por Cleudimar Ferreira
Quando
começou a ser publicadas na internet as primeiras informações sobre a
vida social em Cajazeiras, no passado, vieram com elas um baú de imagens desfiguradas,
amareladas, envelhecidas, porém significativas, carregadas de história e de fatos marcantes sobre
diversos assuntos ligados à nossa cidade e as pessoas que nela vive e viveu.
Nesta
imagem acima, de um periódico bimestral - “O Observador”, que por sinal é de uma página inteira, em breve circulação em Cajazeiras entre os anos 1955-56, podemos ver que os conteúdos impressos nas suas folhas desse informativo, pareceu ser revessado entre as informações políticas, passando por notas sociais, assuntos sobre a educação, terminando com generosas referências a arte e seus produtores
- no caso mais específico os artistas. tal como a folha em anexo mostra.
Particularmente nessa página de “O Observador” - jornal criado por José Pereira de Souza, revela que o comunicativo, que embora tenha circulado na década de 50, numa cidade de
interior; apresentava uma boa diagramação e obviamente, um visual bem-organizado. Ou seja, de
boa aparência gráfica, para uma época em que as gráficas do interior, nesse
caso as de Cajazeiras, os recursos de impressão mais modernos que havia era os
tipos gráficos e, em se tratando de recursos mais avançados, por exemplo o offset, apenas as gráficas dos grandes centros,
com restrições, era possível ter.
A
página de “O Observador”, ocreada pelo tempo, doado por Francisco Sales Cartaxo a Eduardo
Pereira - filho do editor desse antigo jornal cajazeirense, consta uma matéria (em
destaque) com o título “A Arte e o Artista”, cujo texto ofuscado pelos anos de arquivo, é de difícil leitura. Escrito que venho tentando decifrar o seu teor há um bom tempo, mas sem sucesso. Entretanto, depois de várias tentativas de traduzir o que nela está escrito, essa semana, finalmente, consegui ler com maior contundência e reescrever mais de 90% do seu conteúdo.
Pode parecer ingenuidade minha, mas o meu interesse em saber o que a autor do texto na década de 50, escreveu sobre a atividade artística e a arte; está interligado com o meu interesse e preferência por assuntos ligados a arte e cultura. Nesse caso aqui, sobretudo o artigo “A Arte e o Artista” (destacado na imagem que ilustra essa postagem), a
curiosidade era ler o que o jornalista, em janeiro de 1956, argumentou sobre a produção
artística em Cajazeiras.
Registros
indicam que entre as décadas de 1950 e 1960, a efervescência cultural da
cidade, polarizava no intensivo movimento das artes cênicas, com surgimentos de
fato, dos primeiros grupos de teatro amador, guiados pelo TAC - Teatro de
Amadores de Cajazeiras, fundado em 1953, por Hildebrando Assis e seguido por Íracles Brocos Pires. Mas e as artes visuais, a dança e a músicas, como se
comportou a produção dessas outras linguagens da arte nessas décadas?
Portanto,
será que o artigo “A Arte e o Artista”, em anexo na página acima do jornal “O Observador”
dizia alguma coisa? Quem tem interesse por
arte, como eu, acho que queria saber. Sendo assim, veja a seguir o que como muito esforço eu consegui transcrever, do ilegível texto que a imagem digitalizada, desfocada, que esse arquivo de “O Observador” apresenta.
A ARTE E O ARTISTA
Em sua concepção, sensu latos,
dir-se-ia que a arte enquanto engenho é o próprio homem, sabendo-se, que a produz a faculdade
de manifestação do espírito.
O certo é que, expressão
peculiar e espontânea das tendências, deixaria de ser arte o que se poderia
definir de travesti das vocações em si.
Ademais, restringir o sentido
realmente da arte ao simples conceito do belo, seria o mesmo que limitar o
homem a uma astuta escapatória de absurda alternativa. ser ou não ser racional com efeito, sem o uso da razão, o homem não seria
homem e a arte não existiria. Logo, “to be, or not to be” não tem no caso uma
aplicação aceitável, ou nem faz sentido de base com o conceito de homem-arte.
Não tirar, pois a suprema criatura da natureza transformista: a
sua propriedade, a sua qualidade, o uso direito, o seu dever e predicados mais
que por si só possam definir, não apenas como fator estrutural, mas como
faculdade superadora, em limites de plena ou de fundo.
O convencionalismo da arte,
convenhamos, não encontra fronteiras. E as lacrimações específicas do artista estão a esbarrar
em manancial tão imensuravel quando as ramificações esquemáticas de toda sorte e ordem da atividade do homem.
Daí por que, onde quer que se
encontre um ente humano, seja entre as asas de um Douglas a cortar o firmamento, seja na superfície das águas e da terra, ou do fundo dos oceanos; onde
quer que se o encontre, aí haverá sempre a palpitar a alma enigmática de um
artista, a esculpir ou a bordar a natureza em toda a sua extensão.
Ignorantes os peritos, rudes
ou delicados, os artistas são sempre iguais na essência da própria
desigualdade, como nas fácies que se esboça na imaginativa do cinzelador da
natureza - o homem semideus.
O conceito de homem-arte, em
suma, universalizar se em obstáculos de discrepância na ação individual. Por
isto que, muitas vezes, influências estranhas adulteram facilmente as
variedades concepções do artista, dando lugar a incoerências concorrentes; deformação da tela, claudicação do seu criador. O medíocre, neste particular,
chega mesmo a perder a independência de ação e alta concepção, transformando-se
em típico fantoche, (em paralelo ao quadro real da vida) quando servil a
intrusões useiras e vezeira.
Simples aplicação inexperiente
e prejudicial (e até preventiva) da tinta errada. Mas a fórmula, fica com o
tempo que sempre se encarrega da devida colocação dos pontos nos “is”. E
recomposição da verdadeira tela.
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