Joana dos Santos, personagem que dá
título ao romance editado em 1995, escrito por Ivan Bichara, paraibano nascido
em Cajazeiras, é protagonista de uma história vivida à época em que a Coluna
Prestes percorreu durante dois anos (1925-1927) em torno de vinte e cinco mil
quilômetros no território nacional. A narrativa do romance se inicia quando a
Marcha da Coluna passa pelo Maranhão, em deslocamento, para alcançar o Rio São
Francisco, tendo como acontecimento principal o massacre ocorrido na Vila do
Piancó, no sertão paraibano.
A principal personagem do romance de
Ivan Bichara era, segundo o narrador, uma jovem “alta, corada, facilmente
destacada de outras mulheres da Coluna, cabelos cor de mel, presos por um laço
vermelho, todo esse conjunto fazia de Joana um monumento de beleza, de graça
feminina no meio daquela confusão de corpos fatigados pela luta contra as
emboscadas, agora mais frequentes nas passagens dos “rebeldes” pelo interior do
Nordeste”.
Os leitores se deparam com o
despertar de uma paixão alucinante, nascida num ambiente de tensão e medo, após
a jovem experimentar o doloroso sentimento da perda de seu pai adotivo, morto
de forma violenta e injustificada, por uma patrulha da polícia do Maranhão que
procurava o esconderijo do capitão Luís Carlos Prestes. Joana dos Santos era
filha biológica de uma estrangeira com um indígena e teria sido adotada por um
casal de negros, ainda bebê. Ao encontrar proteção dos “revolucionários”,
apaixona-se, repentinamente, por um deles, o ex-seminarista Augusto Passos, a
quem entrega sua virgindade. A partir de então, se desenrola uma história que prende
a atenção dos que leem o romance. Decide, juntamente com a mãe, tornarem-se
“vivandeiras”, como eram chamadas as mulheres que integravam a Coluna Prestes,
acompanhando aquele por quem se enamorara, e que receberia a incumbência de
entrar em Piancó para tentar convencer o padre Aristides a deixar os revoltosos
entrarem em paz na cidade.
Os acontecimentos históricos em que
se viu envolvida mudaram os rumos de sua vida e a forma de encará-la. Se antes
de ingressar na Coluna era uma adolescente recatada e adequada aos padrões
culturais da época e da região em que nascera, se viu num ambiente totalmente
diferente ao que conhecera até então, convivendo com coronéis, rebeldes e
cangaceiros. Principalmente, pelo fato de passar a pertencer a um grupo muito mal
visto pela população do Nordeste, pelas informações de que por onde andavam
praticavam roubos, estupros e assassinatos. Os sofrimentos experimentados nessa
etapa da vida, a tornaram uma mulher muito madura para a sua idade.
O acontecimento ocorrido em Piancó
causou revolta na opinião pública do Brasil, em razão da violência
desproporcional com que os rebeldes da Coluna Prestes reagiram ao movimento de
defesa da cidade, assassinando, friamente, o Padre Aristides que liderava a
tentativa mal sucedida de proteger a comuna, e todos os que o acompanharam
nessa empreitada. Promoveram uma verdadeira carnificina.
Joana dos Santos foi encontrada,
desacordada, por dois homens, nas cercanias da cidade de Piancó, sendo acolhida
na fazenda de uma família que tinha sido atacada por um bando de cangaceiros.
Ali fez amizade com Marta, outra personagem feminina do romance, de quem se
tornara confidente, compartilhando dos traumas por ela vividos decorrentes da
violência sexual que sofrera quando do ataque dos cangaceiros.
Na família da qual recebeu amparo,
conheceu o filho de Marta, José, com quem teve um relacionamento afetivo,
depois de tomar conhecimento de que Augusto, seu ex-noivo, a havia abandonado,
indo morar com a dona de um prostíbulo de nome Antônia. Porém, em um bilhete
que lhe enviou, comunica que estaria voltando para o Maranhão: “Não podia
ficar, meu amigo. Devo aos meus pais de criação, o dever de tomar posse da
terra que me deixaram. Sei que você compreende isso. De São Luiz, vou escrever
para Dona Marta. Adeus José. Sua JOANA DOS SANTOS”.
A personagem do romance de Ivan
Bichara, após vivenciar experiências estranhas ao universo feminino do seu
tempo, resolve retornar às suas origens e recomeçar uma nova história, decidida
em se reencontrar na terra em que nasceu. Destemida, se dispõe, afinal, a ser
dona do seu próprio destino.
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fonte: Jornal A União
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