segunda-feira, 30 de setembro de 2024

FACHADAS DE SOLIDÃO

por Francc Neto. 
POETA, FILÓSOFO, DESIGNER E ARTISTA PLÁSTICO

Foto tirada da internet: Crédito: Adobe Cultura Shock

Caminhar. Sempre a pé. Nas cidades grandes, onde o concreto se expande e a alma encolhe, eu busco aquilo que a velocidade dos carros não permite ver. Ruas esquecidas, avenidas longas, becos sem saída onde o tempo parece adormecido. Como se eu estivesse pintando com os olhos, encontro na melancolia das fachadas algo que só a cidade em silêncio pode oferecer.

São Paulo, 87. Eu vagava pelas ruas, como quem busca fragmentos de uma história esquecida. A sensação de abandono não me traz tristeza, mas uma alegria quase tímida, ao ver o que o tempo deixa para trás. A cidade é minha tela, e a fotografia, um ato pictórico. O clique não é pesado, não carrega o peso da realidade que se esvai. Ao contrário, é leve, quase flutuante, como um sopro silencioso que eterniza a beleza do que é deixado de lado.

Entre paredes manchadas e janelas sem alma, encontro a poesia do vazio. Como no filme Paris, Texas, é uma cidade grande, mas não há ninguém por perto. Nem uma alma, nem um som. Mas para mim, é exatamente ali, na ausência, que encontro a verdadeira presença. O abandono também é um ato de criação, uma felicidade quieta, escondida na textura de uma parede envelhecida.

Cada passo é uma pincelada no invisível. E cada foto é um traço, um fragmento de poesia que não se explica, apenas existe, por si só, como um eco perdido no tempo.

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domingo, 29 de setembro de 2024

Pax, Apollo XI e Éden: era uma vez uma cidade com três cinemas

por Lenilson Oliveira 
FONTE CZ. POSTAGEM PUBLICADA EM 24 DE JULHO DE 2024 
 


Antiga instalação do Cine Éden, hoje, o local é um supermercado. Foto: Bosco Pinto

Quem hoje tem 30 e poucos anos, talvez nem saiba que Cajazeiras já teve três salas de cinema, que disputavam a preferência dos que não tinham outro programa cultural, sobretudo nos fins de semana.

Os cines Pax e Apollo XI, da Diocese de Cajazeiras, e o Éden, privado, eram as atrações da cidade, trazendo para a terra do Padre Rolim, as “fitas” de Tarzan, o mais famoso da época, e de outros heróis menores, os faroestes de Django e companhia, os melodramas de “Marcelino Pão e Vinho”, “Christiane F., Drogada e Prostituída” e afins, as comédias de “Os Trapalhões”, sem esquecer as pornochanchadas nacionais e os filmes de sexo explícito de Cicciolina e outras beldades que enfeitavam os cartazes do Cine Éden na Praça João Pessoa. Mas o que mais tocava os cajazeirenses era “A Paixão de Cristo”, certeza de casas cheias na Semana Santa.

Tudo isso ficou apenas na memória dos que viveram esse tempo áureo da sétima arte na “terra da cultura”, já que os três cinemas sucumbiram ante a falta de sensibilidade de uma cidade que pouco se importa com perdas tão significativas para a arte, a cultura e o lazer de seu povo.

A história do cinema em Cajazeiras remonta, entretanto, há anos muito antes das suas três grandes salas, quando abnegados improvisavam pequenos projetores e atraiam a meninada.

O desaparecimento dos cinemas em Cajazeiras deixou um vazio que precisa ser preenchido, muito mais agora que a cidade está num crescente desenvolvimento em todos os aspectos. Se não nos mesmos lugares - já que somente o prédio do Cine Pax foi preservado -, em outros espaços.

O Cineteatro Apollo XI, imponente, teve sua estrutura comprometida desde o episódio da bomba, nos anos plenos da Ditadura Militar, terminando por ser desativado e reformado, ao passo que o Cine Éden, no então coração da cidade, a Praça João Pessoa, deixou de vender magia e ilusões para vender arroz e farinha.

Talvez, esta fosse a hora de se pensar no resgate de, pelo menos, uma sala de cinema para uma cidade que já tem inúmeros trabalhos registrados na sétima arte, seja com cajazeirenses no elenco, na direção ou na produção.

Sonhar é preciso.

