José Antônio de Albuquerque
Quando estive em Fortaleza, em 2017, fazendo
pesquisas sobre a vida do Padre José Tomás de Albuquerque, aproveitei para
visitar a biblioteca do DNOCS para colher mais informações sobre a Construção
do Açude Piranhas e do engenheiro Moacir Avidos, que adoeceu de paratifo em
Boqueirão e veio a falecer em Fortaleza em 15 de dezembro de 1932, com apenas
33 anos de idade e que foi considerado como uma das grandes estrelas que
brilhou nos serviços de Obras Contra as Secas, marcado por traços indeléveis de
inteligência, cultura e atividade.
Moacir Avidos formou-se Engenheiro Civil, em
1921, pela Politécnica do Rio de Janeiro e já demonstrara sua operosidade nos
trabalhos da construção da ferrovia de Itapemirim a Barra, no Espírito Santo.
Em 1922 ingressou na Inspetoria de Obras Contra
as Secas, no Rio Grande do Norte, mas logo em seguida foi transferido para o
Primeiro Distrito, no Ceará, onde chefiou a Secção de Estradas de Rodagem e em
seguida representou a Inspetoria junto a Construção do Açude de Orós, que
estava a cargo da firma americana Dwight P. Robinson & Cia.
Em setembro 1923, regressou ao Espírito Santo,
sua terá natal e assumiu o cargo de Secretário da Viação, Obras Públicas e
Agricultura, no governo de Florentino Avidos, tendo construído as pontes de
Vitória e Colatina, reforçou o abastecimento d’água e desenvolveu o sistema
rodoviário.
O maior serviço prestado pelo Dr. Moacir Avidos
ao Espírito Santo foi, porém, a regularização da dívida externa do Estado com
os credores franceses, por ele levada a efeito quando, na Europa, fiscalizava a
usinagem da ponte metálica de Vitória.
Em 1928, com o advento do novo governo, foi
nomeado prefeito da capital, função em que continuou a demonstrar as suas
qualidades de administrador a um tempo econômico e construtor.
Em 1932, voltou a servir na Inspetoria de
Secas, vindo pela segunda vez ao Ceará. Depois de curta permanência no
escritório de Fortaleza, foi-lhe então confiada a construção da grande barragem
de Piranhas, quando nesta época a região estava sendo castigada pela calamidade
da seca e onde era maior a acumulação de flagelados, com todas as suas
dolorosas e tristes misérias.
Em derredor destas construções, muito mais
perigoso do que a fome, eram as várias endemias, que com ela se conjugavam, em consequências
das aglomerações, a falta de alimentação adequada, de higiene e da poluição das
águas.
As endemias ceifaram muitas vidas, a exemplo da
cólera-morbo, a mesma que obrigou Padre Rolim e seus alunos a fugir de
Cajazeiras, deixaram os sertões desertos, as casas vazias e os povoados a
ermos.
No triênio 1931 a 1933, grassou, entre outras
epidemias de menor virulência, o paratifo, a quem se deve atribuir grande parte
da elevada cifra de cerca de 16.000 óbitos verificados nos acampamentos das
obras federais, fato inclusive que obrigou o governo a construir um Hospital no
atual Distrito de Engenheiro Avidos e uma belíssima casa para abrigar os
médicos, obras, infelizmente destruídas por administradores incautos e sem
compromisso com a preservação do patrimônio do povo.
Em Engenheiro Avidos fez-se necessário a
construção de um cemitério, para substituir um “improvisado” que foi feito na
aba da serra, tamanha foi a mortandade dos operários, numa iniciativa da esposa
de Silvio Aderne, engenheiro que substituiu Dr. Moacir Avidos. E foi ela também
a responsável pela capela de Nossa Senhora Aparecida, erguida com as ações
voluntárias dos operários que construíam o açude.
Muitos conseguiram escapar da febre, mas
infelizmente, Moacir Avidos, mesmo tendo lutado para sobreviver, veio a falecer
em Fortaleza no dia 15 de dezembro de 1932, dando a sua vida na colaboração de
uma grande obra, que vem servindo ao povo sertanejo e merecidamente, numa justa
homenagem, ser lembrado por gerações com o nome do Distrito onde está encravado
o Açude do Boqueirão de Piranhas.
Engenheiro Avidos bem que merecia do povo de
Cajazeiras e cidades além do Rio Piranhas, uma estátua.
fonte: Diário do Sertão (colunistas)
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