Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, vai além do que o senso comum pensa dela. Para além de mera esposa de Oswald de Andrade, Pagu também foi escritora, jornalista, poeta, militante política e feminista, o que a levou vinte e três vezes para a prisão - e, de quebra, um dos maiores nomes do movimento modernista no Brasil.
Nascida em 9 de junho de 1910, na cidade de São João da Boa Vista, Pagu mudou-se com os pais para a cidade de São Paulo quando ainda tinha dois anos de idade. Seguindo os passos do pai jornalista, Zazá (seu apelido de infância) conseguiu seu primeiro emprego aos quinze anos, como redatora de críticas ao governo e às injustiças sociais para o Brás Jornal, sob o pseudônimo de Patsy.
Pagu
também foi um símbolo da irreverência e do afrontamento feminino: fumava e
bebia sem pudor, relacionava-se com homens sem se casar com nenhum, era ativa
nas lutas sociais da época.
Em
1928, aos 18 anos de idade, completou os estudos na Escola Normal e logo em
seguida se juntou ao Movimento Antropofágico, idealizado principalmente pelo
casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral Ainda no mesmo ano, ganhou seu
apelido mais conhecido, “Pagu”. O nome apareceu por causa de um erro do poeta
Raul Bopp, que escreveu um poema pensando que o nome da escritora fosse
Patrícia Goulart, e inventando, assim, essa abreviação.
Raul Bopp
Pagu
tem os olhos moles
uns
olhos de fazer doer.
Bate-côco
quando passa.
Coração
pega a bater.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Passa
e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe
bamboleia
pra
mexer com toda a gente.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Toda a
gente fica olhando
o seu
corpinho de vai-e-vem
umbilical
e molengo
de
não-sei-o-que-é-que-tem.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Quero
porque te quero
Nas
formas do bem-querer.
Querzinho
de ficar junto
que é
bom de fazer doer.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Publicado
em diversos jornais e revistas, o poema tornou Pagu famosa nos meios
artísticos, políticos e sociais e acabou até virando canção. Produzida pela
cantora Laura Sanchez, a música de 1929 também se tornou um sucesso, graças à
radiodifusão da época.
Ainda
no mesmo ano, Pagu começou a publicar seus desenhos na Revista de Antropofagia,
publicação que existiu entre 1928 e 1929, ligada ao movimento modernista.
VINTE E TRÊS PRISÕES
No ano
de 1929, o escritor Oswald de Andrade anunciou sua separação de Tarsila do
Amaral, e logo em seguida apareceu em público com Pagu. A troca chocou a
população, mas principalmente a comunidade artística.
Pagu e Oswald tornaram-se, juntos, militantes do partido comunista, o PCB (Partido Comunista do Brasil, na época). A escritora era combativa e destemida: em 1930 participou de um incêndio no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, em um protesto contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas e foi a primeira presa política feminina do Brasil, ao ser detida na cidade de Santos depois de participar de uma greve de estivadores da região. Ao longo de sua vida, Pagu seria presa vinte e três vezes por causa de suas participações em atos políticos.
Em
1935, Pagu foi presa em Paris com documentos falsificados e enviada de volta para
o Brasil
PAGU E A LITERATURA
Desde
os quinze anos de idade, Pagu já publicava protestos e artigos de opinião e
logo cedo também aprendeu a utilizar pseudônimos para suas publicações, a fim
de escapar da censura ditatorial da época.
Em
1933, publicou o livro “Parque Industrial “, sob o pseudônimo de Mara Lobo, um
romance proletário que entrou para os radares da censura da época. Pagu também
foi responsável por traduzir autores estrangeiros de grande renome, como James
Joyce e Octavio Paz. Além disso, escreveu contos policiais sob o pseudônimo de
King Shelter.
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