quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Amelinha Theorga e as artes plásticas paraibana dos anos 20

Cleudimar Ferreira 

foto: Amelinha Theorga nos Anos 20


Natural de Mamanguape, Paraíba, Amélia Theorga Ayres ou simplesmente Amelinha Theorga, como era conhecida, nasceu em 29 de julho de 1907. Era filha de José Theorga e Eutália de Assis Theorga. Despontou-se na pintura de cavalete na década de vinte, do século passado, como uma das primeiras mulheres a trabalhar esse modelo de pintura no estado.

Era cadeira cativa nas edições da revista “Era Nova”, impresso informativo sobre diversos assuntos em moda e entretenimento de cunho cultural e social da época. Em 1922, teve participação marcante no Salon Filipeia, grande exposição coletiva de pintura que congregou vários artistas acadêmicos entre retratistas, desenhistas e pintores de João Pessoa.

Com seu crescimento nas artes plásticas, adquirido a partir da experiência vivida com a pintura e do aperfeiçoamento de sua arte, Amelinha, a convite do Jornal A União, realizou uma exposição individual em 07 de novembro de 1925, no salão principal do jornal, onde expôs seus trabalhos, ganhando forte adesão dos intelectuais, simpatizantes e admiradores da arte da época na cidade. Contando em particular, como o apoio do então Governador João Suassuna, que adquiriu, para o Acervo Patrimonial do Estado, as obras “Reconto de Selva” e “Soluço das Vagas”, e para si, o quadro “Horas de oiro”.

Sobre essa exposição, o jornalista Silvino Olavo em um texto crítico, publicado na época na revista “Era Nova” sobre os trabalhos expostos, assim escreveu:

Há entre os artistas da paisagem dois grupos: um que vê exação na natureza e outro que vê seu da natureza. Compõem-se aquele de meros copistas dos aspectos naturais, que não fazem estar nenhuma colaboração da sua alma no que produzem. O segundo grupo é o daqueles que se poderia dizer tem a suprema audácia de quererem corrigir a obra do Criador. Amelinha Theorga, a simpática detentora de um pincel límpido, dominador da paisagem na Paraíba, pertence ao segundo grupo, o grupo dos que vêm seu, dos que acrescentam a obra do que é como o que imaginam ser.

Sua exposição, ultimamente realizada num dos salões do palacete d’A União, representa o índice incontestável de um formoso talento pictural e um nobre esforço em prol da nossa cultura artística. Não é ela uma inédita em nosso meio. Mais de uma exposição já à fez na Parahyba e a sua fisionomia artística tem sido brilhantemente retratada pelas penas mais atuais do nosso élan literário.

Não é preciso especializada competência para notar os méritos desta artista que não tem escolas nem viagens. Qualquer que tenha em seu espírito um pouco de síntese estética das coisas dirá que a senhorinha Amélia Theorga tem quatro admiráveis da mais pura intuição artística. Escolhamos para exemplo, entre as 25 telas que compõe a sua exposição, como sinal de agrado maior, aquele quadro “Solidão”, um claro-escuro admirável da fatura justa e de serenidade estética. É um recanto delicioso de sombra onde há clareiras discretas, refletindo brevíssimos trechos de céu opalescente sobre uma visão de águas tranquilas. Tudo está inteligentemente concebido e virtuosamente realizado. Não há exageros nem tropeços.

Não há também linhas vazias. Antes, todas as linhas, numa síntese diáfana, são humanizações de sonhos no ambiente. O quadro nº 12, “Horas de Oiroi”, é igualmente uma tela vitoriosa. É talvez por ela que melhor se pode ver a documentação do que afirmamos, de princípio, a respeito da resultante estética de sua arte.

Porque é preciso que se diga, para confirmação maior de uma artista sem o cultivo dos mestres e o convívio dos grandes meios, que na exposição de Amelinha Theorga há esse ritmo interior que ressalta flagrante, numa afirmação de personalidade. Ela reflete, através de sua alma a alma sintética e estética das coisas. Sua alma de artista, estampando-se lhe na retina justamente no momento feliz de fixar a síntese luminosa dos aspectos naturais, integra-se, por assim dizer, na alma difusora da natureza. Tem talento a jovem artista conterrânea de Pedro Américo.

Que ela não arrefeça no seu amor à arte se lhe não vierem os estímulos que porventura espera. A borboleta queima sempre as asas de cada vez que investe contra a chama que a seduz; e, entretanto, não a deixa nunca de voltejar em torno da chama. Afirmou Silvino Olavo em seu artigo.

Na opinião de Wanda Novaes, em um texto também publicado na revista “Era Nova”, ela comentou que a arte da senhorinha Theorga era toda da sua imaginação. Não havia copia. Era tudo quanto lhe falava à sensibilidade e ela assim reproduzia. “Daí a superioridade do seu talento; daí a razão de ser tida como única no diminuto círculo artístico da Parahyba”. Declarou Wanda Novaes.

Sobre o trabalho técnico da pintora Amelinha Theorga, Rau Ferreira assim definiu: “Denota-se, em suas pinturas, uma tendência regionalista, com reproduções da paisagem local, voltadas para o mar; talvez por esta razão, foi chamada de paisagista do mar”. Amelinha produção um bom acervo de pintura em quadros, que expôs de forma individual em diversos salões no Estado, dentre os quais, a que foi realizado na Livraria Casa Andrade (1921); outros no hall d’A União (1922, 1923, 1925); na residência do casal Adrião Pires (1969) e na exposição “50 Anos de Pintura na Paraíba”, na reitoria universitária (1971).

A jovem Amelinha Theorga


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Texto baseado em uma artigo de Rau Ferreira 
fonte: https://historiaesperancense.blogspot.com/2020/02/amelinha-theorga.html

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