O
VELHO PÉ DE CAJÁ
ODE A CAJAZEIRAS
poema de Modesto Maciel
Este
pé de cajá, cajazeiras
Não
tem mais razão de existir
Além
de tão velho ele estar
Hoje
vive a nos incomodar
Por
tanto esta árvore, cajá
O
seu pé eu vou ter que cortar
Neste
espaço eu pretendo implantar
Um
edifício com teto e energia solar
Não,
meu senhor!
Não
cometa tamanho absurdo
Na
minha infância esta árvore foi tudo:
Em
sua sombra eu brincava, nela, eu subia e pulava
Os
seus frutos eu saboreava
Preserve
este símbolo da história
O
seu nome nos deu tanta glória
Não
destrua a nossa memória!
Olhando
ao seu arredor
A
frondosa sem nada entender
O
seu tronco a se estremecer
Motosserra
começa a rolar
Folhas
e galhos caindo a sangrar
Sentindo
a força e a máquina a matar
Cajazeiras
de luto ora está
Seus
cajás nunca mais vou sugar.
KULTURA
KOM KÁ
poema de Modesto Maciel
poema de Modesto Maciel
Se
é um ato de loukura
A
nossa obra de arte
O
kriador e a kriatura
São
diferentes da postura
Ki
fecha os kaminhos da kultura
Do
papel social do artista na estrutura
Kultura
erudita é kultura dominante
Kultura
controlada é kultura popular
Kapital
da kultura
Kajazeiras
de almoço sem pautar
Tem
uns kivem de fora, só beber e kurtir akí
E
outros kivão daki trafikar polítika lá
Vem
Kaim, vem Abel, vem praká
Mas
nada de roubar, de rachar, de matar
de
preparar a sepultura
Da
terra da kultura kom ká.
ODE A CAJAZEIRAS
OU POR TUA CULPA, POR TUA MÁXIMA
CULPA
poema de Irismar di Lyra
De sabedoria te imagino poema;
no exílio, minha`alma inquieta-se.
Na condição de filho
fora de casa,
fiz de ti, Cajazeiras,
o teor dos meus poemas
e, à distância, outra cidade me acolhe,
sem seus atributos peculiares.
Eu insulto daqui, a Cajazeiras pacata,
a que assiste patética, muda e sem ação
a administrações que se revezam
sem dar-lhe vez, voz ou direito de
participação.
Eu insulto a política raquítica,
a que faz obras de fachada
e anda a passos de jabuti;
o administrador que constrói praça,
para outro que chaga destruí.
Eu insulto a Cajazeiras sem ateliês,
motivos pelos quais, os painéis
de Luisa Moisés
resistem sem galeria;
o teatro sem espetáculos,
a cultura em agonia.
(tem sido assim teu dia-a-dia)
Como Pedro negaste três vezes
a Raimundo Correia Ferreira
o Poder Municipal.
(esse certamente fora o seu mal)
Não! A essa Cajazeiras feito diocese,
que neutraliza os ideais dos filhos
mais fiéis
e deixa que seus sonhos morram na
catedral.
Refuto a Cajazeiras não tão bela,
quanto Marta Ferreira;
não tão fina quanto Liduina;
a que se perde em corsos,
comícios, carreatas, enterros,
procissões e infindáveis romarias.
Perdoa-me se n`algumas horas
te acho feia,
te penso longe,
te sinto fria.
Por tua culpa, por tua máxima culpa!
Exalto os anos setenta,
tempos memoráveis do Colégio Estadual,
da efervescência do movimento
estudantil,
do Centro Cívico Olavo Bilac,
do culto a Flor do Lácio,
de descobertas mil.
Exalto os novos poetas a reivindicarem
em versos, espaço para a arte
contestando a repressão política
do poder sobre a livre expressão
(tempo de pura deglutição)
Ainda que teus vivos, como teus mortes
não repousem a paz dos cães de
Otacílio,
regozijo-me, por assim, amar-te,
e envio, daqui, um beijo, deste teu
filho.
Fora! ... aquele que não sabe amar-te
Fora! Aquele que não quer reconhecer,
que pelos desígnios da arte e da
cultura,
és a Terra que ensinou a Paraíba ler.
2 comentários:
Dois poetas fundamentais dos grandes sertões.
Bons poetas que marcaram um época.
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