por: Benedito Antonio Luciano
Os apreciadores da denominada Literatura de
Cordel haverão de lembrar do “folheto” intitulado “O Pavão Misterioso”, obra
escrita em sextilhas de versos de sete sílabas, cuja primeira estrofe é a
seguinte: “Eu vou contar a história/ Dum pavão misterioso, / Que levantou voo
da Grécia, / Com um rapaz corajoso, / Raptando uma condessa, / Filha dum conde
orgulhoso”.
Na
segunda estrofe, o autor situa a Turquia como sendo o local onde se desenrola o
enredo da história e introduz os nomes dos primeiros personagens: os irmãos
João Batista e Evangelista, filhos de um viúvo dono de uma fábrica de tecido,
cujo nome não é citado.
Creuza,
a personagem chave do romance, é apresentada na estrofe treze. Ela era a filha
única de um conde que, devido a beleza espetacular da jovem a mantinha
escondida em um quarto do sobrado onde residia na Grécia, só permitindo a sua
aparição pública na janela, uma vez por ano, por apenas uma hora.
O outro
protagonista do romance que desempenhou papel relevante é o engenheiro Edmundo,
inventor do Pavão Misterioso, um aeroplano híbrido de pequena dimensão, movido
a motor elétrico e a gasolina: “Tinha a cauda como leque, / As asas como um
pavão/ Pescoço, cabeça e bico, / Alavanca, chave e botão. / Voava igual ao
vento/Para qualquer direção.”.
Foi com
esse invento em formato de pavão, concebido pelo gênio criativo do engenheiro
Edmundo, que Evangelista raptou Creuza e com ela casou na Turquia.
Sobre a
autoria de “O Pavão Misterioso” há controvérsia. Pelas minhas mãos já passaram
dois exemplares: um cuja autoria é atribuída a João Melchíades da Silva, e
outro, lançado pela Luzeiro Editora, no qual a autoria é atribuída a José
Camelo de Melo Rezende, destacado no acróstico da estrofe final como
JOSECAMELO: “Justiça, só a de Deus, / O juiz que já não erra/ Senhor que, do
Céu pra Terra/ Estende os poderes seus!/ Como somos pigmeus,/ A Ele não
enxergamos, / Mas, contudo, precisamos/ Enaltecer Sua luz/ Lembrados que, com
Jesus, / O Satanás afastamos! ”.
Neste
sentido, de acordo com Átila Almeida e José Alves Sobrinho, autores do
Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada, o verdadeiro
autor de “O Pavão Misterioso” seria mesmo José Camelo de Melo Rezende.
De
fato, o problema da veracidade da autoria dos folhetos é antigo. Nos
primórdios, quase sempre os autores vendiam os direitos de publicação de suas
obras a outros poetas e editores que, por sua vez, passavam a assumir a
autoria.
A este
respeito, Leandro Gomes de Barros (1865-1918), criador do folheto impresso,
preocupado com os direitos autorais, publicou o seguinte texto: “Com o fim de
evitar os abusos constantes, resolvi d’ora em diante estampar em todas as
minhas obras o meu retrato em um clichê, sem lugar determinado”.
Oportuno
ressaltar que, além de “O Pavão Misterioso”, José Camelo foi autor de vários
romances que se tornaram conhecidos, dentre eles: “Pedrinho e Julinha”;
“História do Bom Pai e o Mau Filho ou Juvenal e Lilia”; “Coco-Verde e
Melancia”; “Entre o Amor e a Espada”; e “Encontro de Dois Poetas: José Camelo
de Melo com Manoel Camilo dos Santos”.
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fonte: https://paraibaonline.com.br/blogs-e-colunas/o-pavao-misterioso/
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