por:
Francisco Gil Messias
A história
da família Rolim dá um romance. Mas essa não foi a opção do engenheiro e
historiador paraibano Sérgio Rolim Mendonça ao
escrever sobre sua ascendência familiar em seu mais recente livro, A saga do
Chanceler Rolin e seus descendentes, publicado, em caprichada e bonita edição,
pela Editora Labrador, de São Paulo. Talento literário para isso se fosse o
caso, não lhe faltaria nem falta, à vista do que já mostrou quando da
publicação de suas memórias (ou autobiografia), O caçador
de lagostas, de 2018, pela mesma editora, e em outras obras anteriores. E o
interessante nisso tudo é que sua formação acadêmica é na área das engenharias
civil (UFPB) e sanitária (USP), cujos cultores, de modo geral, tradicionalmente
são mais próximos da técnica e das tecnologias que das coisas da cultura.
Como explica o autor em suas Notas
introdutórias, sua ideia original “era realizar apenas uma pesquisa a partir do
padre Rolim até chegar à minha pessoa”, meta que, por si só, já seria
ambiciosa, pois implicaria pesquisar toda a trajetória familiar, desde o
ilustre educador cajazeirense até os dias atuais, percorrendo um período de
mais de duzentos anos, haja vista que o padre Inácio de Sousa Rolim nasceu em
22 de agosto de 1800. Mas aí descobriu o chanceler Nicolas Rolin, da cidade de
Autun, na região da Borgonha, França, e não conseguiu resistir à curiosidade
inerente aos historiadores, terminando por ir conhecer, in loco, a cidade, a
vida e as obras desse ilustre personagem francês, aventura que resultou no
livro mencionado.
Nicolas Rolin, homem do século XV, apesar de
nascido em 1376, e considerado “o primeiro Rolim famoso”, foi, antes de tudo,
um empreendedor, no sentido público da palavra. Titular de
cargos políticos importantes em sua região preocupou-se em criar instituições
de interesse da coletividade, a exemplo de escolas e do famoso hospital de
Beaune. Segundo o autor, “Rolin, desejando ampliar em sua cidade natal o
círculo de uma educação muito limitada, fez abrir por intermédio de Felipe, o
Bom, escolas públicas que se tornaram um importante centro de estudos
literários e científicos na Borgonha, onde numerosos alunos ilustres
estudaram”. Eis aí, certamente, a origem da genética educadora que viria, no
século XIX, no sertão da Paraíba, desabrochar nas realizações notáveis do
célebre padre Rolim.
Quanto ao hospital (Hospices de Beaune),
destinado aos pobres da região, hoje é um museu de renome, permanecendo como
testemunho concreto da visão benemérita de seu criador.
Do Rolin francês, o autor passa a identificar
outros personagens com o sobrenome Rolim em Portugal, em Minas Gerais, onde se
destacou, na Inconfidência Mineira, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, de
Diamantina, companheiro de prisão, em Lisboa, do célebre poeta Bocage, até
chegar ao nosso padre Inácio de Sousa Rolim, cujo pai, Vital de Sousa Rolim I,
é considerado o fundador da cidade de Cajazeiras. Encerrando o volume, Sérgio
apresenta sua árvore genealógica, mostrando a vitalidade de sua linhagem, que
promete estender-se indefinidamente no tempo, produzindo, esperamos todos,
outros intelectuais, empreendedores e beneméritos.
É preciso que se diga que o livro possui interesse para além do âmbito
familiar do autor, tratando-se de pesquisa histórica válida por si mesma e
cujos resultados poderão ser úteis a outros estudiosos dos temas e personagens
nela abordados. Essa é a riqueza desses trabalhos: nunca se esgotam em si
mesmos, pois possuem sempre potencial de gerar novos estudos, numa corrente
praticamente infinita de produções culturais relevantes.
Por fim, destaco a maneira elegante e isenta com
que o autor desenvolveu seu tema no livro ora comentado, cuja específica
matéria, em mãos menos modestas e sóbrias, poderia vaidosamente gerar obra de
caráter auto laudatório.
O certo é que, com Sérgio Rolim Mendonça e suas
realizações, pode-se dizer que o distinto clã do chanceler e do padre educador
continua, com brilho, sua vocação de meritório protagonismo.
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