sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Vale do Cariri, Ouro Cultural do Nordeste

por: Vilma Maciel

Vale do Cariri, por Dihelson Mendonça

O Cariri, que se situa na extremidade Sul do estado do Ceará, foi povoado no primeiro quartel do século XVIII, por criadores de gado provenientes da Bahia e de Pernambuco. Região verdejante, deve seu nome aos índios Kariri, tribo que povoou a serra do Araripe. Segundo Capistrano de Abreu, os Cariri diziam-se originários de um lago encantado.

Devido a sua riqueza natural, caracterizada por suas águas perenes jorrantes das faldas do planalto do Araripe, sua vegetação verde, seus buritis e babaçus de porte elegante, canaviais ao pé-da-serra do Araripe, dos brejos e fontes, pode ser visto como “ Um presente da Chapada do Araripe”, formação de arenito com altitude de 900 a 1000 metros, com suas cento e tantas nascentes de águas cristalinas.

Alguns historiadores afirmam que o Cariri foi descoberto por Bandeiras da Casa da Torre na Bahia, fundada por Garcia d`Ávila, que chegou ao Brasil na comitiva de Tomé De Souza. Outras fontes indicam o fato de que os primeiros invasores do Cariri eram descendentes em linha direta de Diogo Álvares Correia, famoso Caramuru. Aqui chegaram com o objetivo de lutar ao lado dos índios Kariri, que lutavam contra os Kariú.

O Vale do Cariri se estende ao Sul do Estado do Ceará, abrangendo onze cidades, numa área de 9.585 quilômetros quadrados. Constitui cerca de 60% do território cearense. Clima diferenciado e terra férteis. Compreende os seguintes municípios: Abaiara, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Milagres, Mauriti, Brejo Santo, Jardim, Santana do Cariri, Nova Olinda e Caririaçu.

Embora o algodão tenha sido plantado em algumas partes do Vale, visando a exportação para o exterior, o cultivo da cana-de-açúcar e o engenho foram os principais responsáveis pela formação da hierarquia social do Vale.

O desenvolvimento comercial proporcionou a arrancada dos recursos econômicos.

No Crato, a chegada de comerciantes de Icó e outras cidades do Nordeste foi responsável pela abertura das primeiras grandes lojas e farmácias do Vale. Foram construídos os primeiros sobrados, desenvolvendo a rede de transportes, serviços públicos, escolas. Foi fundado o primeiro Jornal da região. ” O Araripe, ” por volta de 1855.

O rápido povoamento da região, decorrente em parte de sua agricultura, deu lugar ao surgimento de vários municípios. Atualmente, “O Coração do Cariri” é chamada Microrregião 78: constituída pelos municípios de Crato-Juazeiro-Barbalha. O conhecido turismo e a cultura regional do vale tomaram proporções surpreendentes graças a fundação da cidade Juazeiro, e os fatos extraordinários envolvendo a beata Maria de Araújo e o Padre Cícero Romão Batista, com a transformação da Hóstia Consagrada em sangue na boca da beata em 1889.

Imagem de Judson Jorge

“Juazeiro é o verdadeiro milagre do Pe. Cícero. ” Os outros fatos “extraordinários” se foram realmente milagrosos, o foram por Obra de Deus. Para operar esse milagre, Pe. Cícero combateu a violência, ignorância e o flagelo da seca, enquanto se defendia da perseguição de Dom Joaquim e das armas de Franco Rabelo. Imposta a ordem e respeito, o povoado entrou em ritmo de prosperidade. No final do século XVIII, a cidade mais importante da região do Cariri era o Crato, a chamada “Pérola do Cariri” era o centro fornecedor de alimentos para o Nordeste central, desenvolvendo importantes atividade comerciais na região.

Já, para Rui Facó,“ O Cariri era também um refúgio para levas e levas de miseráveis sem terras e sem trabalho, que aqui encontravam pelo menos água, multiplicando-se os bandos de cangaceiros ou os redutos de fanáticos.” A influência do Pe. Cícero cresceu definitivamente. Com a imigração dos Romeiros, o aumento da mão de obra, o trabalho a fé e a oração não há dúvida, foi o Pe. Cícero a alavanca do desenvolvimento dos maiores fatores do progresso da vida econômica sul - cearense.


O rico artesanato, além da produção artística dos vários municípios da região, O Juazeiro do Norte é um fenômeno fascinante, uma vasta oficina, ouro cultural, onde tudo se produz, para abastecer os mercados nordestinos, e dos mais distintos centros de consumo do país. É uma cidade que transforma seu artesanato em seu principal esteio econômico. Sua arte e produtos artesanais apresentam grande variedade enriquecida por sua originalidade.

A Arte manifestada no Centro Mestre Noza de Juazeiro

Segundo testemunho dos artesãos mais velhos ou de seus descendentes os romeiros que chegavam a Juazeiro com a intenção de ficar eram aconselhados pelo Pe. Cícero a dedicarem-se às atividades artesanais. Quando em 1998 entrevistei Dona Maria das Graças, já em idade avançada (86 anos), residente à rua do Limoeiro, falou-me de sua arte no manuseio da Palha. De suas mãos eram produzidos os mais lindos artigos: cestas, chapéus, esteiras. Enquanto que seu companheiro e os filhos trabalhavam o gesso com diversas modalidades artesanais em artigos religiosos. A arte brota no Cariri e explode no Juazeiro: talhas, xilogravuras, cordéis, cerâmica, ourivesaria, produtos de couro e grande produção literária. Em toda ela o maior referencial é a venerada figura do “ Padim Ciço e N. Sra. Das Dores”.


O mundo do Cordel. O poeta de Cordel, segundo o cordelista Expedito Sebastião da Silva é: “ aquele que escreve unicamente dentro do sistema de convívio do Povo(...) o poeta de bancada, é uma pessoa que exprime com muitos detalhes o fato, uma ocorrência, (...) tanto para angariar alguns tostões para manutenção, como para levar o fato ocorrido aos que não o conhecem. ” A importância da Cultura regional deve-se também a essa gente operosa Simples, determinada e consciente de seu trabalho e potencial artístico.

São muitos os antigos e novos artistas: Entre os clássicos da Literatura de Cordel que teve grande avanço desde a Tipografia São Francisco cujo dono o poeta José Bernardo da Silva, o terceiro homem na linha de sucessão da poesia popular. Leandro Gomes de Barros foi o grande poeta iniciador, seu legado: conta quase mil títulos de folhetos.

Vejamos alguns nomes de destaque, poetas e cantadores: João Martins de Athayde, José Bernardo da Silva, Expedito Sebastião da silva, Manuel Caboclo e Silva, José Cordeiro, João Mendes de Oliveira, Antônio Caetano de Palhares, João Cristo Rei. Pedro Bandeira, João Bandeira, Maria do Rosário (cordelista), Esmeralda Batista, e muitos outros: ceramista, artesãos de couro, Ourivesaria, são importantes colaboradores deste centro de grande projeção do país.


 Vilma Macie
Escritora, Professora e Artista Plástica.
É natural de Cajazeiras e radicada em Juazeiro do Norte/CE 
onde mora a muitos anos, 



postagem publicada no blog: https://vilmamaciell.blogspot.com/

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