por Cleudimar Ferreira
Capa/catálogo da exposição em agosto/1984. Acervo: Cleudimar Ferreira
No início dos anos oitenta, a arte brasileira, ainda saindo do
estado de anestesia, procurava novos rumos. Um efeito provocado pela
perseguição de uma estética, onde a expressão "inartístico" do carimbo, dos
postais, heliógrafos, vídeo e fax, formaram quase na sua totalidade os
elementos mais vistos nas galerias de artes dos subsequentes anos setenta.
Um impacto visual que começou a perder força para o pós-modernismo, que avançou
rápido sobre as massas, inaugurando um novo estilo de vida permeado basicamente,
pelo espírito consumista, hedonista e narcisista, de característica
extremamente individualista.
Com essa apoteótica febre do pós-moderno, na Paraíba, o NAC - Núcleo de Arte
Contemporânea, ligado a UFPB, despontava nos primórdios anos oitenta, como
promotor de grandes exposições e oficinas de artes desse gênero em João Pessoa
e estendidas também para o interior do Estado, nos centros com maior
engajamento artístico, como foi o caso de Campina Grande e a cidade de Areia,
através da realização do seu Festival de Arte.
Foi também nesse período que a Paraíba viu nascer, em 1983, a Fundação Espaço
Cultural José Lins do Rego, que passaria a ser o principal órgão realizador de
intensivos eventos culturais de proporções maiores - como referência; o
Workshop Brasil-Alemanha, em 1991 e a gigantesca mostra de arte expressionista
alemã, em 1992.
Em Cajazeiras, nos indecisos primeiros anos oitenta, foi instalado no campus V
da UFPB, o Núcleo de Extensão Cultural - NEC, que passou a ter um caráter
respondível na direção de quase todos os acontecimentos culturais de nossa
cidade. Sob sua tutela, a sociedade cajazeirense viu surgimento em 1981, do
primeiro intercâmbio de arte entre duas cidades - Cajazeiras e Campina Grande;
viu também entre os anos de 1980 a 1983, a realização de sucessivas coletivas
de artes plásticas na Biblioteca Pública Municipal.
Se os acontecimentos acima, reforça a tese dos antecedentes da pintura, que
remontaram ao dadaísmo e ao pensamento de Marcel Duchamp, por serem ambos
referência discriminatória a pintura, por ela representar o “bom gosto” da
burguesia, O pós-moderno também sofreu suas modificações e passou a ter
características marcantes, trazendo consigo traços de desmobilização e
despolitização, se valendo de uso de materiais até então não convencionais a
arte, como os descartáveis - no agora, protagonizados de recicláveis e passivos
de serem aproveitados como objeto para a criação artística.
“Isso, porque já não se concebe uma limitação de só se expor obras em óleo,
quando a arte brasileira anda cheia de alternativas e novas tendências de
impacto visual e temático, que só evidenciam o seu potencial” afirmou,
em 1984, a Artistas Plástica Telma Cartaxo, para justificar a
realização da primeira exposição de Artes Descartáveis de Cajazeiras.
A exposição, como bem frisou Telma Cartaxo, se tornou naquele ano, em 1984, em
um dos maiores eventos culturais do sertão e em especial de Cajazeiras,
facultando a população a oportunidade de ver não os elementos da pintura
propriamente dita, como a tela, as cores, os traços e linhas, mas observar um
conteúdo composto de objetos e instalações, confeccionados a partir de papelão,
linhas, madeiras, estopas e outros materiais geralmente descartáveis pelo
comércio e a população cajazeirense. Foi algo inusitado para uma sociedade
acostumada com a visão acadêmica que a pintura ainda revelava nas exposições
anteriores, patrocinadas pelo setor de artes visuais do NEC.
Participaram da Exposição os artistas Gregório Guimarães, Marcos Túlio,
Francisco Oliveira, Ricardo Figueiredo, Cleudimar Ferreira, Aldacira Pereira,
Telma Rolim Cartaxo e Marcus Pê. A referida exposição foi realizada entre os
dias 04 e 22 de agosto, na Biblioteca Pública Castro Pinto e teve o apoio da
AUC - Associação Universitária de Cajazeiras, Funarte e Secretaria de Educação
e Cultura do Estado.
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