na capacidade de criar
e recriar significados. Não espero um retorno de Cristo porque, para mim, Ele
nunca partiu. Sua presença está em cada ato de enfrentamento, em cada
oportunidade de viver e dar sentido.
No fundo, viver é um
movimento. Não há um destino fixo, mas um processo. Como as pedras que resistem
ao tempo, como as formigas que constroem juntas, como nós, que buscamos
encontrar pausas e equilíbrio na nossa incessante busca por sentido.
E talvez o sentido maior
esteja na consciência da nossa própria transitoriedade. Comemorar o
transplante, para mim, é celebrar a vida que insiste em acontecer, mesmo diante
da adversidade. É lembrar que viver é estar aqui, agora, partilhando,
perguntando, construindo histórias, deixando marcas.
Estar aqui é, em última
instância, um ato de coragem. É a disposição de olhar para o horizonte sem
respostas definitivas, mas com esperança. É aceitar que o sentido não nos é
dado; é algo que criamos, juntos, no ato de existir.
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