domingo, 2 de abril de 2017

SOBRE A POLÊMICA FRASE DE QUE CAJAZEIRAS NÃO É MAIS TERRA DA CULTURA

por Cleudimar Ferreira


Esse negócio de dizer que Cajazeiras não é mais terra da cultura, é algo apressado e recorrente a imprudência. Beirando, me parece, a um desvairado equívoco. Primeiro, a frase vez por outra, tem sido pronunciada por leigos no assunto, por desconhecimento da oralidade do termo. Por outro lado, o que é estranha, também por pessoas ligadas aos segmentos artísticos da cidade. Mas o que venha ser cultura.

Bem vamos a explicação: É um processo ou efeito de criar e cultivar, comum nas sociedades, nos aglomerados e nas comunidades das mais próximas as mais distantes que possamos imaginar. Cultura pode significar ainda, todo um complexo que inclui o conhecimento de um povo, não só da arte, mas seu poder de criar suas crenças e suas leis; preservar seus valores morais, seus costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos, não somente no convívio familiar, mas nas irmandades sociais ou nos amontoados comunitários que está inserido um povo.

Cultura é algo apreendido e aprendido por um povo, que passa de gerações para gerações, através das relações sociais. Ela pode até ser dinâmica. Por esse viés, ela vai se transformando, perdendo e incorporando outros aspectos, ou seja, vai mudando constantemente conforme as mudanças sociais que ocorrer numa sociedade; num grupo social, procurando melhorar a vivência das novas gerações. É um estado em constate movimento e não pode parar. Mesmo que pare, sua essência não morrerá jamais. Cajazeiras é uma cidade como qualquer outra. Ela é viva e está produzindo continuamente cultura nas suas esquinas, pelas suas ruas, numa mesa de bar, na roda de conversa no fundo de quintal; nas conversas de sua gente na feira aos sábados; nos palanques; no seu estádio de futebol; nas suas praças, nas igrejas.

Enfim, onde estiver acontecendo nossas festas; nossas concertações de pessoas, são possíveis está ali, focos de produção cultural. Mas seus fundamentos pode está nos comportamentos do povo cajazeirense; na forma de agir, de expor suas ideias e de colocar em prática. Na maneira de conversar e de se expressar; nos jeitos e nos trejeitos de nosso povo, nossa cultura estará presente sempre. Não precisa que as suas referências estejam ligadas somente as artes para ela existir. Não! Não é necessário.

Evidentemente, que para ela aparecer, a injeção das linguagens artísticas vem dar uma elevada na sua autoestima; vem fazer ela ser mais viva e evidente. Dizer que nossa cidade não mais terra da cultura, é o mesmo que dizer que seu povo foi amortizado, pois enquanto ele estiver evidente, pulsante, sua cultura estará viva junto com ele.

Agora o mais sensato seria dizer que as referencias de nossa cultura, que são as nossas produções artísticas, passa por uma crise existencial momentânea. Nossos valores artísticos envelheceram e não houve renovação. Ou seja, não surgiu novas revelações e na cidade há uma inércia aparente de surgimento de novos valores nas artes. Porque isso aconteceu? Os fatores são vastos, visivelmente perceptíveis. São conhecidos, já foram por demais questionados e discutidos nas salas e entre salas das reuniões de seus agentes culturais nos últimos anos. 

Não foi culpa do poder público, que descumpriu sua função de promover; de repassar a parte de seu orçamento para as produções de suas expressões artísticas; não! Não foi só isso. A resposta para as falhas, nossos defeitos e inoperância com nossas raízes culturais, me parece vasta, profunda. Mais uma, talvez esteja no tempo, que direcionou nosso povo a trilhar por outros caminhos que não seja o da arte. E isso inclui o comodismo, a falta de ânimo e de incertezas dos nossos artistas com curso que tem percorrido a cultura de um modo geral no país, que esteve vulnerável nessas últimas décadas ao que a indústria cultural tem apresentado e direcionado aos nossos valores artísticos.

A mídia tem parcela sombria nesse processo. Também trabalhou em conjunto com a indústria cultural - principalmente a fonográfica, para promover o desmantelamento e enfraquecimento da qualidade da produção artística nacional em troca de um produto cultural de baixo custo e de qualidade duvidosa. E Cajazeiras não ficou de fora desse contexto.

Mas quais os valores visíveis a olho nu, que foram vitrines da nossa produção cultura no passado e que  se fossem resgatados, poderia dar uma força a esse embrulhado momento que passa a nossa produção artística. Vamos expor aqui. O nosso Grupo de Reisado, que fim levou? Nossa adormecida Banda Cabaçal, porque toda cidadezinha ao redor de Cajazeiras, tem e nós não temos? Nossa Santa Cecilia - Bandas de Músicas masculina e feminina; Coral João de Deus, por que não resgatar; Conjunto de Câmara Mandacaru – poderia ter uma nova formação com alunos do Prima; Bloco do Jaraguaá – ressurgido das cinzas no carnaval deste ano; e nosso Carnaval Tradição. São referências arquivadas da nossa cultura, que uma parceira poder público e iniciativa privada e seguimentos culturais, poderia ser uma saída para tirar do anonimato com pouco custo, essas referências que marcou nossa arte e nossa cultura no passado não muito distante.

O que falta e iniciativa de seus agentes culturais, muitos sentados nos seus empregos públicos, esquentando cadeiras discutindo o que já foi discutido a séculos; mantados na falta de ação, que é o que mais o tem atrapalhado a produção artística de nossa cidade e que não interessa mais a cultura em Cajazeiras. Basta! Não há mais espaço para isso. Será que nossos futuros descendentes vão precisar levar para seu tempo, analises, discussões e questionamentos sobre como deve ser a cultura de Cajazeiras, já conversados por ancestrais de seus pais? É tempo de ação e ação implica na concretude e na realização do Festival da Canção no Sertão; também na realização dos Festivais de Poesias e do Sertanejo de Artes Cênicas; na realização do Salão Oficial de Artes Plásticas do Sertão, oficializado por Decreto Lei, em 1983, pelo então Prefeito Francisco Mathias Rolim e que nunca foi realizado.

Portando, essa missiva labial que escapa das bocas, que me parece mais um interesse político do que um lamento de quem perdeu a carona no zepelim prateado nos céus de Cajazeiras, tem procedência duvidosa e prazo de validade ultrapassado. O que precisamos é de determinação e de pessoas identificadas com o fazer, que sejam encorajadas a prática e não a teoria. Gente de sangue azul, com capacidade de dar vazão a nossa arte e que não fiquem a lamentar a morte de quem não morreu. 

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Cleudimar FerreiraGraduado em Artes pela UFPB e Especialista em Cultura e Criação Artística. 

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