Em março de 1989, o professor, o poeta, o teatrólogo,
o compositor, o artista plástico e o escritor cajazeirense Irismar Di Lyra, lançava
em noite de autógrafo no auditório da Caixa Econômica Cabo Branco, em João Pessoa, o seu quinto
livro com título: “Cantata para o Agora”. Para marcar a data, ele deu a advogada
Nadja Palitot, a seguinte entrevista que foi publicada no Jornal A União do dia
09 de março de 89, página 11- Serviço. Saiba o que pensava na época o escritor, 27 anos atrás, nessa conversa amistosa com Nadja Paliyot.
O
Questionamento da existência numa Cantata para o Agora.
Nadja Palitot,
Um escritor que define a literatura como sendo
a ciência catalizadora do pensamento e que, portanto, pensa como escreve, cria
o que sente. Assim é Irismar Di Lyra, um paraibano de Cajazeiras, que estará
lançando, a partir das 20h30 de amanhã, o livro Cantata para o Agora, no hall
da Caixa Econômica Federal, Agência Cabo Branco. Doublê de escritor e bancário,
Irismar já lançou outros quatros
trabalhos, sendo o mais recente A Corte dos Raros uma reunião de sus poesia,
que foi editado no ano passado. Nesta entrevista à advogada Nadja Palitot,
realizada exclusivamente para A UNIÃO, ele fala do seu trabalho e seu processo
de criação e revela, ainda, seu maior sonho: “receber o Nobel de Literatura,
afinal a gente sempre quer ser o melhor e maior em tudo que faz”. A seguir, a
entrevista, na integra.
Quem é
Irismar?
Hoje sou o escritor, o que se questiona sobre
si mesmo e não especificamente sobre minha obra, que é o ponto nevrálgico dessa
conversação.
Irismar,
o escritor, o que ele pensa?
Ora, questiono a existência, e isso está em
Cantata para o Agora, que é o ponto de referência entre o escritor e o público.
Fale
sobre “Cantata para o agora”.
É uma complexidade de coisa abordadas sobre
ângulos diversos, mas sintetizados em quatro cantos de natureza lírica,
reunidos num só título, onde questiono a busca incessante do Eu; o processo de
tessitura do que escrevo; o pragmatismo da vida e as utopias do homem, sem as
quais a via se tornaria por demais insípida.
Como
você sente o “Cantata para o Agora”?
Ele é um instrumento ideológico do qual me
sirvo para fazer do que penso e fazer denunciar.
Você
considera sua obra uma visão egoística?
Não, o que passo ou aquilo que tanto passar é o
que absorvo e assimilo sobre a temática questionada: a vida. Pode ser que em
Cantata para o Agora, eu não tenha conseguido me responder sobre o que me
questiono tanto. Talvez seja necessário um outro livro para que esse meu
pensamento venha se completar, fechando este ciclo.
Você
se considera um escritor popular?
Eu trabalho com metáforas e essa forma de
linguagem é bastante implícita, não sei se isso seria, para o público, um
escritor popular.
Então,
Irismar, para quem você escreve?
Infelizmente, para uma minoria “pensante”, que
pode comprar e ler o que a gente escreve. A grande maioria, por questões de
poder aquisitivo, não tem acesso a literatura, o que seria uma problemática para
os governantes, que pouco estão ligando para isso: afinal, interesse ao poder manter
este estado de alienação vigente, pois ele fomenta o continuísmo destruidor que
assola o país desde a Revolução de 64.
Você
se sente uma pessoa solitário?
Eu me sinto solitário às vezes que penso sobre
isso. Tenho a toalha de banho, os livros, os discos, a máquina de escrever, o
que me dizem que estou completamente só.
Que
tipo de relação existe entre Irismar e o eu ele escreve?
Para ser sincero, é quase uma relação sexual. O
ato de escrever, principalmente o ato de criar, passar para o papel e dividir
com ele o que se sente, exige reciprocidade. As ideias são como amantes:
seduzem. E, ao passa-las para o papel e dividir com ele o que se sente
profundamente, acontece uma relação muito profunda, sexual. É um ato a dois, no
qual se dá e se recebe, dando vazão ao libido.
Como
você concilia o escritor e o bancário?
Eu não concilio, eles acordam juntos, talvez se
tolerem, pois precisam um do outro. Ambos vivem do que o outro faz: nem ou
totalmente bancário, nem completamente escritor. O bancário é uma necessidade
prática e substancial e o escritor, é uma necessidade que tenho como homem
inquieto que sou, de sentir, fugir, sonhar, e do qual todos nós precisamos. Eu
não sei bem como conseguiria viver sem o escritor. Mas o escritor, por si só, por
uma fortaleza, seria capaz de sobreviver sozinha.
E
quais são os seus sonhos?
Ser o maior e melhor escritor do mundo. Todos
nós queremos ser o maior e o melhor naquilo que fazemos, não é verdade? Espero,
um dia se o Nobel da Literatura.
O que
é literatura para você?
Ela é a ciência catalizadora do pensamento:
penso como escrevo, crio o que sinto.
fonte: Jornal A União
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