Mariana Moreira Professora Universitária e
Jornalista
Karl Emil Maximilian Weber foi um intelectual, jurista e economista
alemão considerado um dos fundadores da Sociologia.
alemão considerado um dos fundadores da Sociologia.
Submersa
na burocracia que a vida moderna nos presenteia e, sobretudo, nos impõe
diariamente, pulula a minha frente, com uma recorrência estonteante, as imagens
cientificamente proféticas elaboradas pelo sociólogo alemão Max Weber. Ainda
nos derradeiros momentos do século XIX e primeiras décadas do século XX Weber
constrói as figuras da “jaula de ferro” e do “desencantamento do mundo” na
análise da vida moderna.
Segundo
Weber, a racionalidade, a exigência da comprovação científica, a explicação
racional das coisas, a ciência como parâmetro para conceber o mundo, orientar
ações e condutas e pautar sentimentos transforma, paulatinamente, a vida numa
prisão cujas grades e grilhões estão além da capacidade humana de serem
rompidas apenas com sonhos.
A
racionalidade que exige a autenticidade das coisas além da palavra.
As
versões devem sempre conferir com a original, autenticadas por autoridades
legitimamente reconhecidas.
Não
basta você existir. Exige-se comprovação de sua existência em certidões,
registros, cédulas, fotos. Não basta a fala, sem o carimbo que a oficialize
como autêntica.
Weber
vaticina, assim, que esta racionalidade exacerbada desencadeia um intenso
processo de burocratização da vida que, além de nos aprisionar, nos rouba a
capacidade do sonho, do devaneio, da quimera, na figura que ele constrói como o
“desencantamento do mundo”.
O
mundo liso, plano, iluminado pelo conhecimento, pelo raciocínio, pela verdade
inquestionável não deixa brechas para ilusões.
Exorcizam-se
sombras, dobras, malassombros, visagens. Soterram-se rezadeiras, videntes,
profetas.
Classificam-se
como burlesca as simpatias, as adivinhações, as estórias de trancoso.
Aprisionam-se no patamar da irrealidade as visagens que, em minha infância, se
projetavam nas paredes de tijolo aparente a partir da possibilidade criada pela
bruxuleante luz das lamparinas de querosene enquanto, ao lavar os pratos do jantar,
chegavam, do terreiro de Impueiras, difusos sons das prosas sobre mortos que
apareciam, espíritos que amedrontavam transeuntes em oiticicas e casas
abandonadas.
E,
no turbilhão da racionalidade moderna, soterrei os mapas mentais das botijas
que, na infância, cartografei nas ribeiras de Impueiras e Cipó. Botijas fartas
em moedas, jóias, possibilidades, mas também obesas de estórias e narrativas de
medo, de desconhecidos, de seres sobrenaturais.
Ora,
descobri que a estes mapas falta, na temporalidade do hoje racional, o timbre
que lhes confere autenticidade.
E
me recolho a um canto da jaula de ferro e, pelas frestas das grades espio o
mundo desencarnado de sonhos.
Apenas
espio!
fonte: Diário do Sertão - Coluna da jornalista Mariana Moreira
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