por: Eduardo Pereira
Sei que meus amigos bolsonaristas torcerão o nariz, e eu tenho vários, e não os largos por isso, mesmo que meus amigos antibolsonaristas também torcerão o nariz para meus amigos bolsonaristas. Paciência. Mas a realidade é que não há como negar, independente do espectro ideológico de a ou b: Chico Buarque é realmente do Brasil.
Foi
ainda nas rádios de Cajazeiras, minha terra natal, que comecei a admirar Chico
por sua arte musical poética e engajada até o talo. Eu também era engajado até
o talo no movimento estudantil do Colégio Estadual de Cajazeiras, e por isso a
afinidade com Chico Buarque do Brasil.
Quando
ouço A banda, de Chico Buarque, me lembro de a banda de música do maestro
Esmerindo Cabrinha, meu vizinho da Rua Pedro Américo; Quando ouço Bye Bye Brasil,
lembro-me de seu Zenor, motorista de caminhão, meu vizinho da Pedro Américo;
Quando ouço Construção, me lembro de seu Zé Cartaxo, mestre de obras, meu
vizinho da Pedro Américo; Quando ouço Meu Caro Amigo, lembro-me de Miltinho,
Gilson, Ivan Cavalcante, Zenóbio, Aldo, João Robson... Todos os amigos meus
vizinhos da Rua Pedro Américo; Quando ouço João e Maria, lembro-me do
saxofonista Vicente e sua esposa Joaninha, vizinhos meus da Pedro Américo;
Quando ouço Gente Humilde, lembro-me de dona Odília e todos seus filhos meus
amigos, vizinhos meus da Pedro Américo; Quando ouço Turma do Funil, aí eu me
lembro da budega de Quinco, do Bar de Fuba, da budega de seu Joaquim, todos
trazendo a lembrança de meiota (garrafa de cachaça pela metade) “vizinhos” meus
da Rua Pedro Américo...
Portanto,
meus vizinhos da Pedro Américo eram meu mundo, era meu universo retratado nas
músicas de Chico Buarque. Ele sabia expressar minhas particularidades para o
coletivo interiorano, que refletia Cajazeiras, que refletia o Brasil. Acredito.
O dial da Rádio Alto Piranhas e Difusora Rádio Cajazeiras me colocaram em
sintonia com a sonoridade dos arranjos musicais de suas canções.
Minha
admiração por suas músicas sempre foi, principalmente, sua articulação com as
palavras. A carpintaria das palavras estava lá estampada em suas canções.
Tijolo com tijolo num desenho lógico.
Já
em Brasília, tive a oportunidade, eu e minha esposa Maurinete, também sua
admiradora inconteste, de assistirmos um show dele com o cubano Pablo Milanez,
iniciado com o clássico Iolanda, na Praça do Trabalhador em Ceilândia, cidade
periférica de Brasília, num primeiro de maio. Não no Teatro Nacional, grife dos
espetáculos em Brasília.
Li
seu livro Fazenda Modelo, pouco depois que foi lançado, sua primeira obra literária
trazida a público. Dizem as más línguas que hoje ele rejeita porque está colado
ao espírito de A Revolução dos Bichos, de George Orwell.
Anos depois Maurinete me presenteia com uma caixa de cds com clássicos de sua obra musical. Uma relíquia. No fundo no fundo, a obra musical de Chico Buarque é uma das trilhas sonoras de minha vida e de Maurinete. Sem traumas ideológicos. Obra de arte é obra de arte, e zefini.
Hoje ele completa 77 anos. Felicidades,
Chico!
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