por Rui Leitão
O
processo de involução cultural na sociedade brasileira tem avançado
aceleradamente nos anos recentes. Estamos “glamourizando” a pobreza intelectual
e valorizando a alienação, a falta de educação e o negacionismo. Não há mais a
compreensão de que a cultura é passaporte para a emancipação de um povo. Não se
estimula o encontro com a inteligência criativa. É perceptível o interesse em
que percamos a consciência de nossa potencialidade. Só há um caminho para a
construção de uma nação, o compromisso do Estado com a educação e a cultura.
Lamentavelmente são explícitas as manifestações que demonstram falta de
entusiasmo com as políticas culturais.
Estamos
ingressando na “era da burrice”. Preponderam as discussões inúteis, agressivas,
desprovidas de conteúdo lógico. Mas o exemplo, infelizmente, vem de cima, ao
vermos lideranças se orgulhando de produzirem asneiras e recebendo o aplauso e
a repetição de suas falas por um público que faz opção pelo fanatismo político.
Neurônios acomodados não contribuem para aumentar a nossa capacidade cognitiva.
Mas é exatamente essa a estratégia que se pretende aplicar, conduzindo-nos a
destinos desastrosos.
Já não
causam escândalos ou perplexidades, declarações públicas de figuras
proeminentes da nossa vida social, com significados preconceituosos, sexistas,
homofóbicos, machistas, anticientíficos. Os ultrarreacionários vêm ganhando
espaço na grande mídia, num esforço de convencimento de suas teses perante a
opinião pública. A apologia da estupidez feita sem o menor constrangimento. A
burrice querendo ganhar status de sabedoria. Os que desprezam a cultura têm fé
em si mesmos, são ousados e militantes., mesmo que se apresentem muitas vezes
com posturas que desconhecem o senso do ridículo.
A
ignorância quando se encastela numa só ideia, procura usufruir de suas próprias
certezas. A fome do “regressismo” é incentivada pelos poderosos de plantão. A
pregação populista da marcha à ré. Luther King dizia que “nada no mundo é mais
perigoso do que a ignorância”. Na base da prepotência e da desinformação adotam
técnicas de manipulação de audiências massivas, com o propósito de alcançarem
seus objetivos políticos. Uma guerra onde se propõe colocar a verdade como
vítima.
Razão e consciência
não convivem com a involução cultural. Os promotores desse processo são
especialistas em propagandear soluções fáceis para problemas complexos. Até
porque não se dão ao trabalho de debater argumentos ou conceitos racionais.
Desprezam os fatos para se pautarem em crenças. Aí temos que considerar que
querem dar praticidade ao que diria o Rei Lear: “são cegos guiados por loucos
rumo ao abismo”.
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