Postagem publicada do Facebook do autor em 11 de junho de 2016
O autor - Gilvan de Brito ao lado de Ica Pires, no intervalo dos ensaios, na década de 70, da peça "Rafameia" de autoria do autor. |
Ela tinha uma força interior impressionante.
Entrava no palco, olhava para o público e, serenamente, ia dando o seu recado,
interpretando os jogos cênicos da milenar arte do grego Aristófanes, do romano
Plauto, dos brasileiros em geral, Martins Pena, Augusto Boal e Nelson Rodrigues
e dos paraibanos em particular, Fernando Teixeira, Tarcísio Pereira, Ednaldo do
Egypto e Zezita Matos. Às vezes, em lágrimas, extravasava tristeza, comovendo a
todos; de outras explodia em alegria, levando ao riso a às gargalhadas, em
reações que impressionavam pela forma como conseguia, numa empatia muito
particular, trazer as pessoas para aquele mundo de dramas e comédias que ela
construía como se dele fosse parte, como personagem de alguma ficção ou de
fatos que, pela semelhança, se confundiam com a pura realidade contemporânea.
Foi uma das maiores atrizes da Paraíba, do Nordeste e do Brasil. É uma pena que
não tenha ultrapassado as fronteiras do nosso Estado com a sua arte. Sendo uma
pessoa socialmente bem resolvida, esposa de um grande médico (Dr. Valdemar) de
enorme clientela, preferiu restringir o seu espaço ao sertão paraibano até que
a morte a ceifasse prematuramente. O mais importante, porém, de sua existência
e de sua veia artística, foi o legado que deixou a juventude de Cajazeiras
durante três décadas, a quem se dedicou com uma paixão indômita, transferindo
seus conhecimentos e formando novos autores, o que fazia com destemor.
Infelizmente o tempo passa rápido e aquelas pessoas que marcaram época na nossa
terrinha terminam caindo no esquecimento. É preciso que alguém se lembre de
seus feitos para mostrar, eventualmente, aos que vão chegando, a importância de
muitos que por aqui passaram e deixaram o seu rastro. Dona Ica foi uma dessas
pessoas que, embora tenha sido lembrada para denominar o teatro de Cajazeiras
(Teatro Íracles Píres), muitos não conhecem a sua história, aqui revelada numa
singela pincelada deste breve comentário. Nesta foto ela esbanja alegria, a meu
lado, na década de 70, durante o intervalo do ensaio de uma peça da minha
dramaturgia, “Rafameia”, por ela dirigida e mostrada na visita do governador
Ivan Bichara, filho de Cajazeiras.
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foto: a foto que ilustra essa postagem, pertence ao acervo de Gilvan
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