por Cleudimar Ferreira
Cena da Peça "Trinca, mas não quebra" .Texto de Eliézer Rolim, direção
de Francisco Ernandes. Há 25 anos nos palcos.
Não é nenhuma novidade encher o
peito de ufanismo e sair por aí, proclamando que Cajazeiras é a terra da
cultura. Até porque, em se tratando de cultura, não somos raros e nem muito
diferentes de ninguém, pois segundo o figurino sociológico tão discutido por
bocas filosóficas nas academias, todos produzem e consome cultura tal como for o
seu tempero, o arama e o sabor que lhe convier. No nosso caso, apenas,
historicamente, tratemos essa atividade com mais respeito, carinho e cuidado,
por achar que a cultura é a expressão das nossas almas e, nela, espelhamos os
nossos sentimentos; a forma sensível como produzimos nossa arte, como fazemos fluir
o nosso folclore e a influência que ele tem nas manifestações populares do povo
cajazeirense.
Dessa forma, recorro ao dizer, com a segurança de quem esteve em certo tempo passado no front cultural de Cajazeiras, que em qualquer lugar que se chegue, encontraremos a cultura a nos recepcionar; a nos acolher, tudo em conformidade com jeito, o pensamento e a forma do povo se manifestar e produzir suas manifestações populares. Cajazeiras não é diferente de nenhuma outra cidade ou localidade, apenas ela, predestinadamente, foi determinada por obra do acaso a ter o seu povo o sangue azul pulsante para inventabilidade cultural. Por circunstância desse inclinamento natural para as artes, atingimos a maioridade por excelência no que produzimos e alcançamos um lugar de destaque por natureza graça a qualidade nas atividades artísticas que realizamos.
Por conta disso, seria presumido perguntar aos seus agentes culturais, se esse sague azul que tanto ares tem dado a nossa cultura, não estaria atualmente ficando cinza, sucumbindo num processo de escurecimento, nos estagnando e viver da sombra do que semeamos no passado. Se seus promotores, produtores, cansaram da gangorra cansativa que é busca de recursos para o setor cultural; fadigados de lutar contra o rolo destrutivo da nossa cultura ou se nada disso são os motivos, ou são erros corriqueiros, fáceis de serem corregidos, que façamos alguma coisa para consertar as falhas.
Entretanto, é claro e evidente e todos enxergam, que a cultura, principalmente a parte significativa da arte produzida na cidade, vive da limitada programação do Teatro Ica Pires, cujos espetáculos, boa parte deles hoje, vem de artistas e/ou grupos de teatro de fora das cercanias de Cajazeiras. Portanto não sendo produções genuinamente cajazeirense. O que sobra desse contexto, resvala nas reapresentações de peças teatrais montadas há anos pela nossa classe teatral, com décadas que foram produzidas, já bastante conhecidas do público, saturadas e envelhecida no imaginário daqueles frequentadores que tem cadeira cativa no Teatro Ica.
Retorno mais uma vez a aquela reflexão: onde estaria o erro? Onde está o problema da nossa produção cultural? À parte, embora minúscula, de recursos destinada a cultura pela prefeitura e de importância sem igual para o fomento da produção cultural, modéstia parte, desculpe, está andando em passos de bicho-preguiça. Já estamos caminhando para segunda metade do terceiro bimestre do ano e o silêncio reina na secretaria de cultura, em termo de FUMINC ou de alguma novidade que possa aparecer no que se refira a atividade cultural programada para Cajazeiras nesse segundo semestre de 2023.
Tem alguma coisa atrapalhando esse processo e a classe artística precisa reagir a fazer com que esse sangue azul que temos em nossas veias, continue circulando, vivíssimo, mais azul do que nunca. Sabemos que nossos agentes culturais não são mais amadores, são profissionais da cultura. Muitos deles, vive da produção cultural e do retorno financeiro que essa produção traz, para tocar suas vidas, pagar suas contas, bem como, para continuar produzindo cultura na cidade e, não pode ficar refém dos problemas de gerenciamento da cultura no município ou de um final de gestão planejada antes do tempo.
Portanto, é preceito entender que
Cajazeiras tem um legado patrimonial artístico cultural, que precisa ser
preservado e bem zelado. Esse legado tem favorecida a cidade, durantes décadas,
a sua ascensão no cenário nacional, através de nomes que fizeram das linguagens
da arte, seu ofício de vida, principalmente os que tiveram envolvidos com o movimento
teatral da cidade. Nomes que necessitam serem mais prestigiados. As homenagens
feita até aqui são minúsculas demais para o tamanho do legado deixado por essas
excelências da nossa cultura.
Zé do Norte, Sávio Rolim (acho que ainda vivo), Eliézer Rolim, precisam ser nomes em equipamento público de grande ou médio porte ou, em centros culturais, de significativa importância para o status que Cajazeiras alcançou na produção cultural até aqui. E não em espaços improvisados, dividido ou fracionado, sem estrutura nenhuma, sem acervos ou objetos que lembrem o legado deixado pelo homenageado, como é o caso do Espaço Cultural Eliezer Rolim, que mais parece uma incubadora cultural do que um espaço cultural.
Cajazeiras está precisando de um Centro Cultural para movimentar a cultura... diz o poster publicado nas redes sociais. Precisa! Mas antes deve manter no mastro a sua bandeira cultural flamejando; em movimento; para que sua hegemonia na produção artista no sertão, na Paraíba e no Nordeste, posso fluir e permanecer altiva, pulsando, para que o nosso sangue azul cultural, não seja interrompido por falha de gerenciamento ou falta de criatividade.
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