Por: Fernando Carvalho
Tela: O Velho
do Saco. Técnica: Acrílica. Autor: Fernando Carvalho
O autor explica
sua tela:
Um andarilho que vive pelas ruas de João Pessoa, conhecido
por “velho do saco”, povoa o imaginário do “pessoense” a várias décadas. Tão logo os
primeiros raios do sol incidem sobre seu rosto, numa parada de ônibus qualquer,
onde passara a noite, ele levanta-se, calça os sapatos, já bastante atingido
pela ação deletéria do tempo e, na contramão da vida e dos automóveis que
trafegam por uma movimentada avenida, inicia mais uma caminhada sem destino,
levando junto a ele, nos braços, algumas sacolas plásticas e nos ombros um
enorme saco cheio de histórias, tristezas, melancolia, dor e solidão.
Pouco se sabe sobre ele, pois sempre arredio, não é de
conversa. Quando alguém se aproxima para “ puxar um assunto”, ele se retira
bloqueando logo a conversa.
Alguns falam que era poliglota e de boas condições
financeiras e que uma desilusão amorosa o fez viver num mundo à parte,
desligando-se das necessidades básicas do ser humano, como Higiene, Saúde,
Alimentação e Moradia. O fato é que, “O Velho do Saco”, é um ser enigmático. Quando
o vi pela primeira vez, no final da década de 1980, encetei logo a refletir
sobre o sentido da vida. Quem sabe, talvez, não seja essa a sua missão?
Certa feita, durante uma missa na Igreja da Misericórdia,
enquanto o sacristão passava a sacola, junto aos fiéis, para a coleta do
dízimo, ele estirara a sua mão junto a sacola, acompanhando o sacristão durante
todo o seu percurso, deixando todos os que se faziam presentes, na ambiguidade,
sem saber se dariam o dízimo ou esmola a ele. À vista disso, não tive sombra de dúvida: “O VELHO DO SACO”
tem muito a nos conferenciar, mesmo que, paradoxalmente, não locucione uma
única palavra.
FERNANDO FERREIRA DE CARVALHO
É natural de Cajazeiras, possui graduação em Engenharia
Mecânica e
pós-graduação em Engenharia de Produção. É ator, artista plástico, escreve
poemas, crônicas, apresenta shows de mágicas.
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