por Francc Neto.
POETA, FILÓSOFO, DESIGNER E ARTISTA PLÁSTICO
Foto tirada da internet: Crédito: Adobe Cultura Shock
São
Paulo, 87. Eu vagava pelas ruas, como quem busca fragmentos de uma história
esquecida. A sensação de abandono não me traz tristeza, mas uma alegria quase
tímida, ao ver o que o tempo deixa para trás. A cidade é minha tela, e a
fotografia, um ato pictórico. O clique não é pesado, não carrega o peso da
realidade que se esvai. Ao contrário, é leve, quase flutuante, como um sopro
silencioso que eterniza a beleza do que é deixado de lado.
Entre
paredes manchadas e janelas sem alma, encontro a poesia do vazio. Como no filme
Paris, Texas, é uma cidade grande, mas não há ninguém por perto. Nem uma alma,
nem um som. Mas para mim, é exatamente ali, na ausência, que encontro a
verdadeira presença. O abandono também é um ato de criação, uma felicidade
quieta, escondida na textura de uma parede envelhecida.
Cada passo é uma
pincelada no invisível. E cada foto é um traço, um fragmento de poesia que não se explica, apenas existe, por si só, como um eco perdido no tempo.
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