por João Batista de Brito
Foi na sala de espera do
médico que ela o conheceu. Nem havia notado quem estava ao seu lado, e se
surpreendeu com a abordagem de um desconhecido. “É seu?” ele perguntou, com o
lenço dela na mão. “Sim”, respondeu confusa, e agradeceu.
E do lenço caído ao chão
brotou o papo. A espera pelo atendimento foi longa - a tarde quase toda - e
conversaram à vontade.
Era um senhor um pouco mais
coroa que ela, educado, simpático, com um rosto bonito, pele rosada, viçosa, um
riso franco que saía de uma boca sensual, um olhar atraente que, não sabia por
que, a encantou.
Ao ser ele chamado para a
consulta, ela quase sentiu pena. Despediram-se com um “até logo” e ela
acompanhou-o com a vista, até ele desaparecer na porta da outra sala. Achou
absurdo que estivesse sentido afeto por um estranho, e, sem entender, sentiu-se
no momento um pouco solitária.
Por alguns dias, se viu
pensando nele. O que poderia significar para ela um estranho que conhecera numa
sala de espera? Logo ela, casada, e bem casada.
E, no entanto, até sonho houve.
E muito estranho: no sonho, estava fazendo amor, e de repente, o rosto do
esposo ia se transmudando no rosto do desconhecido. Nesse dia, acordou
perturbada e passou a manhã inquieta, um pouco irritada. O esposo perguntou se
havia algo errado e ela respondeu que não: por que haveria?
Já estava quase superando a
lembrança dele, quando o viu de novo. Uns dias depois do médico, tinha ido
caminhar na calçadinha da praia, e na volta, parou num Café para um ligeiro
lanche. Mal sentou, avistou-o, sentado a uma mesa mais adiante, sorridente.
Ficou feliz que ele a reconhecesse, e sorriu de volta. Sorriu mais do que
devia, pois logo ele veio ter à sua mesa.
Foi quando ficou sabendo que
ele, divorciado, sozinho na vida, residia no seu bairro, e que era, como ela,
assíduo frequentador do Café, e também caminhante da calçadinha. O fato de
haver outras chances de se encontrarem - como negar? - encheu-a de alegria. Não
podia deixar de admitir, foi um momento quase mágico.
Depois daquela tarde, toda
vez que saía para caminhar, ela se punha a olhar em torno, na esperança de
avistá-lo. Qualquer senhor alto e alvo era ele... e nem sempre era. Aliás,
raramente era. Na calçadinha da praia olhava em torno, e se não o via, voltava
para casa um pouco desapontada.
Passaram-se umas três
semanas sem que ele aparecesse. E começou a ficar preocupada. Será que não o
veria mais? Acontecera alguma coisa? Viajara? Mudara-se? Adoecera? E aí dava-se
conta do quanto estava sendo tola em sofrer por um quase desconhecido que nada
representava em sua vida.
Foi então que, caminhando na
calçada da praia, afinal se encontraram mais uma vez. A demonstração de júbilo
foi espontânea e recíproca. Estava uma tarde bonita, o mar seco e sereno, o céu
limpo e belo. Sentaram-se na muradinha da calçada, um pertinho do outro, feito
dois namorados, e conversaram banalidades e riram de graça, numa liberdade
feliz, como se fossem adolescentes irresponsáveis.
Em dado momento, sem querer,
os joelhos se tocaram. O toque foi rápido, mas ela não conseguiu evitar um arrepio.
Era a primeira vez que os corpos se tocavam. Na ocasião, pensou se alguma vez
se tocariam de novo, em alguma parte que não os joelhos. Ao se despedirem,
terminaram por marcar um novo encontro, numa data próxima, para um chá no mesmo
Café de sempre.
Esses inocentes chás se
repetiram, dias salteados, entre os quais as tardes, para ela, pareciam mais
vazias. Cada vez mais ansiosa, mas também angustiada, ela sentia que não podia
continuar alimentado... Alimentando o quê? Algo que nem sabia dizer o que era.
E duvidava que ele soubesse.
Um dia ele perguntou se não
podiam trocar números de celulares. Disse que não convinha, e ele respondeu que
entendia. Mais tarde, em casa, ela ficou pensando por que tinha dito que não
convinha. Ora, amigos têm, sim, o direito de se comunicar por celular, por que
não? Ter dito que não convinha era sintomático de que não eram propriamente
amigos. E o fato de ele ter respondido que entendia, era mais sintomático
ainda.
E continuaram a se ver, cada
vez mais regularmente. Até que um dia ele, semblante fechado, confessou que
tinha algo a propor, e que o faria no próximo encontro.
Desde então, ela perdeu
completamente o sossego, imaginando o que poderia ser. E se entregava a
devaneios penosos que lhe corroíam o espírito. Iria ele sugerir que não
deveriam se ver mais? Ou iria dizer que estava apaixonado e que queria levar
aquilo adiante? Qualquer das duas alternativas iria doer. E muito.
Por isso, tomou uma decisão.
E na hora marcada, não
compareceu ao encontro. Ficou em casa, e, trancada no banheiro, chorou. As
lágrimas, enxugou-as com o lenço que um dia ele apanhara do chão.
fonte: (Facebook) João Batista de Brito. https://www.facebook.com/profile.php?id=1827430791
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