por Cleudimar Ferreira
Cajazeiras
sempre esteve à frente na produção cultural do interior do Estado. É lógico que por aí se produziu bons eventos e outros menos impactante; tivemos também periodos que pouco ou quase nada se reaĺizou. Essa posição merecida, não só tem causado ciumeira nas cidades circunvizinhas, como também, provocado inquietações em determinados segmentos das artes - seja que linguagem for; na imprensa, em jornalistas e/ou críticos dos centros maiores, com destaque, cidades como Campina Grande, João Pessoa e Cabedelo.
Entretanto, sejamos mais justos com esse contexto e, possamos admitir que essa preocupação
de ver a hegemonia cultural desses grandes centros culturais ser ultrapassada por uma cidade de porte médio, foi
mais evidente no passado e que nos dias atuais, essa emulação já não espelha tanto concorrência ou rivalidade, como se pensava há anos atrás.
As
evidências desse desassossego parecem mesmo coisa do passado. E foi buscando o passado, que me deparei com este artigo, que tem o título de: “Festival de Artes
foi desvirtuado” de Waldemar Duarte, publicado no jornal “A União” de 26 de
março de 1987, página 9, Segundo Caderno. Na sua redação, fica clara essa inveja
quando o jornalista escrevendo sobre a decisão do governo do Estado de realizar
o Festival de Artes da Paraíba, em Cajazeiras, diz que “se Cajazeiras, a heroica
terra do Padre Rolim, deseja um Festival de Arte, que o faça”.
Mas porque essa visão oposta de Waldemar Duarte com relação a indicação de Cajazeiras como sede do Festival? Seria talvez o fato de Cajazeiras, na década de 80, ter chegado em certos momentos a ser a cidade que mais produziu cultura em todo Estado da Paraíba! A
atitude opositora do cronista à Cajazeiras, na época, estampado claramente no seu texto, fica mais explícita quando
o cronista responsabiliza o mal comportamento de alguns artistas de teatro, incluído
os grupos de Cajazeiras nas hospedarias de Festivais passados, realizados na cidade de Areia.
Em
outro parágrafo, me parece, o quinto, o jornalista até concorda que o Festival
seja transferido da cidade de Areia para outro centro. E sugere João Pessoa e até Mamanguape, mas, nunca em Cajazeiras. Mais adiante, o jornalista abre uma refuta que colaborando
com o evento especial - centenário; aniversário da cidade; inauguração de teatro; etc., podia haver uma exceção para Campina Grande ou Patos, que na visão dele oferecia condições melhores de hospedagem de todos os participantes do evento e os meios de transportes melhores. Como se em Cajazeiras nessa época, não existisse hotel ou transportes adequados para o translado de ir e vim dos artistas do festival.
Finaliza, afirmando que Cajazeiras tem condições de realizar seus festivais. E sugere que
faça com participação até mesmo do Estado do Ceará, que é fronteira com o
cacife que lhe oferecem os seus grupos teatrais, seus valores locais e adjacentes. Ainda bem, que do ranzinzado de Waldemar no seu texto, saiu uma sugestão que não é de se jogar fora. A ideia de Cajazeiras realizar um Festival de Arte do Sertão. Evento que poderia ser feito com a participações de cidades vizinhas, ou mesmo com outras próximas de Cajazeiras, dos Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, que se limitam com a nossa cidade. Leia abaixo o texto completo de Waldemar Duarte.
FESTIVAL DE ARTES FOI DESVIRTUADO
Waldemar Duarte
O Festival de Artes da Paraíba, que, inicialmente, denominava-se Festival de Artes de Areia, foi desvirtuado por um populismo pernicioso. Se Cajazeiras, a heroica terra do Padre Rolim, deseja um Festival de Arte, que o faça, não é nada demais. Desviar o Festival de Artes de Areia, leva-lo para Cajazeiras e ficar repetindo-o, é dose para elefante. Ele foi criado para Areia, com esforço grandioso e grandemente aplaudido, de inspiração do poeta e deputado Eilzo Matos e, por isso mesmo, deve ser conservado, até mesmo pela excelência do clima.
É
bem verdade que, não havendo hotel seus promotores usavam o Colégio Santa Rita
para hospedagem, tendo desavença com seus promotores em virtude de mal
comportamento de alguns artistas teatrais, incluindo os grupos de Cajazeiras.
Hoje, no entanto, já existe um hotel que precisa ser inaugurado. Melhor a
oportunidade não haverá em inaugurá-lo do que a realização do Festival de Arte
de Areia ainda este ano. Agora que estamos festejando o centenário de
nascimento de José Américo, filho de Areia, essa oportunidade tornar-se ainda
mais gritante. O ano do centenário do autor de A Bagaceira deveria ter em seu
calendário de comemorações, a inauguração do Hotel que já está devidamente
mobiliado, dependendo apenas da desapropriação de umas favelas que não sendo
possível, também não será motivo relevante para homenagear José Américo e sua
cidade.
Aqui
fica a sugestão ao Sr. Secretário de Cultura, o combativo jornalista Severino
Ramos, que está suando por todos os poros para realizar para moralizar os
segmentos culturais de sua administração, para acompanhar a austeridade
administrativa do Governo Burity. Chegaremos lá.
A
oportunidade é boa para trazer a Paraíba, neste centenário as mais atuantes
autoridades em literatura, em música, em pintura, em folclore etc., para
homenagear José Américo e retomar a realização do Festival que já se tornou uma
tradição e o roteiro certo dos que fazem artes no Brasil.
É
bom lembrar que a imposição política exigindo sua permanência para onde não foi
criado, pode deturpar o verdadeiro sentido dos objetivos para os quais fora
criado. Se ele foi criado para Areia e se Areia oferece as condições de clima e
hospedagem, não sei como se pode mudar o local de sua realização. É possível
que vez por outra, ele possa ser realizado também em João Pessoa e Mamanguape,
numa trilogia com todas as facilidades de hospedagem e de transporte, nunca em
Cajazeiras...
Pode-se
até admitir que colaborando com o evento especial (Centenário, aniversário da
cidade, inauguração de teatro etc.) posso haver uma exceção para Campina Grande
e Patos, que oferece condições de hospedar todos os seus participantes e os
meios de transportes são mais facilitados.
Cajazeiras
tem condições de realizar seus festivais, com a participação até mesmo do
Ceará, que é fronteira, com o cacife que lhe oferecem os seus grupos teatrais,
seus valores locais e adjacentes. O festival de Areia deve se firmar na cidade
serrana, para a qual foi criado, o que firmará mais ainda seu conceito de
centro cultural, não somente pelo que estamos fazendo, como pelo que já fez com
os seus filhos aureolados, como Pedro Américo, Aurélio Figueiredo, Coelho
Lisboa, José Américo de Almeida e tanto outros. Fica a sugestão...
Sente-se
que a nova direção de nossa Cultura está trabalhando com enorme entusiasmo,
inclusive para a implantação do Museu do Açúcar e do Parque
Ecológico-Turístico-cultural José Américo de Almeida.
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