quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Em homenagem aos 155 anos de Cajazeiras, três poemas de dois poetas que são referências na história da militância cultural de nossa cidade.
















O VELHO PÉ DE CA
poema de Modesto Maciel


Este pé de cajá, cajazeiras
Não tem mais razão de existir
Além de tão velho ele estar
Hoje vive a nos incomodar
Por tanto esta árvore, cajá
O seu pé eu vou ter que cortar
Neste espaço eu pretendo implantar
Um edifício com teto e energia solar

Não, meu senhor!
Não cometa tamanho absurdo
Na minha infância esta árvore foi tudo:
Em sua sombra eu brincava, nela, eu subia e pulava
Os seus frutos eu saboreava
Preserve este símbolo da história
O seu nome nos deu tanta glória
Não destrua a nossa memória!

Olhando ao seu arredor
A frondosa sem nada entender
O seu tronco a se estremecer
Motosserra começa a rolar
Folhas e galhos caindo a sangrar
Sentindo a força e a máquina a matar
Cajazeiras de luto ora está
Seus cajás nunca mais vou sugar.


KULTURA KOM KÁ
poema de Modesto Maciel

Se é um ato de loukura
A nossa obra de arte
O kriador e a kriatura
São diferentes da postura
Ki fecha os kaminhos da kultura
Do papel social do artista na estrutura

Kultura erudita é kultura dominante
Kultura controlada é kultura popular
Kapital da kultura
Kajazeiras de almoço sem pautar

Tem uns kivem de fora, só beber e kurtir akí
E outros kivão daki trafikar polítika lá
Vem Kaim, vem Abel, vem praká
Mas nada de roubar, de rachar, de matar
de preparar a sepultura
Da terra da kultura kom ká.


















ODE A CAJAZEIRAS 
OU POR TUA CULPA, POR TUA MÁXIMA CULPA
poema de Irismar di Lyra

De sabedoria te imagino poema;
no exílio, minha`alma inquieta-se.
Na condição de filho
fora de casa,
fiz de ti, Cajazeiras,
o teor dos meus poemas
e, à distância, outra cidade me acolhe,
sem seus atributos peculiares.

Eu insulto daqui, a Cajazeiras pacata,
a que assiste patética, muda e sem ação
a administrações que se revezam
sem dar-lhe vez, voz ou direito de participação.

Eu insulto a política raquítica,
a que faz obras de fachada
e anda a passos de jabuti;
o administrador que constrói praça,
para outro que chaga destruí.

Eu insulto a Cajazeiras sem ateliês,
motivos pelos quais, os painéis
de Luisa Moisés
resistem sem galeria;
o teatro sem espetáculos,
a cultura em agonia.
(tem sido assim teu dia-a-dia)

Como Pedro negaste três vezes
a Raimundo Correia Ferreira
o Poder Municipal.
(esse certamente fora o seu mal)
Não! A essa Cajazeiras feito diocese,
que neutraliza os ideais dos filhos mais fiéis
e deixa que seus sonhos morram na catedral.

Refuto a Cajazeiras não tão bela,
quanto Marta Ferreira;
não tão fina quanto Liduina;
a que se perde em corsos,
comícios, carreatas, enterros,
procissões e infindáveis romarias.
Perdoa-me se n`algumas horas
te acho feia,
te penso longe,
te sinto fria.
Por tua culpa, por tua máxima culpa!

Exalto os anos setenta,
tempos memoráveis do Colégio Estadual,
da efervescência do movimento estudantil,
do Centro Cívico Olavo Bilac,
do culto a Flor do Lácio,
de descobertas mil.

Exalto os novos poetas a reivindicarem
em versos, espaço  para a arte
contestando a repressão política
do poder sobre a livre expressão
(tempo de pura deglutição)

Ainda que teus vivos, como teus mortes
não repousem a paz dos cães de Otacílio,
regozijo-me, por assim, amar-te,
e envio, daqui, um beijo, deste teu filho.

Fora! ... aquele que não sabe amar-te
Fora! Aquele que não quer reconhecer,
que pelos desígnios da arte e da cultura,
és a Terra que ensinou a Paraíba ler.




2 comentários:

Anônimo disse...

Dois poetas fundamentais dos grandes sertões.

Francisco Cleudimar F. de Lira disse...

Bons poetas que marcaram um época.