por Claudio de Medeiros
foto: Claudio de Medeiros |
Houve um tempo em que a profissão de
caminhoneiro esteve associada à liberdade e à aventura de levar as riquezas de
um país que se desenvolvia e ingressava numa era de progresso. Boas recordações
para abrandar o desânimo de nossos dias.
Há cerca de trinta anos, quando o país vivia
o desafio do crescimento industrial a figura do caminhoneiro não era tão comum
como em nossos tempos. Nos pontos mais afastados do sertão, quando um caminhão
estacionava para conduzir alguma carga, provocava grande agitação nos pequenos
povoados.
“Antônio Martins Primo”, paraibano de
Cajazeiras do Rio do Peixe, é um dos personagens que vivenciou a chegada desses
primeiros veículos; e, como boa parte dos jovens daquelas regiões,
entusiasmou-se com a possibilidade de, um dia, possuir o seu próprio caminhão e
trafegar pelas esburacadas estradas do Brasil dos anos 50. Não demorou para que
ele oferecesse seu trabalho a um caminhoneiro. Em troca da “boia”, ele começou
a trabalhar como “calunga”, ou ajudante, em 1948.
Um ano depois, Antônio começou a trabalhar
como motorista em um Chevrolet 41, importado, fazendo o carregamento de algodão,
numa linha que fazia o percurso Pedra Branca - Senador Pompeu - Crateús - Fortaleza, além de idas a Salvador, Recife, e, muito raramente, São Paulo. As
viagens eram geralmente muito longas, e o jeito era escrever cartas para
abrandar a saudade.
A maioria dos problemas mecânicos tinha que
ser resolvidos pelos próprios motoristas, à alimentação era providenciada com
algumas frutas ou alguma caça, e, à noite, eles tinham que pousar em motéis,
pois as cabines eram apertadas e não havia como dormir. Para o caso de
problemas com os pneus. Antônio lembra que quase não havia borracharias e que o
sistema era muito artesanal: Havia uma mesa em cuja extremidade se cravava um
ferro de brasa de cabeça para baixo, que recebia calor de uma lamparina. Sobre
a base do ferro se colocava a parte do pneu onde estava o furo, que depois era
prensada por um cepo de madeira, fechando assim o buraco.
Daquela época já distante Antônio guarda boas
lembranças, mas o fato que mais o impressionou foi o de um caminhoneiro que,
para dar carona a um viajante, tirou da carroceria um saco de algodão, que
equivalia ao peso do homem, para então poder acomodá-lo. Uma forte demonstração
de responsabilidade com relação ao limite de peso do veículo que ficou gravada
na sua consciência.
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