Cleudimar Ferreira
Muita gente pensa que um episódio trágico que aconteceu no passado, no sertão pernambucano, em uma localidade onde hoje pertence ao município São José do Belmonte/PE, não passou de história de trancoso ou foi mais uma ficção das inventadas por escritores da literatura em cordel nordestina. Mas não é bem assim e o fato existiu de verdade! No ano
que aconteceu essa tragédia messiânica do tal Reino Encantado da Pedra Bonita (a
conhecida Pedra do Reino), era Presidente da Província de Pernambuco, o senhor Francisco
do Rego Barros - primeiro e único barão com grandeza; visconde com grandeza e
conde da Boa Vista. A atual Avenida Conde da Boa Vista - no Recife, leva o seu
nome e é uma homenagem do povo pernambucano a sua memoria.
Pois bem.
No dia 05 de março do ano de 1839, o Jornal Diário de Pernambuco, edição de nº 53, página 01,
publicou um texto escrito pelo senhor Francisco do Rego Barros, que foi usado como discurso de abertura da Assembleia Legislativa Provincial, no dia 01 de março de 1839, relatando como
foi o fim em tragédia que terminou o movimento messianista da Pedra do Reino. A
publicação do jornal abriu a matéria de Rego Barros com a seguinte informação:
Com que o
excelentíssimo senhor Francisco do Rego Barros, Presidente desta Província,
abriu a Assembleia Legislativa Provincial no dia primeiro de março do corrente
ano:
Senhores membros da Assembleia Provincial.
Cheio de satisfação por ver-me pela segunda vez no seio da Representação Provincial, e por ter de abrir os seus interessantes trabalhos, venho, em observância a lei, expor-vos o estado da Província, e as suas clamorosas e urgentes necessidades.
Tranquilidade e segurança pública.
Tendo se dissipado a cizânia, perfidamente espalhada por entre cidadãos ignorantes da extinta Comarca do Bonito de que os recrutas tinham de ser reduzidos a escravidão, poderia anunciar-vos hoje, Senhores, que a ordem e segurança pública não foram alteradas em nossa Província, depois do último relatório, que vos foi presente, se um fato digno de figurar em outros séculos, filho da ignorância e do fanatismo não viesse perturbar o plácido correr do ano de 1838. Um indivíduo morador no sítio - Pedra Bonita - distante vinte léguas da Vila de Flores, por efeito de sua maldade, lembrou-se de dissuadir ao povo ignorante daquele lugar, que ali existia um reino encantado próximo a desencantar-se, e tendo os seus embustes adquirido força e prosélitos, um destes começou a inculcar, que para a restauração do Encantado Reino era mister, que fossem imoladas vítimas humanas, a fim de regarem com seu sangue o campo, prometendo ao mesmo tempo, que todas ressuscitariam, e seriam por fim, ricas, poderosas, e felizes. Em consequência desta e de outras ideias, que a boa fé de homens ignorantes, supersticiosos, e sem sentimentos de religião, não duvidou abraçar, pais de famílias lhe entregaram seus filhos para o degoladouro, que, com efeito, teve lugar em maio do ano passado, assassinando-se cruelmente quarenta e duas pessoas de ambos os sexos, entre párvulos, e adultos. Um fato tão horroroso não podia de deixar de chegar aos ouvidos das autoridades do lugar, e por isso o Comissário de Polícia, antes mesmo de receber ordens do Prefeito de Flores, querendo evitar a sua repetição, e reunindo para esse fim uma força de Guardas Nacionais, atacou-os fortemente, e depois de alguma resistência, em que morreram vinte e nove pessoas da parte dos perversos, e cinco da força legal, pode inteiramente dispersá-los, e prender alguns homens, mulheres e meninos, que se achavam no ajuntamento. Consta-me, por participações oficiais, que os presos foram entregues ao Juiz Criminal para proceder contra eles na forma da lei, e que o Tribunal do Júri os condenará às diversas penas para punição dos seus horrendos crimes.
Não tendo, porém, estes acontecimentos cor política, devo assegurar-vos confiadamente, que os nossos concidadãos, se mostraram cada vez mais adesos à lei fundamental do Império, ao Trono do jovem Monarca Brasileiro, e a causa da integridade do Império, convencidos com a razão de que só assim poderão desfrutar a paz, e o sossego, por que tanto almejam, e chegar esta nossa terra a prosperidade, para que é destinada.
Senhores membros da Assembleia Provincial.
Cheio de satisfação por ver-me pela segunda vez no seio da Representação Provincial, e por ter de abrir os seus interessantes trabalhos, venho, em observância a lei, expor-vos o estado da Província, e as suas clamorosas e urgentes necessidades.
Tranquilidade e segurança pública.
Tendo se dissipado a cizânia, perfidamente espalhada por entre cidadãos ignorantes da extinta Comarca do Bonito de que os recrutas tinham de ser reduzidos a escravidão, poderia anunciar-vos hoje, Senhores, que a ordem e segurança pública não foram alteradas em nossa Província, depois do último relatório, que vos foi presente, se um fato digno de figurar em outros séculos, filho da ignorância e do fanatismo não viesse perturbar o plácido correr do ano de 1838. Um indivíduo morador no sítio - Pedra Bonita - distante vinte léguas da Vila de Flores, por efeito de sua maldade, lembrou-se de dissuadir ao povo ignorante daquele lugar, que ali existia um reino encantado próximo a desencantar-se, e tendo os seus embustes adquirido força e prosélitos, um destes começou a inculcar, que para a restauração do Encantado Reino era mister, que fossem imoladas vítimas humanas, a fim de regarem com seu sangue o campo, prometendo ao mesmo tempo, que todas ressuscitariam, e seriam por fim, ricas, poderosas, e felizes. Em consequência desta e de outras ideias, que a boa fé de homens ignorantes, supersticiosos, e sem sentimentos de religião, não duvidou abraçar, pais de famílias lhe entregaram seus filhos para o degoladouro, que, com efeito, teve lugar em maio do ano passado, assassinando-se cruelmente quarenta e duas pessoas de ambos os sexos, entre párvulos, e adultos. Um fato tão horroroso não podia de deixar de chegar aos ouvidos das autoridades do lugar, e por isso o Comissário de Polícia, antes mesmo de receber ordens do Prefeito de Flores, querendo evitar a sua repetição, e reunindo para esse fim uma força de Guardas Nacionais, atacou-os fortemente, e depois de alguma resistência, em que morreram vinte e nove pessoas da parte dos perversos, e cinco da força legal, pode inteiramente dispersá-los, e prender alguns homens, mulheres e meninos, que se achavam no ajuntamento. Consta-me, por participações oficiais, que os presos foram entregues ao Juiz Criminal para proceder contra eles na forma da lei, e que o Tribunal do Júri os condenará às diversas penas para punição dos seus horrendos crimes.
Não tendo, porém, estes acontecimentos cor política, devo assegurar-vos confiadamente, que os nossos concidadãos, se mostraram cada vez mais adesos à lei fundamental do Império, ao Trono do jovem Monarca Brasileiro, e a causa da integridade do Império, convencidos com a razão de que só assim poderão desfrutar a paz, e o sossego, por que tanto almejam, e chegar esta nossa terra a prosperidade, para que é destinada.
FOTOS DE UMA VISITA QUE FIZ AO LOCAL, EM JUNHO/2015.
fonte: Jornal Diário de Pernambuco
fotos: Cleudimar Ferreira (com exceção a de Francisco do Rego Barros)
fotos: Cleudimar Ferreira (com exceção a de Francisco do Rego Barros)
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