Fiz um dia, por acaso, a pergunta acima a um casal
amigo e ouvi uma história curiosa, que não resisto em contar.
Arnóbio foi mais resumido no relato, mas Marianne,
na sua versão, caprichou nos detalhes.
Viúva havia três anos, ela já estava lá pelos seus
cinquenta e dois quando a coisa aconteceu. O filho já casado, ela morava
sozinha em casa confortável de uma rua tranquila no bairro de Miramar. O
falecido lhe deixara uma gorda pensão, e assim, dava pra ir levando uma vida
com conforto, paz e privacidade. Fazia academia, caminhava, via tv, lia um
pouco, ouvia música, sempre saía com as amigas pra um café, ou pra um jantar, e
assim os dias fluíam tranquilos.
Porém, não podia negar. Às vezes a solidão batia e
seu coração ansiava por algo novo, do tipo, uma companhia masculina.
Foram as amigas que a aconselharam a tentar a
internet, onde, segundo garantiam, muitos novos relacionamentos aconteciam... E
eventualmente, vingavam.
Sem prática nas coisas virtuais, e também sem muita
convicção, Marianne fez seu cadastro num site e criou o hábito de consultar
suas páginas. Com o passar dos contatos, a já pequena convicção diminuiu, e
quase desapareceu, pois os acessos que lhe apareciam eram quase todos
desastrosos. Até insinuações obscenas pintaram.
Uma decepção após a outra, já estava pra desistir
quando um senhor solicitou sua amizade e ela aceitou. Aceitou por aceitar, e já
havia esquecido esse desconhecido amigo virtual quando, um dia, recebeu a
mensagem de um “bom dia”. Mecanicamente, retribuiu, e ficou por isso.
Ficou nada. Ele continuou com seus “bons dias” e
daí a pouco já estavam em um bom papo diário. Das coisas banais passaram a
assuntos mais sérios e, com o tempo, já estavam a trocar confidências. Podia
não dar em nada, pensava ela, mas era ao menos um amigo que ganhava, alguém com
quem conversar. E a conversa dele lhe parecia interessante. Era, com certeza,
um homem sério e com bom nível de instrução. Falava coisas sábias e seu
português era correto. Arnóbio era o seu nome.
Não podia negar que se animou no dia em que soube
que Arnóbio era viúvo. Segundo disse, vivia só, já que as duas filhas tinham
ido embora, morar nos States. Pra resumir a história, a amizade, ainda que
sempre virtual, foi tomando contornos de namoro e não deu outra: chegaram a um
ponto em que cada um, emocionado, confessou, nas teclas, o seu grau de
envolvimento amoroso. Que, a essa altura, não era pequeno.
A partir desse ponto, claro, foram dando e tomando
informações, um sobre o outro. E, animadoras, mas também nervosas, algumas
coincidências começaram a aparecer.
Com grande alegria, ela ficou sabendo que ele
residia na sua cidade. Bom sinal: já pensou se ele fosse, digamos, de Cascavel,
Paraná? Agora, no mesmo bairro não podia ser - seria coincidência demais - mas
era: Miramar, sim senhor.
Por um tempo fizeram segredo da rua. Um dia, no
meio da conversa, ele se referiu casualmente a uma padaria onde comprava seu
pão diário, e ela, sem nada dizer, assustou-se um pouco: a tal padaria ficava
na sua rua. Será que moravam tão perto assim? De outra feita, a referência foi
a um posto de gasolina, o qual também ficava na sua rua. Como era possível?
Quando o nível de confiança lhe permitiu, ela botou
a curiosidade pra fora e indagou se podia saber o nome da rua onde ele residia.
Pois é, ficou pasma em ouvir que seu namorado virtual morava na sua rua.
Foi então que ele perguntou pelo número da casa
dela. Com receio, ela hesitou, mas juntou coragem e digitou o número. Houve um
pouco de silêncio e... ele digitou o número dele.
Estupefata, Marianne quase não acreditou. O seu
namorado era o vizinho do lado direito, o novato que pra lá se mudara um ano e
meio atrás - sim, aquele senhor que às vezes ela via sair de manhã cedo, pra
caminhar no quarteirão, de boné, óculos escuros e bermuda. E bem que Arnóbio
era charmoso!
Próxima cena: arrebatados pela emoção, os dois
deixaram os seus computadores pra um lado e correram pra calçada.
Quem passava naquela rua, naquela tarde ensolarada
e quente, ficou admirado de ver aquele casal maduro, em abraço apertado, lábios
colados, num beijo escandaloso que não prometia ter fim...
Moral da história: se você procura algo de seu
interesse, antes de ir à internet, dê uma espiadinha na vizinhança.
fonte: facebook do autor. https://www.facebook.com/photo/?fbid=10217575751065432&set=a.4826176152100
Nenhum comentário:
Postar um comentário