sábado, 3 de agosto de 2024

Hildebrando Assis: A cultura, a arte e o teatro em Cajazeiras.

por Cleudimar Ferreira

Retrato de Hildebrando Assis. Arte Cleudimar Ferreira


O fazer teatral em Cajazeiras, tem dado o que falar depois da efêmera e transitória ascensão da atividade amadora para o profissionalismo. Isso não é fake, mas um fato que vem ocorrendo com o tempo e com os últimos impulsos positivos dessa atividade em nossa cidade, o qual projetou partes de seus atores para o estrelato nacional. Porém, é imperativo lembrar, que a latente pulsação provocativa desse bom momento, sempre foi uma constante nos seus segmentos artísticos, sejam eles com visibilidade no presente ou passado.
 
Por conta disso, a cidade viu surgir nomes que a partir dos seus esforços, se transformaram em verdadeiras emblemas representativas da arte cajazeirense. Faça-se em que atividade artística fosse, esses nomes estiveram à frente, desenvolvendo suas práticas sensitivas ligadas as artes, principalmente a de maior popularidade e volume produtivo, a linguagem cênica.
 
O gosto do nosso povo por cultura; a sensibilidade que trazemos por convicção; a atração que provocamos naqueles que nos visitam e, por afinidade, ficaram em nosso espaço de convivência, tem transformado Cajazeiras num celeiro cultural, com destaque na produção artística e suas linguagens, com ênfase as artes cênicas e seus múltiplos gêneros.
 
Nessa afeição atemporal, evidenciaram em momentos remotos, nomes históricos como os de Íracles Brocos Pires, Lacy Nogueira, Eliezer Rolim e Hildebrando Assis. Todos in memoriam, mas que deixaram um legado de positividade, ao lançarem na dramaturgia cajazeirense, uma transitoriedade que tem se confirmado na passagem do teatro clássico de Hildebrando Assis e Íracles, para o moderno de Ubiratan di Assis ou o contemporâneo de Eliezer Rolim. 

Por esse intervalo, o nome de Hildebrando Assis, embora não muito percussivo, aparece com mais força, e não é uma surpresa. Não apenas pelo modelo de encenação que abraçou e colocou em prática no seu tempo, mas por sua história de envolvimento com as artes e pelo comprometimento com a política cultural em Cajazeiras. 
 
Diz a oralidade cajazeirense e os escritos publicados sobre Hildebrando Assis, que ele veio antes de Íracles Pires e, foi o responsável pela formação do TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras. Diz também as bocas mais remota evolvidas com a prática teatral na cidade, que Hildebrando, passou a marca TAC para Íracles. Que conduziu a direção do movimento cênica no município, numa época - a década de 50, onde tudo era mais difícil nessa área.
 
Provavelmente os costumes sociais desse tempo eram desfavoráveis a prática teatral. Preconceitos, faltas de espaços e palcos adequados; carência de recursos financeiros e o fator amadorismo, que influenciava bastante no resultado da performance técnico das montagens das peças, se constituía como os principais entraves a produção das artes cênicas.
 
Mesmo não sendo um cajazeirense da gema - mas natural de São José de Piranhas, Hildebrando Assis foi acima de tudo, um defensor obstinado das demandas culturais de Cajazeiras e da região sertaneja paraibana. Sua paixão, especificamente por essa linguagem da arte, o fez se tornar na sua época um dos maiores teatrólogos em evidência, tanto quanto foi Íracles Pires e os que vieram depois, como foi os casos de Geraldo Ludgero, 
Ubiratan di Assis e Tarcísio Siqueira.
 
Nessa seara ele adaptou e escreveu textos, dirigiu e produziu espetáculos e, como ator, protagonizou e atuou com desenvoltura em montagens produzidas pelo TAC. Esse protagonismo o credenciou a se tornar nos anos 60 e 70, em uma das principais vozes da luta em prol da construção de um teatro na cidade. Defendia que as artes cênicas, precisava ter seu espaço próprio, para que os artistas dessa linguagem, não dependesse das cidades circunvizinhas para fazer ou expor suas atividades dramáticas. Uma demanda reivindicada em seguida, nos anos 80, por elencos de grupos isolados, com destaque os grupos Grutac, Terra e Boiada.       
 
Pelo que fez, não é cesurado dizer que Hildebrando foi uma amante da linguagem e dos sinais. Tinha uma vocação por natureza, a de atuar nesse universo das letras e artes. Por essas demandas ele percorreu com inteligência e colheu considerada bagagem intelectual e cultural. Com a construção do Cine Teatro Éden em 1953, viu surgir, mesmo com limitações, a primeira sala para apresentações teatrais 
em Cajazeiras, onde no pequeno e estreito palco desse cinema, apresentou e inaugurou o novo espaço com a peça “O Homem Que Fica” de sua autoria e direção. Para ele, um sonho realizado.  
 
Na sua biografia, consta ainda os feitos de ter sido prefeito de Cajazeiras, deputado estadual na Assembleia Legislativa da Paraíba, diretor do setor de arte da Universidade Federal da Paraíba, diretor de área jurídica da extinta SAELPA e presidente da antiga Fundação Cultural da Paraíba - FUNCEP. Hildebrando Assis, nasceu em 1920 e faleceu em 22 de outubro de 2003.

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