porAlexandre Costa
Ponte sob Rio do Peixe. Trecho do ramal ligando São João do Rio do Peixe a Cajazeiras. Foto: Cleudimar Ferreira
O ano
era 1922, na tarde ensolarada do dia 15 novembro, os cajazeirenses comemoravam
exultantes, a chegada do trem na cidade, mesmo depois de ter ficado de fora do
traçado original da Rede de Viação Cearense (RVC). A rota original, partindo de
Lavras da Mangabeira (CE), prévia contemplar Cajazeiras seguindo
para Sousa, Pombal e Patos, mas foi alterada
deliberadamente para atender e beneficiar diretamente a cidade de Antenor Navarro, hoje São João do Rio do Peixe, terra natal do então deputado estadual
Padre Joaquim Cirilo de Sá.
Os
cajazeirenses não tinham muito a comemorar naquele dia, pois, na verdade,
tratava-se apenas da inauguração de um ramal ferroviário, no fundo, aquilo era
mero cala boca para a cidade e uma tremenda passada de pano do Presidente
Epitácio Pessoa no imobilismo e falta de prestígio dos líderes políticos da
época, os Coronéis Sabino Rolim, Joaquim Matos e Juvêncio Carneiro que depois
de sofrerem uma humilhante rasteira do Padre Sá tiveram que correr atrás do
prejuízo.
Ingerências
políticas para alterar traçados de ferrovias e rodovias eram práticas
recorrentes na época. Padre Cicero priorizou Juazeiro do Norte no traçado
principal da ferrovia deixando a cidade de Barbalha assistida com um simples
ramal. Idêntico caso aconteceu com Iguatu quando o poderoso líder político e
intendente do município coronel Belizário Cícero Alexandrino desrespeitando
critérios de viabilidade técnica e econômica conseguiu alterar a rota original
da ferrovia Baturité-Icó para Baturité-Iguatu, uma intervenção ousada e
determinante que catapultou aquela cidade assumir a hegemonia econômica na
região do centro-sul cearense.
Esses
e outros fatos semelhantes mostrando os impactos socioeconômicos da implantação
de ferrovias no Nordeste são narrados com precisão e riquezas de detalhes no
livro, Ferrovias do Ceará de autoria do empresário e professor
universitário Rubismar Marques Galvão que pela sua importância tornou-se uma
referência e uma fonte segura, para pesquisadores, estudantes e apaixonados
pela história das ferrovias no Brasil.
Mesmo
assistida com um simples ramal ferroviário, Cajazeiras comemorava
com orgulho a sua inclusão na malha ferroviária nordestina vislumbrando que ali
estava o passaporte rumo à hegemonia econômica no Alto Sertão da Paraíba. Ledo
engano. Depois de 42 anos em operação, o ramal ferroviário São João do Rio
Peixe-Cajazeiras foi
sumariamente extinto numa canetada do Governo Militar em 04 de junho de 1964
sob alegação de operação deficitária. A partir deste malogrado fato, a cidade
passaria a conviver uma máxima perversa que nos ronda até os dias de
hoje: Cajazeiras a
cidade do “Já teve”.
A
reação veio rápida com um manifesto de protesto articulado pelo historiador
cajazeirense Otacílio Cartaxo e o vereador Abdiel Rolim. Cartaxo propunha além
de reativar o ramal implantar o trecho de Cajazeiras ao
entroncamento ferroviário de Serra Talhada (PE), mas os altos custos para
implantação desse novo trecho serviram de pretexto para também sepultar a
reativação do ramal. Otacílio pode ter sido estratégico, mas não foi tático,
esse foi o seu grande erro.
Hoje,
há exatos sessenta anos de isolamento ferroviário estamos inertes diante de uma
oportunidade única de nos reintegramos na nova malha ferroviária em implantação
no Nordeste: a ferrovia Transnordestina. Um megaprojeto com 1750 km de trilhos
interligando o Piauí aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). O Rio Grande do
Norte saiu na frente ao anunciar estudos à reativação do antigo trecho
ferroviário Mossoró (RN)-Sousa (PB)
interligando com a Transnordestina no entroncamento de Missão Velha (CE).
E a
Paraíba? Desconheço qualquer projeto ferroviário consistente para interligação
com a Transnordestina.
Não vejo saída, a Paraíba continua condenada a permanecer literalmente fora dos
trilhos.
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Postagem publicada em 06/04/2024, no portal Diário do Sertão / https://www.diariodosertao.com.br/coluna/por-que-cajazeiras-perdeu-sua-ferrovia
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