por Cleudimar Ferreira
Esse negócio de dizer que Cajazeiras não é mais terra da cultura, é algo apressado e recorrente a imprudência. Beirando, me
parece, a um desvairado equívoco. Primeiro, a frase vez por outra, tem sido
pronunciada por leigos no assunto, por desconhecimento da oralidade do termo.
Por outro lado, o que é estranha, também por pessoas ligadas aos segmentos
artísticos da cidade. Mas o que venha ser cultura.
Bem vamos a explicação: É um processo ou efeito
de criar e cultivar, comum nas sociedades, nos aglomerados e nas comunidades das
mais próximas as mais distantes que possamos imaginar. Cultura pode significar
ainda, todo um complexo que inclui o conhecimento de um povo, não só da arte,
mas seu poder de criar suas crenças e suas leis; preservar seus valores morais,
seus costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos, não somente no convívio
familiar, mas nas irmandades sociais ou nos amontoados comunitários que está
inserido um povo.
Cultura é algo apreendido e aprendido por um povo, que passa de gerações para gerações, através das relações sociais. Ela pode até ser dinâmica. Por esse viés, ela vai se transformando, perdendo e incorporando outros aspectos, ou seja, vai mudando constantemente conforme as mudanças sociais
que ocorrer numa sociedade; num grupo social, procurando melhorar a vivência das novas gerações. É um estado em constate
movimento e não pode parar. Mesmo que pare, sua essência não morrerá jamais.
Cajazeiras é uma cidade como qualquer outra. Ela é viva e está produzindo continuamente
cultura nas suas esquinas, pelas suas ruas, numa mesa de bar, na roda de
conversa no fundo de quintal; nas conversas de sua gente na feira aos sábados;
nos palanques; no seu estádio de futebol; nas suas praças, nas igrejas.
Enfim, onde estiver acontecendo nossas festas; nossas
concertações de pessoas, são possíveis está ali, focos de produção cultural.
Mas seus fundamentos pode está nos comportamentos do povo cajazeirense; na
forma de agir, de expor suas ideias e de colocar em prática. Na maneira de
conversar e de se expressar; nos jeitos e nos trejeitos de nosso povo, nossa
cultura estará presente sempre. Não precisa que as suas referências estejam
ligadas somente as artes para ela existir. Não! Não é necessário.
Evidentemente, que para ela aparecer, a injeção
das linguagens artísticas vem dar uma elevada na sua autoestima; vem fazer ela
ser mais viva e evidente. Dizer que nossa cidade não mais terra da cultura, é o
mesmo que dizer que seu povo foi amortizado, pois enquanto ele estiver evidente,
pulsante, sua cultura estará viva junto com ele.
Agora o mais sensato seria dizer que as referencias de nossa cultura, que são as nossas produções artísticas, passa por uma crise
existencial momentânea. Nossos valores artísticos envelheceram e não houve
renovação. Ou seja, não surgiu novas revelações e na cidade há uma inércia aparente
de surgimento de novos valores nas artes. Porque isso aconteceu? Os fatores são
vastos, visivelmente perceptíveis. São conhecidos, já foram por demais
questionados e discutidos nas salas e entre salas das reuniões de seus agentes culturais nos últimos anos.
Não foi culpa do poder público, que descumpriu
sua função de promover; de repassar a parte de seu orçamento para as produções
de suas expressões artísticas; não! Não foi só isso. A resposta para as falhas,
nossos defeitos e inoperância com nossas raízes culturais, me parece vasta,
profunda. Mais uma, talvez esteja no tempo, que direcionou nosso povo a trilhar
por outros caminhos que não seja o da arte. E isso inclui o comodismo, a falta
de ânimo e de incertezas dos nossos artistas com curso que tem percorrido a
cultura de um modo geral no país, que esteve vulnerável nessas últimas décadas
ao que a indústria cultural tem apresentado e direcionado aos nossos valores artísticos.
A mídia tem parcela sombria nesse processo. Também
trabalhou em conjunto com a indústria cultural - principalmente a fonográfica,
para promover o desmantelamento e enfraquecimento da qualidade da produção
artística nacional em troca de um produto cultural de baixo custo e de
qualidade duvidosa. E Cajazeiras não ficou de fora desse contexto.
Mas quais os valores visíveis a olho nu, que
foram vitrines da nossa produção cultura no passado e que se fossem resgatados, poderia dar uma força
a esse embrulhado momento que passa a nossa produção artística. Vamos expor aqui. O nosso Grupo de Reisado, que fim levou? Nossa adormecida
Banda Cabaçal, porque toda cidadezinha ao redor de Cajazeiras, tem e nós não
temos? Nossa Santa Cecilia - Bandas de Músicas masculina e feminina; Coral João
de Deus, por que não resgatar; Conjunto de Câmara Mandacaru – poderia ter uma
nova formação com alunos do Prima; Bloco do Jaraguaá – ressurgido das cinzas no
carnaval deste ano; e nosso Carnaval Tradição. São referências arquivadas da
nossa cultura, que uma parceira poder público e iniciativa privada e seguimentos
culturais, poderia ser uma saída para tirar do anonimato com pouco custo, essas
referências que marcou nossa arte e nossa cultura no passado não muito
distante.
O que falta e iniciativa de seus agentes
culturais, muitos sentados nos seus empregos públicos, esquentando cadeiras
discutindo o que já foi discutido a séculos; mantados na falta de ação, que é o
que mais o tem atrapalhado a produção artística de nossa cidade e que não interessa
mais a cultura em Cajazeiras. Basta! Não há mais espaço para isso. Será que
nossos futuros descendentes vão precisar levar para seu tempo, analises,
discussões e questionamentos sobre como deve ser a cultura de Cajazeiras, já
conversados por ancestrais de seus pais? É tempo de ação e ação implica na
concretude e na realização do Festival da Canção no Sertão; também na
realização dos Festivais de Poesias e do Sertanejo de Artes Cênicas; na realização do Salão Oficial de Artes
Plásticas do Sertão, oficializado por Decreto Lei, em 1983, pelo então Prefeito
Francisco Mathias Rolim e que nunca foi realizado.
Portando, essa missiva labial que escapa das
bocas, que me parece mais um interesse político do que um lamento de quem
perdeu a carona no zepelim prateado nos céus de Cajazeiras, tem procedência duvidosa
e prazo de validade ultrapassado. O que precisamos é de determinação e de
pessoas identificadas com o fazer, que sejam encorajadas a prática e não a
teoria. Gente de sangue azul, com capacidade de dar vazão a nossa arte e que não
fiquem a lamentar a morte de quem não morreu.
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Cleudimar Ferreira: Graduado em Artes pela UFPB e Especialista em Cultura e Criação Artística.
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