MEMÓRIA
Cartaz original do filme que o artor Sávio Rolim atuou.
por: Cleudimar Ferreira
"O Cinema sempre foi e será a maior diversão”.
Era mais ou menos essa a frase, da mensagem gravada em um jingle, que anunciava a
programação dos filmes que seriam exibidos pelo Cine Éden durante a semana. O jingle era rodado todo dia na programação da Difusora Rádio Cajazeiras - a Pioneira. Se
retroceder o tempo e assim podermos voltar às décadas de 60, 70, 80, veremos
que uma das principais opções de lazer e entretenimento nesses decênios em
Cajazeiras e todo Sertão, era mesmo o cinema.
Cajazeiras, como uma cidade cosmopolita no
segmento cultural da região sertaneja, sempre teve pulsante nos seus artistas,
a inquietante vontade do fazer artístico. E os seus três cinemas nesse
contexto, era o complemento necessário que aguçava os sonhos e a possibilidade
da realização desses. Discursão sobre os filmes considerados “filmes de artes” exibidos
vez por outra no Cine Teatro Apolo XI; debates sobre as produções do Cinema Novo e as
principais jornadas cineclubistas que aconteciam no Nordeste, parecia ser a
apoteótica viajem que a classe intelectual e artística desse tempo na cidade, fazia
nos finais de semanas, tendo como percurso as salas de cinema de rua que havia.
Dois no centro e outro mais afastado, o citado Cine Teatro Apolo XI, outrora administrado pela
diocese da Cajazeiras.
Mas toda essa vontade travestida de ilusão dos
nossos trabalhadores das artes, se mostrava frustrada quando a notícia que
chegava a cidade era a de que o ator fulano de tal, aquele ou aquela, fez um
filme ou experimentou o sabor do estrelato nas telonas, seja participando como
destaque ou como ponta de uma determinada produção nacional. Isso, às vezes,
causava emulação em muitos, a ponto de alguns ignorarem o destaque, até por mera
ciumeira. Foi o caso do ator cajazeirense Sávio Rolim. Sávio até fazer “Menino
do Engenho” era uma anônima criança talentosa, então desconhecida da classe
teatral, mas que se fez ator depois do filme, pelo brilhante
desempenhado na fita. Mesmo assim, não foi o suficiente para ser consagrado
pela classe artística ou cair na graça do público em geral de Cajazeiras.
Essa falta de empatia que Cajazeiras parecia demostrar
ao trabalho de Sávio Rolim, perdurou seguidamente, mesmo o ator descolando vários
trabalhos em outros filmes que fez depois de “Menino de Engenho”. Isso ficou
claro na noite de estreia no Cine Teatro Apolo XI, em 1976, do filme “O Leão do
Norte” - longa dirigido por Carlos del Pino em 1974-75, que Sávio Rolim participou
como um dos atores de ponta no filme. Lembro muito desse dia, pois estava no
cinema e presenciei a falta de acolhimento como forma de incentivo ao ator que
naquele instante se encontrava na portaria do cinema.
Nessa noite que marcou estreia do filme na cidade, eu estava na
calçada do Cine Teatro Apolo XI, em frente à portaria, esperando um sinal verde
do porteiro Cícero Alves - o Cícero do Bradesco, que sempre me botava para
dentro do cinema em troca de uma ajuda que eu dava a ele, na confecção das
tabuletas de divulgação dos filmes, que eram colocadas nas ruas de Cajazeiras. Quando me preparava para esse momento, de repente um cara desconhecido se aproximou
de mim e de outras pessoas que estavam próximas da grade de proteção da portaria, dizendo que havia participado do filme. “Eu participei desse filme! Eu estou no elenco!” Foram essas as duas frases interpelativa que todos nós ouvimos da boca do ainda jovem ator Savio Rolim.
Se houvesse zelo da sociedade cajazeirense
aos grandes feitos dos nossos artistas, que com grande esforço alcançaram até aqui a
consagração nacional nas linguagens das artes, no mínimo, as emissoras de rádios
da cidade, na época, a Difusora Rádio Cajazeiras e a Rádio Alto Piranhas - administrada
também pela diocese, teriam bradado o dia todo na sua programação,
chamando o público, principalmente a classe artística para ir ao Cine Teatro Apolo XI, pois
naquela noite o cinema ia exibir um filme, cujo elenco constava a participação
de um ator da cidade e que o mesmo, estaria presente nesse lançamento.
Contrariando o que seria natural em um caso como
esse, nada foi feito de divulgação nas rádios sobre a presença do ator no
cinema da diocese, no lançamento do seu filme. Não houve também mobilização da classe
artística, nem de pessoas desse seguimento para recepcionar o ator de Menino de Engenho - principalmente a classe teatral da época, que
poderia ter feito uma campanha de divulgação boca-a-boca, ou ter distribuído panfletos,
etc. Da parte do cinema, tendo a frente o bispo cinéfilo Dom Zacarias Rolim Moura, foi pior
ainda. Lembro que Zacarias mesmo estando no cinema naquela noite, nem tomou conhecimento
da presença do ator do filme que seria exibido naquela noite, na calçada do seu cinema.
Nessa época, o feito de se chegar aonde Sávio
Rolim havia chegado, era fato raro. Não era tão fácil assim, pois as oportunidades
que surgiam, eram preenchidas ou destinadas aos atores do eixo Rio - São Paulo. Chegar ao
estrelato ou se ver na telona ou na tv, não passava de um sonho para muitos
atores de outras regiões do país, principalmente do Nordeste, que adiavam ou guardavam
seus sonhos se contentando com as raras participações nas produções
documentais e nos curtas realizados pelo Cinema Novo. Material esse que pouco passava nos cinemas comerciais.
Portanto, para referendar essa memória, afirmo que presenciei In Loco, nessa noite de estreia do
filme “O Leão do Norte” na cidade, como se comportou o público cajazeirense e como foi à recepção na época que Cajazeiras
deu a Sávio Rolim, sua até então estrela maior no cinema nacional dos anos 70 e 80, principalmente.
Depois da rápida conversa que tivemos e das poucas perguntas
que eu e as outras pessoas curiosas, fizemos ao ator, eis que se aproximou o inicio da projeção do
filme e o público que já era pequeno, foi ficando menor ainda, se esvaziando. Vi quando Sávio Rolim se afastar um pouco de nós e, em um dado momento, sem companhia, sozinhos na
calçada do Cine Teatro Apolo XI, presenciou as ultimas pessoas que chegavam as presas e se dirigiam a bilheteria e em seguida a portaria. Sem opção, o ator vendo que não havia mais nada a fazer ali naquele local, olhou para um lado e para um outro e depois saiu... saiu em companhia de um casal que tinha acabado de chegar, em direção a Catedral Nossa Senhora da Piedade. Minutos depois, o porteiro Cícero Alves acenou para mim, fazendo um sinal de que eu já poderia entrar.
Auditório do Cine Teatro Apolo XI. Foto do arquivo de Netinha Quirino
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REITURA DA FOTO EM PRETO E BRANCO.
O Auditório do Cine Teatro Apolo XI, não servia apenas para exibição de filmes, mas para outros fins. Para shows musicais, palestras, apresentações teatrais e festas de concluintes da área educacional da cidade. Na foto acima cerimônia de colação de grau da primeira turma de formandos da FAFIC no auditório do cinema.
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