Francisco Alexandre Gomes
[In memoriam]
[In memoriam]
Em termos de
inverno, segundo nos consta, nunca dantes houve em todo o nordeste um como
1940. Aquele ano veio para ficar na história dos sertões, quase sempre
castigados pelas secas periódicas, como sendo o ano da providência divina. Foi um
ano de muita fartura. De muito milho verde, feijão, arroz e batata doce. Ano de
muitas festas e, como não poderia deixar de ser, de muitos casamentos. O
sertão, como num passo de mágica, de repente deixou de ser o lugar do heroísmo
e sofrimento caboclo para ser o paraíso da alegria, do amor e da felicidade.
Tanto era assim, que era mais fácil encontrar uma agulha num palheiro do que
traços de infelicidade e tristeza na face queimada do sertanejo.
Como eu citei no parágrafo anterior que 1940
foi um ano de muitos casamentos, creio, que lhes deve a história do casamento
de Edgar e Sucena, ou melhor, do que aconteceu na primeira noite do casal.
Edgar e Sucena moravam no Sítio Boa Vista e, como já transavam um namoro de
alguns anos, resolveram juntos os cacarecos, justamente, naquele ano de
fartura. Como seus pais estavam numa boa, no que se refere às finanças,
decidiram fazer uma festa de arromba no dia do casório dos filhos. Acertaram os
velhos entre si que um daria o almoço aos noivos e convidados e o ou daria o
jantar. Tudo foi combinado a bom termo. Eis que, finalmente, o tão esperado dia
chega para a união dos jovens rurícolas.
Era uma sexta-feira, véspera de São João. O
casamento foi realizado naquele dia na missa das oito e montados em animais
fogoroso os noivos e a comitiva nupcial antes das dez da manhã já estavam de
volta à casa dos pais. Chegaram quase na hora do almoço preparado a capricho
pelo pai do noivo. O velho que estava muito satisfeito com a escolha feita pelo
filho fez de tudo o que estava ao seu alcance para o sucesso da festa. Matou um
porco de muitas arroubas que tinha no chiqueiro. Mandou prepara tudo bem
direitinho e não esqueceu de mandar
a mulher fazer muitas pamonhas e assar
muito milho para os covivas. Foi um almoço e tanto. Tudo estava como manda o
figurino da roça. Tudo mundo se fartou de tudo, especialmente, a noiva que,
como era doida por pamonha e milho assado, enquanto esperava ir à mesa comeu
nada mais e nada mens do que umas quatro pamonhas e algumas espigas de milho
assado.
À noite o jantar foi na casa do pai da noiva.
Lá também de tudo hava com fartura. Depois do jantar, como era noite de São
João, os noivos ficaram ao redor da fogueira matando o tempo, enquanto chegava
a hora de ir para casa. Como a noiva era em verdade, uma glutona, nesse espaço
de tempo de espera, meteu a cara no milho assado e na pamonha sem pena do
estômago já farto. Mas como o tempo corria, finalmente, foram para casa.
Acontece que a noiva por causa do abuso das comidas teve um tremendo bucho inchado.
À noiva noite inteira na camarinha do casal a “artilharia” funcionou ininterruptamente.
O “canhão” explodia a cada segundo que passava. O quarto era um fosso de
poluição. O noivo de olhos vidrados nas telhas e sufocado pelo mal cheiro pedia
a todos os santos que aquela noite de agruras terminasse. Já de madrugada a
mulher acordou e ouvindo a lamentação o marido exclamou carinhosamente: “Meu
vei, pruquê tu qué qui o dia amanheça logo?”. O marido que já estava de saco
mais do que cheio, respondeu-lhe indignado: “Pra você ir sujar no inferno, sua
desgraçada dos seiscento mili diabo”
fonte: Jornal A União
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