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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O Festival Regional da Canção no Sertão e as lembranças de Luizinho Barbosa

 por Cleudimar Ferreira

O Festival Regional da Canção no Sertão, que era realizado em Cajazeiras, com maior regularidade, nos idos anos 70 e 80, foi um evento musical que atraia para nossa cidade jovens músicos-compositores de todo interior do Nordeste, representados pela suprema participação dos vizinhos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Um festival que já tinha se popularizado; por força da sua trajetória, havia se tornado em um acontecimento fundamental, imprescindível no calendário cultura de Cajazeiras.  

Mas como tudo nessa vida é efêmero e, quando se trata de um acontecimento cultural, mais passageiro acaba sendo, já que cultura nunca foi para as instituições públicas, o prato principal da mesa do povo; o festival aos poucos foi apagando a sua luz e, hoje sua existência, se resume as poucas lembranças registradas na memória dos que de certa forma, estiveram envolvidos com a euforia que o esse encontro musical proporcionava a todos.

Infelizmente, uma pena para todos nós, amantes da cultura e da arte. Para cidade de Cajazeiras, uma perca irreparável; inconcebível, quando abrimos as nossas bocas e cheias de orgulho dizemos que Cajazeiras é a terra da cultura. De fato, ainda é! Mas aos poucos, as suas mais autênticas manifestações culturais, protagonizadas por seguidos eventos artísticos como foi o festival da canção, estão caminhando para supressão.

Uma ironia! Logo agora que temos em moda todo tipo de incentivo à produção cultural. É lei essa, é lei dessa, daquela, daquilo e, diferente do que foi no passado, que não tínhamos nada; desse nada tirávamos toda a energia e força necessária para realizar grandes projetos, como por exemplo, Festival de Teatro Rápido; Sertanejo de Artes Cênicas; Festival de Poesia de Cajazeiras; Salão Oficial da Arte Contemporânea do Sertão e o destacado de todos, o nosso inesquecível Festival da Canção, que foi referência para a Paraíba e o resto do Nordeste.

Portanto, nada desses eventos temos mais. O certo é, que o nosso festival de música ficou e, parece que não voltará jamais, pois o contexto em que vivemos, apresenta um cenário desfavorável a sua submersão e, mesmo que volte, o ambiente presente desqualificará as suas cores e trará outro brilho, já que a musicalidade do tempo em que vivemos, os ritmos em moda com seus aparatos eletrônicos, não abriria espaços para o romantismo questionador e poético que tanto enriqueceu a produção musical dos anos 60, 70 e 80.

Com tudo, o que restou e ficou do Festival Regional da Canção no Sertão, se resumo em sonhos, lembranças, saudades e experiências vividas, como essa contada em carta aos integrantes do Núcleo de Extensão Cultural de Cajazeiras (NEC), por Luizinho Barbosa, cantor, músico, compositor e ativista cultural de Pombal, que sempre era umas das cadeiras cativas do festival.


CARTA - CONVITE A CAJAZEIRAS
SHOW MUSICAL
LUIZINHO BARBOSA - PRIMAZIA
DIA 21 DE JUNHO DE 2012, 21:00H, NÚCLEO DE EXTENSÃO CULTURAL UFCG - CAMPUS V - CAJAZEIRAS - PB.

Caríssimos Companheiros,

No ano de 1979 tive a oportunidade de participar da Caravana Piollin, nas cidades de Pombal, Sousa e Cajazeiras; neste período acontecia a Semana Universitária, promovida pela Associação Universitária de Cajazeiras (AUC). Na oportunidade consegui fazer a minha inscrição no Festival de Música o que muito significou para a minha vida artística. Naquele momento, interpretei a música “Viola Serena Voz”, ao lado de Fuba (violão) e Teinha Formiga (Clarinete), sendo o apresentador, Zeilto Trajano.

O referido Festival foi bastante concorrido, com a participação de nomes influentes na região, a exemplo de Otacílio Trajano, Luís Alves, Joaquim Alencar, Grupo Ferradura (Catolé do Rocha), Raízes Novas (Sousa), o Grupo Nó - Cego (Pombal) e Circuito Universitário (Pombal). Classificado para a final daquele evento; na manhã seguinte fui comemorar com os meninos e amigos da Rua Higino Pires Rolim e, logo uma boa notícia foi veiculada em uma das rádios de Cajazeiras, a divulgação dos aprovados no vestibular.

