por: João Batista de Brito
Hoje, dia 17 de outubro de 2017, tem início a XXI versão do SOCINE, evento de caráter cinematográfico, este ano acontecendo em João Pessoa. Mas não é do SOCINE que quero falar. Antes dele, houve o PRÉ-SOCINE, uma atividade organizada pelos pesquisadores e estudiosos do cinema João Luiz Vieira, André Dib e Talitha Ferraz.
E que atividade foi esta? Teve o nome de “História de cinemas: exibição, modos de ver, experiências locais e regionais”, mas, de minha parte, eu a chamaria de “Em busca dos cinemas perdidos”.
Na Sala Aruanda, da UFPB, em formato seminário/oficina, o trio expôs e debateu com os interessados – alunos, professores e demais – questões relativas ao “estudo do espaço de exibição cinematográfica e sua articulação com a fruição fílmica, que implica a experiência pessoal (afetiva e sensorial) e os desdobramentos relativos aos espaços de exibição e interação coletiva em sua diversidade espectatorial.”
Em outras palavras, deslocou-se o foco da História do Cinema para as histórias dos cinemas.
Hoje em dia, e no mundo todo, a gente sabe, a fruição cinematográfica está limitada aos impessoais cinemas de Shopping, e/ou aos meios caseiros do DVD, Blu-ray ou computadores, e, para a juventude atual, essas parecem ser as formas ´normais´ de ver cinema.
A oficina do PRÉ-SOCINE deu protagonismo ao passado, quando os cinemas tinham calçadas e endereço e, mais que isso, tinham personalidade, cada um no seu prédio próprio, de arquitetura autônoma. O objetivo, porém, não foi estimular o saudosismo, e sim, propor um posicionamento com relação à situação dessas antigas salas de exibição.
O que ainda resta desses cinemas antigos? Foram demolidos ou estão em ruinas? Sabe-se ainda onde se situavam? Os seus prédios ainda são reconhecíveis? Estão parcialmente restaurados, mesmo que para outras empresas? Ainda guardam traços arquitetônicos do que foram? Seria possível deles resgatar resquícios de qualquer ordem que seja?
Sugerindo, entre várias outras iniciativas, a criação de grupos de estudo sobre a temática, a oficina do PRÉ-SOCINE propôs a criação de uma rede de interessados que ficariam ligados, entre outras coisas, para a configuração de um mapa (local, regional ou nacional) dos cinemas extintos. E, naturalmente, que cada um, se dedique à pesquisa sobre os casos mais próximos a si mesmo, espacial ou emocionalmente.
Uma atitude pode ser o mero registro, fotográfico, fílmico ou de outra ordem; mas, não se descartam as iniciativas de buscar formas de luta para recuperar os prédios recuperáveis, eventualmente, propondo-se a autoridades governamentais a transformação em fundações de cultura, como está no exemplo do Cinema São José, em Campina Grande. Para ilustrar alternativas possíveis, André Dib exibiu dois curtas que trataram da temática: “Cine Pajeú” e “A morte do cinema”.
Um bom número de interessados participou intensamente da oficina, e, na parte final, houve espaço para os depoimentos individuais, e então, foi possível ouvir vozes que vinham de Cajazeiras, Patos, Rio Tinto e outras localidades paraibanas, todos querendo juntar-se ao projeto, alguns deles apenas com a vontade de agir, outros, como é o caso dos estudos sobre o cinema de Rio Tinto, com trabalho já iniciado ou realizado.
Conforme sugerem alguns dos meus escritos publicados, sempre me preocupei com o destino das “ruínas” (título de minha penúltima crônica, aqui veiculada) dos velhos cinemas de João Pessoa que, por ora são ruínas, mas daqui a pouco nem ruínas serão mais. De modo que saí da oficina do PRÉ-SOCINE entusiasmado e certo de que, com o tirocínio de pessoas como João Luiz Vieira, André Dib e Talitha Ferraz, essa nova (novíssima, eu diria) linha de pesquisa na área cinematográfica vai longe e promete frutos mais que interessantes.
A oficina ocorreu entre os dias 13 e 14 deste mês de outubro, porém, de alguma forma, continua: na próxima quinta-feira, dia 19, ficou acertado que o grupo, e quem mais desejar, vai encontrar-se, às 13:30 horas, no Ponto de Cem Réis – centro de João Pessoa –, para dali dar início a uma excursão pelos locais onde se situavam os cinemas centrais da cidade: Plaza, Rex, Municipal, Brasil, Filipeia, Astória e São Pedro.
Para os não residentes em João Pessoa, ou para os mais jovens, será uma jornada de mero (re)conhecimento; para os viventes municipais de minha faixa etária será – não posso deixar de confessar – uma peregrinação cheia de dores. Mas irei.
fonte: https://imagensamadas.com/
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