por
Walter Tavares
as novas gerações nunca ouviram nem falar, mas os campinenses das gerações dos anos 1940/1950, que estão vivos, talvez ainda lembrem ou tenham ouvido falar de uma das personagens de rua mais populares da história passada de Campina Grande, a Rainha Joana. Uma moça loira que viveu e envelheceu dormindo e perambulando pelas ruas centrais da cidade, entre o final dos anos 1930 à década de 1950. Contam os que a conheceram que ela enlouqueceu por conta de uma desilusão amorosa, após apaixonar-se por um rapaz rico e de família tradicional da cidade. Na sua sofrida vida houve um tempo em que jovem e muito bonita chamava a atenção dos rapazes que a cortejavam, entre os quais aquele que viria a ser o amor impossível de toda a sua vida e com o qual acreditou que viria a casar-se. Mas como num folhetim de novela, o rapaz rico abandonou a moça pobre que, extremamente desiludida, passou a viver um pesadelo que lhe trouxe a fraqueza mental. O noivo e o casamento que tanto sonhou lhe tirou o juízo, e a própria família abandonou Joana, que passou a sobreviver de esmolas nas ruas centrais, acreditando ser uma Rainha. Sua bagagem real era uma cesta, onde conduzia um vestido longo usado, uma coberta encardida, um velho par de sapatos gastos, um pente e um vidro de óleo perfumado que usava acariciando os outrora lindos cabelos loiros. Joana, já bem velha, ainda se apresentava como rainha, a Rainha Joana, que ia casar-se com um rei. E como no enredo do genial Joãosinho Trinta, Ratos e Urubus Larguem Minha Fantasia, na vida da Rainha Joana tudo também reluziu, era ouro ou lata, formou-se a grande confusão, qual areia na farofa era o luxo e a pobreza no seu mundo de ilusão... Ela, louca e mendiga, acreditava que suas vestes eram reais, eram mantos de ouro e toda Campina Grande lhe pertencia. Eram suas todas as lojas e edifícios imponentes da época, como o Grande Hotel, a Prefeitura, o Cine Capitólio e os Correios, e as igrejas eram palácios de sua propriedade. Usava uma coroa de cordas e de molambos, e ao amanhecer, depois de dormir a cada noite na calçada de um dos seus palácios era acordada pelos seus súditos, a molecada da cidade que a insultava chamando-a de rainha, que para ela não era insulto e sim uma saudação real. Passava os dias perambulando por uma Campina art déco, cantando as marchinhas carnavalescas dos clubes do seu tempo de jovem: Regador, Cana Verde, Caiadores, Chaleiras, Beija-Flor e Dona Não Grite, promovendo "cerimônias reais" públicas onde condecorava populares com tampinhas de garrafa ou recitando quadrinhas poéticas que recordavam um amor que alimentou por muito tempo e depois morreu, deixando-a ao relento, cheia de amarguras e saudades, abandonada e louca, como nesta foto de 1951, em que ela aparece já bem velha, com sua coroa e seus trajes reais nos degraus da Matriz, pronta para mais um recital: "Quem disser que não chorou, Querendo bem, é mentira, Querendo bem de verdade, Chora, soluça e suspira..."
A louca Joana e as histórias de uma Rainha da Borborema.
"Quem já passou por essa vida e não viveu,
Pode ser mais mas sabe menos do que eu.
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu" (Vinicius de Morais)
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