quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Casarão nº 01, da Rua Padre Rolim, em Cajazeiras (PB) e sua história trágica de uma família e abandono.

por Saulo Péricles Brocos Pires Ferreira - Pepé


Casarão de nº1 da Avenida Padre Rolim - Centro. Segundo Pepé, construido por Mãe Aninha

A última casa construída por mãe aninha e que tem um endereço único: rua padre rolim número 01, esquina com a travessa Joaquim bezerra, quase fundos da igreja nossa senhora de Fátima, que de tanto tempo ao abandono, já está caindo seu reboco. Construído por nossa matriarca para servir como uma espécie de Casa Paroquial para os primeiros vigários de nossa Matriz, como Padre José Tomaz, somente para dar um exemplo, foi palco de muitas mais histórias e estórias.

Segundo eu soube desde menino, dos antigos habitantes dessa casa, que eu morava (e moro) nas proximidades, na minha infância, era a bodega (venda) de Seu Zuca Ludgero, onde eu fazia as primeiras compras, brocha, traque uns brinquedos bobos chamados rói-rói, e já sob o comando de Heleno Alves, o Joaquim da Bodega, eu inaugurei minha carreira na confraria dos etílicos, ou seja, tomei lá meu primeiro porre (a cachaça era Serra Grande). Foi o que o pessoal do Pasquim chamava: um porre homérico.

Naquele casarão, moravam, além de Dona Julia - “Mãe Julia”, como a chamava Lucinha, D. Irene, Reginaldo e seus filhos, Lúcia Rolim e seus irmãos, Ronaldo, Lavoisier (Ziê), Lena Guimarães e Leda, que foram nossos primeiros amigos da primeira infância, o irmão mais novo e mais famoso, Dr. Leonardo Rolim, ainda não tinha nascido, pois só veio a nascer quando Reginaldo e D. Irene se mudaram para Araripina (PE).

Existe, ainda, uma história trágica de certa forma ligado a essa casa centenária: lá, residiu uma das pessoas mais inteligentes, que já conheci o Dr. Leonardo Rolim -, filho de D. Julia -, médico, que chegou nos tempos do governo de João Agripino, a atuar nos altos escalões de nosso Estado, se não me falha a memória, era subsecretário de saúde e se envolveu com uma moça, e veio a engravidá-la na Capital. O pai dela, então, foi tomar satisfações e ele de posse de uma arma, atirou e veio a atingir sua namorada grávida, matando mãe e filho, o que naturalmente o deixou arrasado e ele foi para São Paulo onde fez vários cursos, vindo depois a residir, em Cajazeiras, com sua mãe. Foi secretário de Saúde do Município e era um dos maiores médicos, e o melhor dermatologista da região, além de outras especialidades. 

Quando do falecimento de sua mãe e depois a transferência de sua irmã, Têca, para o Crato (CE), numa noite de Natal, esse veio a cometer suicídio naquela casa, numa morte que a gente mais próxima muito sentimos.

Esse vetusto casarão, construído na melhor técnica do norte de Portugal, trazida ao nosso país por nossos ancestrais, tem aquelas cumeeiras altíssimas, que entre outras coisas, serviam para dissipar por entre as enormes telhas de barro, o calor que era gerado no interior de nossas casas, minorando a sensação térmica, que quando se forravam essas casas, elas como que viravam um forno, pois o calor que entra e é gerado por gente, fogões bichos, etc., esbarram no forro e não são dissipados nas telhas. Hoje, se colocam aparelhos de refrigeração. 

Agora, o que vemos é um casarão por onde passa nossa história, que tombado pelo Patrimônio histórico, fica ameaçada de tombar pela lei da gravidade. Em vários pontos, o reboco já está caindo, isso o que a gente vê por fora, internamente, não me é permitido avaliar a condição desse.

Assim e pelo que relatei, na minha opinião, aquele imóvel, tanto pela sua história, como pala sua localização, merece um destino menos funesto do que o que acometeu a casa de Dr. Otacílio Jurema, bem como a casa de Vicente Barreto, que foram tombadas fisicamente e não existem mais. Fica a sugestão para um movimento preservacionista. Seria um local que devia e deve ter outro destino. Se todos nós se unirmos quanto a esse e outros patrimônios, podemos preservá-los e preservando a história, se preserva também a alma da cidade.

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