Depois de uma extensiva e
exaustiva reforma necessária, de caráter reconstrutiva, polemizadas por
arremessos e arrebates. De um lado, os pros; por outro, os contras; eis que
surge rompendo o calendário da espera enfadonha de atores e atrizes, a tão esperada
entrega do Teatro Íracles Brocos Pires - Teatro Ica, marcada sem adiamento ou
prorrogação de data, para a primeira semana do mês de março - provavelmente no
dia 8.
Com certeza, a sua inauguração vai ser um marco
para a sociedade teatral de Cajazeiras e vai marcar na história da principal casa
de cultura da cidade, como mais uma etapa funcional a ser cumprida no tempo. Nesse
transcurso, é bom lembrar que o ano de 1985 aportou, como ano em que o sonho da classe teatral cajazeirense se materializou, com a construção do referido
teatro, pelo então, na época, governador Wilson Braga.
Naquela oportunidade, curiosos olhares da arte e
ansiosos dirigentes teatrais da cidade, arrebatados pela magia da concretização
do sonho antigo, fizeram da inauguração do teatro uma festa regada a Trupizupe,
Theatrai e Theatron; apimentada por um pretensioso discurso político, que
mascarou ideologicamente a face do ator – na época, Lúcio Sergio de Oliveira
Vilar, que na condição de representante da categoria, leu o manifesto de boas-vindas do Ica
a terra da cultura.
Agora, 33 anos depois, os personagens dessa
nova vida do referido teatro, não vieram do pretérito e não representam mais o passado. No momento, são outros
os atores e dirigentes em cena e o governador, não é mais o senhor Wilson Braga, mas sim,
Ricardo Vieira Coutinho, que sensível a demanda que tem revelado a produção
cultural da cidade, principalmente na sua parte mais emblemática, a
dramaturgia, refez o percurso da história do Teatro Ica, realizando uma
reconstrução por mais merecida e uma ampliação da área da casa de espetáculo,
anexando a mesma, salas para atividade de dança, ensaios e outras atividades
fins, inerentes a todo teatro que se preza.
Se para tal iniciativa, a demanda dos serviços
atropelou o tempo, esticando a sua finalização em um curso de quase 5 anos; o
estado estético e funcional em que ficou o teatro, apagará da memória dos cajazeirenses e
cajazeirados, as arestas que causaram frisson entre os que defendiam e os que
não defendia a sua reforma. Resta saber se depois desse mar revolto, a calmaria
a seguir, será suficiente para unirá a classe, já que pela estrutura física que ficou o teatro,
haverá espaços para todos, independentemente ou não de posicionamento político; que tipo
de atividade teatral faz; ou se concorda ao não com a nova roupagem dada pelo
Governo do Estado a principal casa de espetáculos teatrais do sertão paraibano.
Resta esperar para ver que discurso os
dirigentes da nova classe teatral de Cajazeiras farão no dia da sua inauguração. Como
isso é uma incógnita, não vem previamente estabelecido. Como bem expressou o texto lido por Lúcio Vilar, na tarde de 26 fevereiro de 1985, resta-nos meditar um
pouco sobre qual a função de representar sentimentos, ou como sentirão os
atuais dirigentes da nova ordem teatral da terra da cultura, frente ao moderno templo das artes cênicas que receberão, e qual importância o Ica representará para todos, após a sua
entrega. Vamos esperar!
Abaixo, o texto lido por Lúcio
Vilar na primeira inauguração do Teatro Ica em 26 de janeiro de 1985.
Teatro, vida, luta e arte (*)
O dia permanece cloro, apesar da noite que se faz
longa. Nosso sonho não é de agora. Porém temos a felicidade de ver renovado em
cada grupo que surge, em cada espetáculo encanado mesmo com as dificuldades da
técnica do dia-a-dia descoberta. Um novo refletor, o sol a pino, a lua em
clarão, mambembe, marginal até. Nosso sonho não termina nunca. Somos velhos
meninos nascidos em cada cena, em cada ato, grafado em cada espetáculo, palco,
tablado, da rua, de volta ao teatro, de volta à cidade, para disseminar o ato
de ver, de fazer teatro.
O que podemos esperar de um acontecimento
solene, formal como esse, onde povo, governo e artistas, nos encontramos aqui,
frente a um mesmo cenário-comício, de um mesmo texto-contexto que requer ao
povo (que somos), reaver nosso direito de voz e liberdade de expressão. E o
Brasil muito que necessita disso, que requer, de parte do Governo, reaver seus
credos-créditos políticos, pela certeza do dever cumprido. Aqui, perante ao
grande número de atores, autores, técnicos de espetáculos, produtores de teatro
e iluminadores paraibanos da arte em geral, que pena, poucos reconhecidos.
Resta-nos meditar um pouco sobre qual a função
de representar sentimentos, anseios ou direitos a felicidade plena do homem,
onde nascemos?
