Waldemar José Solha
escritor, dramaturgo e artista plástico.
escritor, dramaturgo e artista plástico.
Ontem à noite me lembrei da
enorme simplicidade de Marcélia Cartaxo ao me contar, na plateia do Theatro
Santa Roza, no final dos anos 80, que - depois da apresentação, em São Paulo,
da peça “Beiço de Estrada”, de Eliezer Rolim, de que fizera parte estava
tirando a maquiagem, quando uma colega disse que “aquela véia” estava querendo
falar com ela.
Era Suzana Amaral - que morreu agora, aos 88, então apenas cinquentona.
- Vixe, diga que agora num
posso não!
- Ela disse que é muito importante.
E
era: vinha convidá-la pra um teste a fim de fazer a Macabéia de “A Hora da
Estrela” - filme em pré-produção, baseado no romance de Clarice Lispector.
A
diretora se entusiasmara ao vê-la em cena, pressentindo, ali, a sua grande
intérprete.
- Como ela me disse que mandaria a passagem pra isso, Cajazeiras em peso ficou esperando pelo acontecimento. Na demora, acreditou-se que a história fosse furada, mas de repente chegou.
- Como ela me disse que mandaria a passagem pra isso, Cajazeiras em peso ficou esperando pelo acontecimento. Na demora, acreditou-se que a história fosse furada, mas de repente chegou.
Fernanda
Montenegro contracenou com ela, nesse teste - Marcélia me disse. Terminada a
cena, Suzana Amaral ia sugerir algumas retificações, a grande dama do teatro e
da TV e do cinema disse que... Deixasse a coisa fluir. Bem, Marcélia ganhou o
Urso de Prata por sua interpretação, no Festival de Berlim de 1985. Mas emoção
maior lhe veio no festival de Brasília, em que a colocaram no palco, enquanto a
plateia delirava, e ali - temo que minha memória exagere - ela se encolheu, em
posição fetal.
Vem
fazendo uma grande carreira. Difícil esquecê-la domo a Laurita de “Madame
Satã”, do Karim Aïnouz. Foi aplaudida de pé - segundo Fabiano Ristow, de O
Globo - aos gritos de “viva Marcélia”, por causa de sua performance
arrebatadora e emocionante no filme “Pacarrete”, de Allan Deberton”. Contracenei
com ela no curta “Antoninha”, do Laércio Filho, do qual ela era, ainda,
diretora de elenco, Em 2010. A mesma simplicidade.
Vermeer deve a celebridade a Proust, que botou um
personagem a se empolgar com o quadro “Vista de Delft”, no “Em Busca do Tempo
Perdido”. Zé Américo foi alçado à fama por um artigo em que Tristão de Athayde
bradava, ao ler “A Bagaceira”: “Romancista ao Norte”. Marcélia teve a Suzana
Amaral. Devemos isso à grande cineasta.
publicado em: https://www.facebook.com/waldemarjose.solha.5
Nenhum comentário:
Postar um comentário