por: Eduardo Pereira
Carteirinha de Sócio do Cineclube Vladimir Carvalho. Imagem/arquivo: Cleudimar Ferreira
Fui ver aqui em Brasília no último
dia trinta e um de janeiro o documentário de Maria Maia O Cinema Segundo
Vladimir Carvalho, cineasta paraibano de Itabaiana. Traça um perfil desse
profissional com trabalhos marcantes na cinematografia nacional, como, por
exemplo, O País de São Saruê (1971), Rock Brasília (2011), O Engenho de Zé Lins
(2007), O Homem de Areia (1982) sobre o escritor paraibano José Américo de
Almeida e tantos outros.
Foi aplaudido de pé. Pode-se dizer
que, aos 88 anos, respirou cinema a vida inteira. No documentário ele relata
que desde criança assistia filmes. Seu pai o influenciou. Os filmes chegavam a
Itabaiana através de trem. Quando ouvia o soar de apito do comboio chegando à
cidade ele já ficava ‘antenado’ imaginando qual seria o filme que veria.
Lembrei-me que foi no final dos anos
setenta para início dos oitenta, acredito, que Cajazeiras teve o Cineclube
Vladimir Carvalho. Seu primeiro presidente foi o jornalista Nonato Guedes. O
famoso crítico de cinema Jean-Claude Bernadet esteve lá para ministrar um curso
para seus participantes. Uma surpreendente ousadia daqueles jovens de então.
Um cineclube naquela época em
Cajazeiras significava que havia um grupo de jovens se interessando pelo cinema
com outro olhar. Com a visão de que cinema não era apenas diversão. Se tinha
senso crítico, análise, debate sobre os diálogos e a elaboração do roteiro,
sequências de cenas.... Ou seja, a interferência de seus mecanismos de
criatividade em nossas vidas, na política do país, na inquietação em analisar e
absorver para nossa perspectiva a estética da arte.
Antes da criação desse cineclube eu
havia partido de Cajazeiras para Brasília, mas meus amigos que lá ficaram
incorporaram essa experiência. Não sei como se conseguia filmes que estavam
fora do circuito comercial: Filmes cult, alternativos, descolados artisticamente.
Para aquela geração de espirito irrequieto, mesmo em momento histórico sobre as
barras de coturnos brutais da milicada, tudo era possível. Afinal, ousadia é
tempero da juventude. O cinema foi marcante para a formação cultural daquelas
gerações de Cajazeiras. Principalmente o norte-americano e o italiano.
No entanto a fase dos filmes de O Gordo
e o Magro, Mazzaropi, Bang Bang, Faroeste, Karatê, pornochanchada vistos no
Cine Pax, Cine Éden e Cine Apolo XI - o cinema de Eutrópio é de uma fase um pouco
anterior - que minha geração viu, foi fundamental para despertar nossas
fantasias, compor nossas histórias de vida. Esses estilos compuseram nossa
admiração e o encanto pelo mundo da sétima arte com a visão da infância e da
adolescência. Diria que são cenas inesquecíveis de nossas existências. Quem foi
garoto/a interiorano entende perfeitamente esse universo.
Não caio na tentação de querer
comparar o cenário dos filmes daquela época, dos cinemas de rua com os de
shopping de hoje em dia, pois o mundo segue em frente como nossas vidas. A vida
não é estática. Nós é que temos que tentar aperfeiçoá-la e vivenciá-la da
melhor forma possível. É a realidade. Mas que foi legal aquela fase, ah, isso
foi.
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