Cleudimar Ferreira
cleudimar.f.l@gmail.com
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A cigarra do “apê” tocou já
nervosa. Intuitivamente, sabia ela que os dedos das mãos que provocou aquele
ato sonoro, era dele. O marido ensimesmado, mas bem intencionado, fez um
movimento voluntário até a porta, tentando antecipadamente atender o ocaso. Um
ato já previamente reivindicado pela esposa, que do fundo da despensa havia
gritado: - deixa... Que eu atendo! O marido a um pé da porta cortou a cena daquele instante. E estático, esperou a mulher
chegar para abrir aquela voluntária entrada. Quando a mesma chegou, olhou pelo
visor e se alumbrou na dúvida da imagem que viu lá fora. Para sua segurança e
de todos que ali moravam, baixou a cabeça e rodou a chave, deixando a sua
dúvida a mercê do “Pega Ladrão”. Devagarinho posicionou a face no pequeno
espaço permitido pelo “Pega Ladrão”, aberto entre a porta e a maçaneta,
revelando para se, a imagem da inusitada visita. Rapidamente tentou fechar,
pois achou que não era o momento. Em vão, já que não suportava mais aquele
furor masculino confrontando com sua fragilidade de mulher. Viu que não havia
força para segurar ou impedir o acesso daquele homem no seu apartamento. Abriu
ligeiramente a porta e o visitante sem pedir licença, entrou bruscamente nervoso
disparando a pergunta: - cadê o meu dinheiro? Me pague o que você mim deve? O
marido da mulher irresoluto descarregou em cima do estranho o seu vil reação e falou:
- qual é o problema cara, isso é jeito de entrar na casa dos outros. Invadindo
com violência o recinto alheio. O estranho respondeu: - olha, você fique na
sua. Meu negócio é com ela. Voltou para mulher, olhou profundamente nos olhos
dela e ela no dele, e com mais calma ele repetiu a pergunta: - quando é que tu
vai pagar o que me deve? Ela naquele instante elevou a mão até o umbigo do
corpo malhado do rapaz e singelamente falou: - eu já te paguei até demais e
você sabe disse. E ainda com a mão no umbigo daquele abdome exposto por uma
pequena blusa, olhou mais uma vez nos olhos do rapaz e pediu calma. Calma, calma...
E foi conduzindo-o até a porta.
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