Quando esta arte, a arte de um Sófocles, de um
Shakespeare, de um Gil Vicente: de um Martins Pena. Arte também de um Paulo
Pontes, em vida comprometido, como nos encontramos agora nesse ensaio de
dramaturgia. O que temos a fazer, os artistas? Frente as dificuldades que
medrem essa gente conflitante, - como povo que somos, - ao mesmo tempo
representados em tribuna-palanques, cenário da classe política. E nesses tempos
modernos já não há razão, nem caberia mais, nenhum atrelamento do artista ao
poder.
Falamos de um quarto poder: o da imprensa. E
são vários os “podres poderes” como o mano Caetano nos evangeliza. Daqueles que
não tem poder em essência. Não seria outra a função atual do “poder da arte”,
questionar tais ditirambos. Confrontamos, povo e governo, e não mais agora,
jamais, sob o ponte de vista de bobos da corte, nem de poetas palacianos, como
é ainda possível encontrar nesse Estado-País aos montes. Foi-nos difícil, e bem
verdade, reconhecermo-nos nessa trajetória não como artistas formados em
academias reais, mas como superdotados, mas das vezes censo comum? Alto lá,
autodidatas nesse dia-a-dia, e para rompermos o terceiro milênio, falta pouco,
muito pouco mesmo. Logo mais, daqui a 15 anos, estaremos alcançando nosso
futuro de hoje, e mesmo dia de ontem, que tanto diz respeito a nossa geração é
filha de uma consciência aquariana.
Nascemos no Sertão. Aqui reivindicamos nosso
direito a vida nesse chão condizente com nós mesmos, sem jamais esquecermos dos
céus - meridianos que gritava sobre nossas cabeças. Não pretendemos aqui
elaborar linguagens de laboratórios sociais. Gostaríamos, que sempre possível,
abrimos a comporta do tempo, tornando-nos verbos, e não vermes, dizendo quem
verdadeiramente somos, afinal. E podermos, por fim, disputar, de igual para
igual a fraterna alegria entre os homens aqui nesta terra.
Somos operários do lazer. Enquanto o público se
diverte nós trabalhamos. Enquanto este trabalha voltamos ao oficio de ensinar a
arte em prol da vida, que aos quatros cantos nos encontramos, preparando sempre
para um dia seguinte. O sol há de brilhar ou obscurecer para sempre, onde
seremos, todos, cegos ou guias-vias dessa longa estrada. Para onde vamos!
Paremos um pouco. “A estrada é estreita e
longa”. Depois de Íracles o forte de Santa Catarina, Cabedelo será o próximo
forte, endosso dessa mesma categoria que lá aguarda amor e abrigo. Mais escolas
de arte de 1 e 2º graus, com teatro permanente, no que é possível. Inclusivo,
obtermos fusão do Curso de Comunicação Social e Licenciatura de Educação
Artística, do Departamento de Artes e Comunicação, do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da UFPB, onde, por incrível que pareça, cobramos,
agora, e não sonhamos, com esse delírio de entendermos teatro, e porque não? - Também
a nível de 3º graus. Estudos, desejos e debates se conjugam nesse sentido, por
entendermos teatro como um processo dinâmico que se desencadeia da rua para o
palco, do palco para a aldeia.
Resta-nos, para tanto, melhores tratamentos,
isto em termos de autonomia financeira, para com os destinos do que é/o que é
arte/educação/cultura. De dentro para fora e de fora para dentro da comunidade.
Restamos sermos ouvidos e atendidos enquanto entidades civis.
Cada “Tijolo com tijolo” do desenho lógico da
arquitetura do todo-nosso e aconchegante Teatro Íracles Pires; aqui também
presente Marcélia Cartaxo; João Bosco; Antônio Carlos Vilar; Geraldo Ludgero;
Roberto Lira; Tarcísio Siqueira; Joaquim Alencar; Gutemberg Cardoso...
Em cada tijolo com tijolo do desenho lógico da
conquista do nosso Teatro Íracles Pires. Nele/Nela está implícito todo isso.
A reconstrução do Teatro Íracles Pires custou
ao Governo do Estado, cerca de 5 milhões. “Não economizamos! Nós utilizamos os
melhores materiais no Teatro Íracles Pires”, disse Ricardo Coutinho. O teatro
será entregue como a mesma estrutura técnica, ou seja, cadeiras, cortinarias,
equipamento de som e iluminação, utilizada na construção do Teatro Pedra do
Reino e nas reformas dos teatros Santa Roza e Paulo Pontes.
IMAGENS QUE REVELAM COMO FOI TRAÇADA A HISTÓRIA DO 'ICA'
(Primeira construção em 1985)
COMO FOI A DEMOLIÇÃO E INICIO DA RECONSTRUÇÃO
(No ano de 2014)
COMO FICOU APÓS A REFORMA, DEMOLIÇÃO E RECONSTRUÇÃO
(No ano de 2018)
Nenhum comentário:
Postar um comentário