por: Mariana Moreira
A acanhada praça com seus dois ou três bancos e contadas árvores se perde no movimento de gentes e automóveis do centro da cidade. O burburinho da pressa abafa o solitário canto de um bem-te-vi que faz poso e talvez, ninho em uma antena de telefonia.
Mas, de repente, a praça ganha volume e vida.
Algumas vacas vindas de não se sabe onde ocupam o lugar e, diligentemente,
entre o sol que se eleva na manhã e o vai e vem de gentes e carros, fazem do
espaço lugar de pouso e descanso. Indiferente ao estranhamento de alguns mais
atentos, que alimentam o espanto por inusitada cena, elas se mantêm calmas e
tilintam os chocalhos ao movimento do ruminar os derradeiros fiapos de capim
furtivamente abocanhado em um descuidado canto de rua.
A praça ganha cheiros de estrume e restos de
matos esmagados nas patas, exalados e absorvidos por narinas saudosas de
currais e galos que de peitos estufados e cantos sonoros, traziam melodia e
ritmo às noites enluaradas de infância.
E as vacas continuam na praça, algumas horas
depois. Agora, diligentemente malhadas, com olhos semicerrados na vã tentativa
de neutralizar o estranho que lhes chega em imagens e sons de ligeirezas.
E as vacas não mais retornaram à praça. Encontraram
os limites das cercas e currais que lhes inibe os movimentos, lhes tolhe a
aventura de caminhar por ruas e praças dando tons de ontem ao presente.
Em outro momento de outro dia, outras vacas,
agora mais numerosas, são flagradas cruzando uma movimentada avenida da cidade.
Em bando, com as barrigas fartas do capim que cresce abundante na vazante do
Açude Grande, caminham diligentemente na direção de um bairro de casas e pedras
de paralelepípedos. O destino não importa. Qual curral lhes imporá limites, sem
importância. O som do chocalho de algumas no íngreme asfalto é o que resta como
cena.
fonte: Jornal A União
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