CRÔNICA ESCRITA POR DAMIÃO
FERNANDES PARA O DIÁRIO DO SERTÃO EM 25.06.2016
Esmeralda
Bernardo Gomes, é mais um nome desconhecido pela sua existência de quem é ignorada pela sua dignidade de pessoa. Esmeralda Bernardo é uma mulher
silenciada como tantas outras mulheres dessa cidade que sofrem violências
domésticas ou estupros físicos e culturais. Esmeralda, pedra preciosa que é,
ainda não tem pela “terra da cultura” o seu reconhecimento de uma cidadã de
direitos. Essa Jovem é ainda tratada tal qual filha bastarda sem direito à
herança. Tais pessoas semelhantes à Esmeralda, conseguem no máximo serem
tratadas com atração circense ou elevadas ao título de “figuras folclóricas”
quando a pretensão for apenas “fazer rir”. Cajazeiras é uma máquina de
transformar seus sujeitos culturais em personagens de folclore; de transformar
pessoas em vultos históricos.
Por isso, à
Esmeralda é oferecida uma cidadaniazinha de segunda ou de quinta categoria.
Tais cidadãozinhos, somente se tornam pauta de curiosidade coletiva quando são
vítimas de violência física ou simbólica ou ainda quando sofrem a negação de
seus direitos. Portanto, a visibilidade é sempre a partir de um pressuposto
negativo. Pra ficar mais claro: Se a jovem Esmeralda não tivesse sido estuprada
da forma que foi, ela iria continuar no silenciamento cultural que lhe era
peculiar.
Como tantos
outros, a importância de Esmeralda, na sociedade de Cajazeiras é mais como
“figura folclórica” do que como cidadã legítima, visto que é mais fácil
diminuir a pessoa e elevar a arte quando os interesses sobre a rótulo se
sobrepõe ao da pessoa. Cajazeiras, julgando-se “a terra da cultura”, acaba por
tornar as pessoas diferentes por seus talentos em folclóricas, como se fossem
produtos de um tipo de indústria local.
Esmeralda
Bernardo Gomes, foi violentamente estuprada, tendo por consequências do ato, um
prolapso retal, ou seja, teve um extravasamento de parte do intestino para fora
do organismo, pelo ânus. Penetraram o ânus da jovem Esmeralda com objetos
diversos e rudes. Esmeralda Bernardo encontra-se, no momento em que você está
lendo esse texto, numa enfermaria sofrendo as suas dores.
Quem
estuprou Esmeralda? Que mulher ou homem de espírito público veio à mostra e
emitiu uma nota de pesar à sociedade ou à família dela (se ainda ela tem) pelo
ocorrido? A figura folclórica violentada não serve para o entretenimento ou
para alimentar a ideia de que ela é nossa produção cultural, do nosso folclore.
Quem estuprou Esmeralda não foi um ou não foram dois, fomos todos nós. Pois uma
sociedade que não cuida daqueles que mais precisam de cuidado é também
responsável por aquilo que lhe acontece. E a depender do tamanho da omissão,
torna-se réu do mal que lhe sobrevém. Cotidianamente, Esmeralda é estuprada
pela nossa indiferença política, social e exclusão cristã.
A sociedade
de Cajazeiras, comete estrupo em Esmeralda e em tantas outras “esmeraldas”
dessa cidade, quando insiste em tratá-las apenas como nossos produtos culturais
circenses ou nossas “figuras folclóricas” de diversão. Será essa mesma
sociedade patriarcal e machista que reinventará as condições para o estupro ao
promover um tipo cultura como um modo de ser sustentado na violência quando
muitas vezes são culpabiliza das pela dor sofrida. Tal sociedade só pode ser o
resultado de uma cultura que só pode produzir subjetividades aberrantes.
[Esmeralda
Bernardo Gomes, 47 anos - Conhecida folcloricamente como BABALÚ]
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fonte: Diario do Sertão. https://www.diariodosertao.com.br/coluna/quem-estuprou-esmeralda
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