terça-feira, 23 de novembro de 2021

Carta aberta à dama do teatro cajazeirense

 por Wanderley Figueiredo de Sousa



 Correspondência   
 pelos 41 anos sem Íracles Brocos Pires,  
 cajazeirense, artista  
 que revolucionou uma época. 

É com muita alegria, honra e responsabilidade que eu, artista desta tua terra da cultura, chamada Cajazeiras, ponho-me a te informar como está a situação artística e cultural desta formosa e graciosa terra, de muitos bons ares, à qual a 09 de março de 1979 vós partistes.

Pelo trabalho cultural feito por ti, percebe-se que muita coisa mudou nestes 41 anos. Se voltasse hoje aqui, talvez não mais visse: Romeiros do Futuro, Teatro de Amadores de Cajazeiras (TAC), Moderna Equipe de Teatro de Cajazeiras (Metac), Grupo Boiada, Grupo de Teatro Amador de Cajazeiras (Grutac) e Grupo Terra, mas a vasta cidade educacional com talentos artísticos está altiva e pujante.

Encontraria Íracles, cinco faculdades, entre elas duas de Medicina - onde uma de suas netas formou-se e hoje é médica.

Encontraria também alguns oportunistas de plantão e outros acomodados.

Mas ficaria feliz em saber que Cajazeiras ficou conhecida como Terra da Cultura, ou a Cidade que Ensinou a Paraíba a ler, em função da sua vocação para as artes e a educação, frutos estes do seu trabalho e empenho à arte da cidade. Somos formados de uma verdadeira mistura étnica e cultural, daí o motivo de ser uma das cidades mais felizes do Brasil.

Tivemos a construção de um teatro que leva o seu nome, houve reforma e ampliação do mesmo, entregues em março de 2018 e reforçou essa vocação, com apresentações de espetáculos produzidos por artistas da terra, seja na área cênica, dança ou música. Afora isso, eventos culturais se multiplicam pela cidade, seja no cinema, seja na literatura, no artesanato, na música, no teatro e na dança.

Senão, vejamos: a cidade tem hoje uma produtora cultural que está no nível de qualquer produtora de qualquer parte do país. A CZ Produtora tem se notabilizado pela produção de grandes espetáculos da Paraíba e de outros estados do país, como Rio de Janeiro e Tocantins, colocando a cidade na rota dos bons espetáculos nacionais, tendo realizado e colocado uma Mostra de Teatro no calendário de aniversário da cidade.

A cidade conta hoje, também, com uma editora também de nível nacional. A Arribaçã Editora foi instalada no segundo semestre de 2018 e já tem muitos livros publicados, e continua produzindo outros.

A cidade tem um festival de cinema que já realizou a terceira edição. O Cine Açude Grande reúne todo mês de agosto o melhor da produção cinematográfica nacional, com premiações e reconhecimento dos que fazem a sétima arte.

Nas telas, Cajazeiras exporta talentos. Os filmes: Bacurau, Beiço de Estrada e Pacarrete, lançados recentemente com atores e diretor cajazeirense, ganharam prêmios na França, Itália e em Gramado. Destaques para Thardelly Lima, Buda Lira, Suzy Lopes, Eliezer Rolim, Marcélia Cartaxo, Soya Lira e Ubiratan di Assis.

Não para por ai, Dona ICA. Temos artesanato de qualidade e a criatividade das louçeiras. Na dança, grupos da cidade foram premiados em festival nacional realizado em Fortaleza (Dança de Rua da Paraíba), enquanto um Balé localizado na periferia da cidade investe na formação de futuras dançarinas (Balé Irmã Fernanda).

Na música, a cena roqueira é uma das mais fortes do Brasil, a ponto de ter um espaço só para o rock dentro da programação do carnaval. Também na música, Cajazeiras tem banda tradicional e uma fanfarra que trabalha a inserção social de crianças e adolescentes. O Prima, programa do governo do estado, também mostra sua pujança em Cajazeiras, com um polo que já tem se tornado referência.

No Teatro, não faltam espetáculos locais, participando de festivais estaduais. Além da produção individual, Cajazeiras têm, ainda, um Museu em construção, que conta a história dos fundadores da cidade e de seus escritores e artistas, onde lá, se encontra a história do nosso futebol.

Ah, não te conto! Foi criada e instalada, oficialmente, a Academia Cajazeirense de Artes e Letras, com a posse de 38 imortais e homenagem a 40 patronos que construíram a história de Cajazeiras. Você tem acento lá e seu filho Saulo Péricles (Pepé), é quem a representa, na condição de imortal.

Temos um jornal impresso que vai na contramão dos fatos e se mantém em circulação. O Gazeta do Alto Piranhas é o que chamamos de resistência e ousadia. Já ultrapassando a edição de número mil, levando informação a cidade a região e ao país todas as sextas-feiras.

Através do município, existe um Fundo de Incentivo à Cultura que gera, todos os anos, dezenas de projetos voltados para o segmento artístico nas mais diversas áreas.

Tudo isso referendado por um polo educacional, que inclui cinco instituições de ensino superior: Universidade Federal de Campina Grande, Instituto Federal de Cajazeiras, Faculdade de Filosofia e Letras, Faculdade Santa Maria e Faculdade São Francisco.

O secretario de Cultura da cidade é um de seus discípulos, Ubiratan di Assis, poeta, ator, advogado e que nos representa politicamente numa secretaria que se tornou de primeiro escalão.

​Tudo isso aqui elencado, tem comprovado a vocação natural de Cajazeiras para o segmento cultural. A terra de Íracles Pires e tantos outros talentos artísticos tem sua vocação fundada em sua própria história e no talento de seus habitantes.

Isso é o mínimo que posso dizer desta nossa cidade que ensinou a Paraíba a ler. Convido, portanto, Vossa Senhoria para uma visita a esta majestosa terra, que muita honra terá em receber tão ilustre visitante.

Saudosos abraços. Hoje, segunda-feira, nono dia de março do ano de 2020.

(Artigo de Wanderley Figueiredo, intitulado “Carta aberta à dama do teatro cajazeirense”, publicado no primeiro número da Revista da ACAL - Arribaçã Editora, 2020)



fonte: https://www.facebook.com/Wanderleydesign

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