Ouvimos o resultado em um radinho de pilha na residência de Eliezer a citação do meu nome para o curso de letras, gerou muita alegria, a vibração dos meninos do Grupo de Teatro Terra, formado por Eliezer, Marcélia Cartaxo, Naldinho, Nanego, Lincoln, Pitoco, Doda, Suely, entre outros e outras, movimentou aquela Rua que hoje guardo bem dentro do coração. Assim, começou o meu vínculo artístico e educacional com a cidade de Cajazeiras, que muito admiro e tenho carinho pelo ciclo de amizade e companheirismo.

Na sequência das minhas ações, participei de muitos outros Festivais na terra de Pe. Rolim; já universitário e fundador do RCT de Pombal, plantei a primeira semente, quando me dirigi ao Rotary de Cajazeiras e propus a fundação do Rotaract de Cajazeiras.

Caríssimos companheiros e amigos, no próximo dia 21 de junho, às 21:00 horas estaremos juntos no Teatro do NEC para o meu show musical denominado Luizinho Barbosa - Primazia e lançamento do CD. Confiante na importância do meu reencontro artístico com a cidade que proporcionou grandes momentos para a minha carreira profissional, antecipo os meus sinceros agradecimentos, contando com a presença dos artistas, amigos e companheiros.

Rotarianamente, até mais e um abraço a todos.

Luizinho Barbosa

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imagens: LUIZINHO BARBOSA (acervo/Facebook) https://www.facebook.com/luiz.barbosaneto.1
destaque: A foto principal que ilustra essa postagem, foi destaque da capa do Compacto Duplo gravado por Luizinho, em 1995.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

CAIXA DE SENTIMENTOS

 por Belarmino Mariano

Imagem meramente ilustrativa retirada da internet (das redes sociais)


Juro que não sei o que dizer, mas sinto que a vida não é um parque temático e, nem sempre temos as escolhas que pensamos ter. Não são culpas, apenas incertezas e inseguranças.

Não sou romântico, sou até meio grosso e insensível, mas amo o amor e, como na montanha Russa, sinto um puta frio na barriga.

Às vezes saltamos no desconhecido mundo dos cristais, enquanto espumas rodopiam no ar. Na beira do precipício, vejo um Canyon profundo e mergulhar é preciso.

A vida não é o que você vê, não são os lugares e nem as coisas com as quais você consegue interagir. São as pessoas e o que você sente nas relações, emoções ou sentimentos. A vida é imprevisível e não estamos no controle de nada.

As palavras não são nada, diante da jornada imprevisível em que tudo se transforma, uma atmosfera invisível e utópica. As palavras escondem verdades, encobrem comportamentos e criam couraças do ser.

As palavras magoam e chateiam a gente. Nossos corpos aprendem com a dor, pois nem tudo é sensação de amor incondicional. Esse é o incrível mundo das incertezas e não vivemos em nenhum outro lugar.

Às vezes a gente até imagina como seria a nossa vida se não fosse como é. A vida é bizarra e estranha, mas é a nossa vida.

Amor e drama, conexões astrais, abstrações e entregas. Paz, calma e parceria de cumplicidades. Às vezes nos sentimos personagens de histórias incríveis, mas nunca realizáveis.

Às vezes nos sentimos em um paraíso perfeito, apenas aproveitando as grandes paisagens paradisíacas como em um sonho perfeito.

Às vezes são emoções demais, em um turbilhão de possibilidades. Neuroses múltiplas, corações mutilados e profundas estranhezas impactadas pela escuridão do fundo do poço.

Padrões em construção, estalos de ondas se quebrando contra os penhascos, lodo e lama se espalham em todas as direções. O fino material do fundo das águas como a pele se desfazendo em camadas invisíveis.

A solidão não é uma coisa sólida, a realidade é uma utopia espetacular, a morte é um momento solitário e único, mas a energia flui constantemente.

A questão é, a realidade parece uma fogueira de pedras, alimentada por troncos e galhos de matéria seca. São nossos maiores medos, o que não se explica, as nossas inseguranças da morte não descobrimos nada.

Não sei se existe uma lei da vida, mas sou apaixonado pelo caos e pela incerteza, por isso gosto de ideias livres e leves, mesmo que a leveza pese, pois a felicidade implica em cumplicidade.

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fonte: Rede Social (Facebook) do autor Belarmino Mariano. https://www.facebook.com/photo?fbid=8731303356881306&set=a.854962007848853