por Cleudimar Ferreira
NA SALA 03 DO CINÉPOLIS - MANGABEIRA SHOPPING
O cinema sempre foi uma
das minhas paixões. Em um certo momento da minha adolescente vida, até pensei:
e se eu morasse dentro de um cinema e o meu quarto fosse a cabine de projeção!
A sensação de prazer que sentiria seria do tamanho de um cinema. Ainda não
estou um vetusto, mas essa satisfação agradável que carrego em mim, pelo
cinema, não teve fim com o passar dos anos. Tanto é que chegando aos sessenta,
essa paixão está mais viva do que no passado. Para alimentar esse meu gostar, acabei
adotando o Cine Bangüê como companheiro de fins de semana. Quando nos raros
momentos que sou impedido de estar nessa sala de exibição, por motivos
operacionais inerentes a administração do cinema, procuro refúgio em outras
salas existentes na cidade. E assim, termino nas popularescas e apáticas salas
dos shoppings.
Agora, estando
o Cine Bangüê provisoriamente, pela segunda vez, lacrado por problema técnicos,
resolvi apagar o meu cinéfilo fogo pela sétima arte em outras paragens.
Aproveitando o recesso junino da escola que trabalho, me arrisquei numa
aventura rumo a zona sul de João Pessoa. Fui ao Cinépolis do Mangabeira
Shopping, sem prognósticos ou programação nenhuma, na expectativa de naquelas
salas, estivesse em cartaz um filme que me convencesse vê-lo, ou que caísse na
graça do meu gosto particular.
Ao chegar no
meu destino, vi que dos cincos filmes da programação desse dia, de nenhum eu
tinha lido a sinopse ou ouvido falar a seu respeito. Sem opção, foi pela
intuição. Escolhi a película cômica policial “Oito Mulheres e um Segredo”, do
diretor Gary Ross, mais pelo título e pelo elenco que destacava Sandra Bullock,
Cate Blanchett e Anne Hathaway, entre as oito mulheres da trama. Comprei o
ingresso; esperei um tempo; quando faltava dez minutos para a projeção começar,
entrei no cinema na certeza que a sala estava ocupada por pessoas, que
ansiosamente esperava o início do filme.
Mas como nem
toda certeza pode estar em conformidade com a realidade. A verdade é que ao
entrar no interior do cinema, passei naquele momento a ser o único expectador
da sala. Não havia uma só pessoa no local. Eu era o único ser vivo ali naquele
espaço quase escuro, em silêncio total a contemplar aquela sombria e inerte
caixa de exibição.
CARTAZ COM ELENCO DO FILME "OITO MULHERES E UM SEGREDO"
Liguei o celular por um
instante na tentativa de queimar o tempo, na angústia de que aparecesse alguém
para me fazer companhia. Tudo em vão. Faltando pouco menos de cinco minutos
para começar a projeção, eu continuava a ser o único ali, e comigo, as
recordações do passado e do presente, que também começavam a passar pela minha
mente, como uma fita de cinema sobre uma lente Scope. Os minutos passavam. Veio
as lembranças dos grandes filmes que assisti nos cinemas em Cajazeiras e João
Pessoa. Nessas recordações instantâneas, repentinas do meu cinema recluso,
viajei pelo universo dos faroestes italianos aos filmes policiais, passando aí
pelos de suspenses de Hitchcock, até desembarcar nas grandes produções de
terror, que por um longo período, colocou em prova meus nervos, deixando-os a
flor da pele quando eu ia vê-las em exibição nos cinemas da minha terra.
Não gosto de
ver filmes pesados, pois sou um amedrontando de carteirinha. Mas naquela hora,
na sala três do Cinépolis, o que predominou nos meus pensamentos e não queria
sair, eram as lembranças de filmes como: Psicose, Premunição, O Exorcista e
Sobrenatural. Os poucos do gênero terror que ousei assistir e que foram para
mim, uma experiência que não quero mais viver. Em um instante, o medo abateu
sobre meu corpo. Veio com o medo os arrepios, a tensão. Olhava de lado, sentia
a presença de alguns personagens sentados naquelas cadeiras vazias, sobre a
penumbra da sala.
O medo só
aumentava e a inquietação também. Tentei relaxar, esquecer aquele
momento fechando os olhos. Porém as inesquecíveis cenas de Linda Blair em
"O Exorcista”, me fez abrir os olhos e foca-los sobre aquela tela vazia a
minha frente. Por uns segundos, senti Linda Blair, em 3D, ali presente, com sua voz rouca, revirando os olhos, enroscando o seu pescoço, vomitando verde, vindo em minha direção. Aguçando mais
ainda o meu pesadelo, não dando trégua.
Com o emocional fora de controle, percebendo, portanto, que a
sala estava ficando pesada demais, resolvi sair. Quando levantei da cadeira,
ouvi vozes de um casal que naquele instante adentrava na sala para me fazer
companhia. Aliviado com a chegado do casal e não me sentido mais só, decidi
ficar. No mesmo instante, me dirigi ao casal afirmando: até que fim vocês
chegaram para me fazer companhia! Então, aquele desconhecido rapaz, que fazia par com uma mulher parda, olhou para
mim e perguntou: porque? E assim eu respondi a ele: por que eu estava sozinho com os
fantasmas desse cinema. Ufa!
SALA DE EXIBIÇÃO DO CINE BANGÜÊ - FUNDAÇÃO ESPAÇO CULTURAL
ATUALMENTE FECHADA POR PROBLEMAS TÉCNICOS NO
EQUIPAMENTO DE PROJEÇÃO
ATUALMENTE FECHADA POR PROBLEMAS TÉCNICOS NO
EQUIPAMENTO DE PROJEÇÃO
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