quinta-feira, 23 de maio de 2019

Desde meninota

Cristina Moura
do blog: palavrasecores.blogspot.com


Janelas/20 x 29,5 cm/Colagem - papel sobre papel/Abril - 2016

Caro Cleudimar, bom dia. Seja em qual horário for, é bom dia, é dia de saber que a vida continua. Esta crônica-carta veio com certo atraso. Mas, em se tratando da palavra escrita não factual, que é meu caso aqui e agora, é sempre tempo de escrever, é sempre tempo de abandonar um pouco o calendário e o relógio para manter algo palpável e durável para daqui a quantos anos forem possíveis. 

Cleudimar Ferreira publicou um texto no seu blog Cajazeiras de Amor. O artigo também foi publicado no blog Coisas de Cajazeiras, do meu irmão Christiano Moura. Isso foi em março de 2016. Como em História, para o pesquisador, o que estiver dentro do período de cem anos é considerado bastante jovem, estou no lucro.

Tomei um susto logo no título: A arte de Cristina Moura promete. Fiquei em dúvida se essa promessa seria concretizada logo. Fiquei me perguntando, exaustivamente, se a promessa seria para mim. Se a promessa seria para a sociedade cajazeirense. Se a promessa seria para o mundo. De todo jeito, continuo achando que a arte salva e salva em qualquer dimensão. Fiz alguma coisa para terapia, outra para vender, outra para presentear, outra para me realizar. Salvei-me em todos os casos.

Desde criança que compactuo com todas as esferas da arte. No universo infantil, perpassavam a cor, a mistura das cores, o desenho, a colagem, a ligação das palavras com as ilustrações, os diferentes suportes. Minha mãe, Ivanícia, de maneira sábia, organizada e libriana, guardou muitas dessas minhas incursões artísticas de meninota. Certa vez, e bem recente, fiz uma triagem dolorosa. Editar é sempre um trabalho complicado, ainda mais de coisas minhas. Mas, nesse exercício, selecionei uns mimos, uns trabalhos de escola, umas coisinhas fofas. Em breve, postarei no meu blog e avisarei por aqui também e em outros meios.

Uma das fotos postadas com o seu artigo, Cleudimar, é uma colagem que se chama Férias. Eu, realmente, tinha acabado de entrar de férias e decidi reunir vários pedaços de papel: revistas e folhetos de propaganda de lojas de eletrodomésticos ou supermercados. Selecionei somente os trechos lisos, sem fotos ou textos, e fui colando, colando. O suporte foi papel couchê. Foi uma terapia tão deliciosa e intensiva, que terminei o quadro e já comecei outro. Um dia quero fazer uma exposição somente com as colagens. Depois fui desenvolvendo outro tipo: colagens, mas deixando espaços em branco no quadro. É outra proposta. Cada espaço, espécie de silêncio, também exerce um poder. É linguagem.

Quanto aos trabalhos de pintura, opto sempre por acrílica. Fácil de dissolver em água. O solvente da tinta a óleo, geralmente óleo de linhaça, é muito irritante ao meu nariz e ao meu estômago. Lindíssimos os trabalhos a óleo, mas meu rumo, por enquanto, é a acrílica. O pontilhismo surgiu por acaso. Virou uma admiração constante. Sempre estou me inspirando nos mestres impressionistas Georges Seurat e Claude Monet e outros mais contemporâneos que também merecem todo o meu apreço.

A arte da aquarela, porém, ainda não chegou pra ficar na minha prática. Ainda não consegui o ponto exato da dosagem da água com a tinta no papel. Mas, é um desejo. Um dia vou executar com mais frequência. A única obra que considero apresentável é Cajazeira. Dei de presente a Mãinha. Está lá na parede, na Rua Souza Assis, 43, para quem quiser ver. 

Cleudimar, você está certo. Procuro combater a visão ocre por fatalidade do tempo. Meu amigo João Braz me ensinou muito e continua do seu modo, ensinando. Com ele aprendi a enxergar a arte nas pequenas coisas. A Literatura e a História me presenteiam com esse olhar também, analisando obras e autores, repensando fatos e lugares. Mas a obra de arte pode transcender a tudo isso. É à força da criação. São meus filhos espalhados por aí. 



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