por: Lau Siqueira
Sempre
acredito na força do acaso. Algumas coisas acontecem numa sequência
espetacular. Se as coincidências existem ou são fruto de um roteiro misterioso
escrito previamente, não sei. O fato é que quase sempre existe muita estranheza
em algumas casualidades. Não sou absolutamente uma pessoa religiosa. Costumo me
definir como “ateu ecumênico”. Sequer há originalidade alguma nisso. Na
verdade, foi o que ouvi da boca do jornalista e biógrafo Fernando Morais e
adotei.
Em
2019 eu trabalhava num programa social de música e estávamos na Serra do Açu,
em Catolé do Rocha, gravando uma cena para um documentário sobre a vida do
Maestro José Siqueira. Foi ele o criador da Ordem dos Músicos do Brasil. Fundou
orquestras importantes como a Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra do MEC,
Orquestra Sinfônica de Recife e muitas outras. Possui uma obra tão vasta e
encantadora quanto Heitor Villa Lobos, mas era comunista e foi silenciado pela
ditadura.
Entre
setembro de 2013 e dezembro de 2014, presidi a maior fundação cultural da
Paraíba. A FUNESC - Fundação Espaço Cultural. Uma instituição que administra
todos os teatros estaduais e o maior centro cultural do Brasil - o Espaço
Cultural José Lins do Rego. Um baita equipamento que abriga teatros, cinema,
gibiteca, planetário, escola de música, escola de dança, museu, galeria, uma
biblioteca com mais de 100 mil títulos, um dos maiores acervos expressionistas
do mundo, o Memorial Abelardo da Hora, etc.
Todavia
faltava uma sala de concertos e o governador Ricardo Coutinho decidiu que a
reforma incluiria esse presente ao povo paraibano. A Orquestra Sinfônica da
Paraíba - OSPB já foi considerada uma das melhores do país. Quando cheguei na
Fundação o nome que estava previsto para a sala era do grande Maestro Eliazar
de Carvalho que havia sido regente da OSPB nos anos 80. O Maestro Eliazar é um
dos grandes nomes da música erudita em nosso país em todos os tempos. Disso
ninguém duvida.
Sempre
fui incomodado com o débito que a Paraíba tinha com o grande maestro sertanejo.
Um homem que com 14 anos já regia a Orquestra Filarmônica de Bonito de Santa
Fé, no Sertão. Alguém que sonhava em ver os jovens do seu estado tocando suas
músicas. Então parti para uma consulta junto aos músicos. Visitei alguns
professores do Curso de Música da Universidade Federal da Paraíba. O nome do
Maestro foi unanimidade e a sala de Concertos ganhou o nome do grande José
Siqueira.
Gravando
para o documentário em Catolé do Rocha, já distante da Fundação, as fichas começaram
a cair. Descobri que José Siqueira tinha falecido em 22 de abril de 1985.
Exatamente no dia em que cheguei a Paraíba. A morte do maestro foi ofuscada por
uma grande comoção nacional. Naquele dia, era anunciada também a morte do
presidente Tancredo Neves. Percebi então que estava fechando um ciclo na
gravação de uma cena com uma orquestra jovem executando uma música do maestro
em pleno Sertão.
Apesar
da coincidência no sobrenome, não existe qualquer parentesco comigo. Nasci na
fronteira com o Uruguai e ele no Alto Sertão da Paraíba. Este gênio brasileiro
compôs peças monumentais, como “Xangô - cantata negra”; “Quinta Sinfonia - indígena”; a ópera “A compadecida”. “Toada para José Siqueira” é um documentário de Eduardo Consonni,
Rodrigo T. Marques, descendentes do Maestro. Admirado na Europa, José Siqueira
ainda carece de pleno reconhecimento no Brasil.
publicação: https://cronicascariocas.com/
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