Essa
pergunta é muito fácil de responder num país civilizado, com uma Educação
massificada e um grau de cidadania avançado. Sim, mas a Academia de Letras é
uma entidade que congrega escritores, intelectuais das humanidades, das letras
e das artes, podendo congregar cientistas e notórios saberes em diversas áreas
do pensamento.
A
primeira Academia de Letras do Brasil foi a Academia Cearense de Letras,
fundada três anos antes da Academia Brasileira de Letras, em 1894. Nos moldes
da Academia Francesa e, tendo como base a Padaria Espiritual (movimento
literário lançado em Fortaleza em 1892), a Cearense foi pioneira na congregação
de intelectuais de linhagem francesa no Brasil. Depois da fundação da Academia
Brasileira de Letras, a necessidade de promover o alinhamento intelectual com a
“corte” foi um grito de libertação dos provincianos com relação ao pensamento
da metrópole, que já era incipiente se comparado ao pensamento europeu. Esses
detalhes históricos são apenas um preâmbulo para analisar a fundação da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL, neste último dia 17 de janeiro
de 2019.
Durante as comemorações de festejos do bicentenário do Padre Rolim, patrono número um da ACAL, pelos idos do ano 2000, criou-se uma Academia no papel, mas, de fato, talvez fosse apenas motivo para enaltecer a data e quem sabe angariar fundos para o foco principal do evento, o aniversário do padre. E como era de papel e não de fato, a Academia de 2000 ficou na gaveta dos envolvidos no festejo e nunca foi sequer comunicada aos escritores da cidade.
Alguns
anos depois, tive a pretensão de arregimentar escritores para a criação de uma
Academia. Inocente e desconhecedor da existência de outra academia, mesmo que
fictícia, levei o projeto à frente e elaborei estatuto regimento interno e,
juntamente com alguns amigos, elencamos possíveis nomes de patronos. Foi um
trabalho de pesquisa árduo e que me levou ao conhecimento da história de
Cajazeiras e dos seus filhos ilustres. Mas, na medida em que ia avançando os
contatos e a intenção, aparecia também uma resistência ao propósito, para mim
ainda hoje incompreendida. Como vi que a Academia que eu pensara iria se
transformar numa acomodação de nomes de figuras da política, do comércio e da sociedade
local, suspendi o projeto para propô-lo em outro momento. Não que os
“socialites” não pudessem figurar numa Academia de Letras, alguns até tinham
proximidade com o mundo das artes e da intelectualidade, é que alguns dos tais
dos sobrenomes que exerciam uma espécie de mandonismo local não gostariam de
ficar de fora.
Em
2001, fundamos a Associação dos Artistas de Cajazeiras – AARC@, primeira versão
de fato e de direito de uma agremiação artística nas pretensões de uma
Academia, em que tive a honra de ser o primeiro presidente. E quem estava lá?
Escritores, artesãos, atores, pintores, escultores, músicos. Enfim, tínhamos
plantado uma semente para um movimento forte de revelação dos novos talentos e
valores artísticos de Cajazeiras.
Passados
esses quase 18 anos, eis que surgem duas vontades de se criar uma Academia de
Letras: a que eu encabeçara anteriormente e a de um grupo liderado pelo
professor Francelino Soares, o escritor Frassales Francisco Cartaxo e o ator (e
secretário de cultura) Ubiratan de Assis. Sem saber da existência do projeto do
trio, segui o mesmo percurso de antes, procurando parceiros e apoiadores. Em
dado momento, convidei os poetas Linaldo Guedes e Lenilson Oliveira, parceiros
do Poesia no coreto, para se juntarem ao grupo, e aí fiquei sabendo da
existência de uma iniciativa semelhante encabeçada pelo trio de intelectuais
mencionados. Tentamos unir as duas frentes de criação da Academia em Cajazeiras
e eis que agora, enfim, a ACAL está criada e com previsão de posse dos
acadêmicos para semana de comemorações do aniversário de emancipação política
de Cajazeiras, no mês de agosto.
De
parabéns e com o aplauso da cidade estão todos: Patronos, representantes da
história e representados por suas famílias; Membros, que irão ocupar as cadeiras,
como acadêmicos; e a sociedade, que com certo atraso de duas décadas, mesmo
assim, o que são 20 anos, diante da imortalidade do pensamento e da cultura dos
povos que ficarão indelevelmente marcadas nos livros, nas obras de arte e nos
registros da história e de quem sempre luta pela vitória da inteligência contra
a politicagem dos aproveitadores e embusteiros de ocasião?
Salvemos
a nossa humanidade da barbárie com as honrarias de conduzir uma instituição tão
importante para a cidade. Uma Academia de Letras é um monumento à
“intelligentsia” do povo.
Vivas
a ACAL!
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