por Cleudimar Ferreira
A frase “tudo como dantes, no quartel Abrantes” parece fazer sentido quando assunto em discussão é o Xamegão de Cajazeiras. Criado para ser o principal evento cultural e turístico da cidade, o Xamegão - festa popular de São João aberta ao público em geral, era programado para ser realizado durante todo mês de junho. Portanto, acontecia durante os trinta dias junino. Assim como são o Maior São João do Mundo, em Campina Grande e São João de Caruaru, Pernambuco.
As primeiras versões, foram verdadeiras
apoteoses no alto sertão paraibano. Lembro que o espaço construído pela
prefeitura para a realização do evento, cada ano foi ficando pequeno e, até
questionamentos, passaram a ser feitos pela imprensa da cidade, onde os
comentários mais calorosos era a urgência sobre possíveis transferências da
praça de eventos, para outro local maior que pudesse alojar a grande massa humana e a festa com
toda sua estrutura logística.
De lá para cá, o poder público municipal,
responsável direto pela realização do evento, foi aos poucos lapidando,
encolhendo, tirando o brilho da festa, ou seja, afastando o público do Xamegão
e com isso enfraquecendo a economia da cidade durante o período junino. Para
uma cidade onde população alvissareira e festiva, não dispensa, por hipótese
nenhuma, as festividades do mês junino, a desconstrução do Xamegão, marcado
seguidamente por gestões inoperantes no campo cultural e turístico no município
de Cajazeiras, é como se um breu ilutado maculasse avulso, a sua cultura e as
suas tradições populares.
Para se ter uma ideia, as últimas edições, antes
e depois da pandemia, sob a tutela do administrador municipal José Aldemir,
praticamente não existiram ou não existiu. O ofuscamento do Xamegão até aqui,
foi reconhecido tanto pela diminuição dos dias, como também pela qualidade das
atrações nos shows, bem como pela logística no espaço da festa, seguido pela
ornamentação e atrações secundárias ligadas ao período junina, que geralmente
dava um colorido especial ao Xamegão.
Nesse ano de 2024, o Xamegão permanecerá sendo subtraido como dantes esteve nos quarteis dos coronéis quadrilheiros desse período. Basta
ver a programação, para se ter uma ideia. Tirando a prata de casa, formada por
talentosos artistas e forrozeiros, que sem saída submete a tocar por um cachê
inferior aos artistas de fora; prata de casa essa, que realmente dão um show de
interpretações e musicalidades; as atrações regionais e nacionais anunciadas,
apresenta artistas quase em fim de carreira, de cachê baixo e brilho difuso
patrocinado pela indústria cultural, muitos distantes dos holofotes, esquecidos
pela mídia, como é coso dos cantores José Orlando, Beto Barbosa e o lendário
forrozeiro pernambucano, Assisão. Anunciados na programação da festa.
Se esse ano 2024 não fosse um ano político,
talvez o Xamegão fosso riscado do mapa junino mais uma vez, como foi em 2023.
Mas é!.. E o jogo de interesses apresenta um xadrez disputado com unhas e dentes
pelo atual prefeito, que quer a todo custo continuar trafegando pelos
corredores fantasmas da prefeitura, como se o cargo de prefeito fosse um cargo
eterno, e o Xamegão, uma festazinha qualquer que pode ser ou não realizado; que
pode ser mudado ou não de período e, os seus dias de festividades, encolhidos; pois
cultura popular só dá votos em época de eleição.
Entendimento assim precisa ser revisto, pois na
concepção do cantor Gilberto Gil, cultura não é uma coisa extraordinária.
Cultura é ordinária, cultura é igual a feijão com arroz, é necessidade básica,
tem que estar na mesa, tem que estar na cesta básica de todo mundo. Portanto, o Xamegão como
festa popular que congrega cultura popular, não pode ser usado como moeda de troca em ano de eleição. Carece de mais respeito, de maior atenção do poder
público a cada ano. Precisa crescer cada vez mais e não diminuído e
desprestigiado, como pensam aqueles que acha que cultura é um negócio qualquer.
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