segunda-feira, 23 de março de 2020

ZÉ LIMEIRA


Era um negro analfabeto nascido no final do século XIX, em Teixeira (Paraíba), que morreu em 1954. O também poeta Orlando Tejo foi o grande responsável pelo registro da poesia de Zé Limeira, cantador bom de viola, voz potente, que deixava perdidos os que ousavam desafiá-lo, soltando palavras que não existiam em nenhum dicionário, mas que o povo achava bonito e aplaudia. Mas não eram só palavras inexistentes que ele usava, eram situações inexistentes também, juntando personalidades e fatos célebres que se passaram em séculos muito diferentes. Jesus Cristo, Getúlio Vargas, Napoleão Bonaparte, Tomé de Souza e outros vultos históricos aparecem às vezes convivendo-nos mesmos versos, às vezes em situações absurdas, como Jesus Cristo “sentando praça na polícia”. 

Orlando Tejo conheceu Zé Limeira e o ouviu pela primeira vez em 1940. Registrou seus versos e publicou o livro “Zé Limeira, poeta do absurdo”, cuja última edição, se não me engano, é do ano 2000. É possível encontrar esse livro em sebos, e quem tiver oportunidade não deve perder: adquira que vale a pena. Aliás, uma lembrança: muita gente acha que Zé Limeira não existiu que é uma lenda criada por Orlando Tejo, pois não existem fotos dele.

A cidade onde Zé Limeira nasceu Teixeira foi o principal reduto de repentistas no século XIX e onde, segundo Tejo, a viola teria sido usada pela primeira como instrumento de cantoria lá pelos idos de 1840. Vivente até o ano de 1954, não há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas pelejas sumiram ou se deterioraram.

Zé Limeira - segundo alguns registros sobre esse que se tornou o mais mitológico dos poetas brasileiros - chegava a andar 60 quilômetros por dia, para participar de desafios em quase todo o Nordeste. Onde aparecia, era recebido como verdadeiro pop star pelo povão, que virava a noite, nas festas e feiras, ouvindo e rindo com seus versos malucos, os quais eram divulgados e preservados à base do boca a boca.



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