sábado, 19 de novembro de 2016

CANTATA PARA O AGORA


Em março de 1989, o professor, o poeta, o teatrólogo, o compositor, o artista plástico e o escritor cajazeirense Irismar Di Lyra, lançava em noite de autógrafo no auditório da Caixa Econômica Cabo Branco, em João Pessoa, o seu quinto livro com título: “Cantata para o Agora”. Para marcar a data, ele deu a advogada Nadja Palitot, a seguinte entrevista que foi publicada no Jornal A União do dia 09 de março de 89, página 11- Serviço. Saiba o que pensava na época o escritor, 27 anos atrás, nessa conversa amistosa com Nadja Paliyot.

O Questionamento da existência numa Cantata para o Agora.
Nadja Palitot, 

Um escritor que define a literatura como sendo a ciência catalizadora do pensamento e que, portanto, pensa como escreve, cria o que sente. Assim é Irismar Di Lyra, um paraibano de Cajazeiras, que estará lançando, a partir das 20h30 de amanhã, o livro Cantata para o Agora, no hall da Caixa Econômica Federal, Agência Cabo Branco. Doublê de escritor e bancário, Irismar já   lançou outros quatros trabalhos, sendo o mais recente A Corte dos Raros uma reunião de sus poesia, que foi editado no ano passado. Nesta entrevista à advogada Nadja Palitot, realizada exclusivamente para A UNIÃO, ele fala do seu trabalho e seu processo de criação e revela, ainda, seu maior sonho: “receber o Nobel de Literatura, afinal a gente sempre quer ser o melhor e maior em tudo que faz”. A seguir, a entrevista, na integra.

Quem é Irismar?
Hoje sou o escritor, o que se questiona sobre si mesmo e não especificamente sobre minha obra, que é o ponto nevrálgico dessa conversação.
Irismar, o escritor, o que ele pensa?
Ora, questiono a existência, e isso está em Cantata para o Agora, que é o ponto de referência entre o escritor e o público.
Fale sobre “Cantata para o agora”.
É uma complexidade de coisa abordadas sobre ângulos diversos, mas sintetizados em quatro cantos de natureza lírica, reunidos num só título, onde questiono a busca incessante do Eu; o processo de tessitura do que escrevo; o pragmatismo da vida e as utopias do homem, sem as quais a via se tornaria por demais insípida.
Como você sente o “Cantata para o Agora”?
Ele é um instrumento ideológico do qual me sirvo para fazer do que penso e fazer denunciar.
Você considera sua obra uma visão egoística?
Não, o que passo ou aquilo que tanto passar é o que absorvo e assimilo sobre a temática questionada: a vida. Pode ser que em Cantata para o Agora, eu não tenha conseguido me responder sobre o que me questiono tanto. Talvez seja necessário um outro livro para que esse meu pensamento venha se completar, fechando este ciclo.
Você se considera um escritor popular?
Eu trabalho com metáforas e essa forma de linguagem é bastante implícita, não sei se isso seria, para o público, um escritor popular.
Então, Irismar, para quem você escreve?
Infelizmente, para uma minoria “pensante”, que pode comprar e ler o que a gente escreve. A grande maioria, por questões de poder aquisitivo, não tem acesso a literatura, o que seria uma problemática para os governantes, que pouco estão ligando para isso: afinal, interesse ao poder manter este estado de alienação vigente, pois ele fomenta o continuísmo destruidor que assola o país desde a Revolução de 64.
Você se sente uma pessoa solitário?
Eu me sinto solitário às vezes que penso sobre isso. Tenho a toalha de banho, os livros, os discos, a máquina de escrever, o que me dizem que estou completamente só.
Que tipo de relação existe entre Irismar e o eu ele escreve?
Para ser sincero, é quase uma relação sexual. O ato de escrever, principalmente o ato de criar, passar para o papel e dividir com ele o que se sente, exige reciprocidade. As ideias são como amantes: seduzem. E, ao passa-las para o papel e dividir com ele o que se sente profundamente, acontece uma relação muito profunda, sexual. É um ato a dois, no qual se dá e se recebe, dando vazão ao libido.
Como você concilia o escritor e o bancário?
Eu não concilio, eles acordam juntos, talvez se tolerem, pois precisam um do outro. Ambos vivem do que o outro faz: nem ou totalmente bancário, nem completamente escritor. O bancário é uma necessidade prática e substancial e o escritor, é uma necessidade que tenho como homem inquieto que sou, de sentir, fugir, sonhar, e do qual todos nós precisamos. Eu não sei bem como conseguiria viver sem o escritor. Mas o escritor, por si só, por uma fortaleza, seria capaz de sobreviver sozinha.
E quais são os seus sonhos?
Ser o maior e melhor escritor do mundo. Todos nós queremos ser o maior e o melhor naquilo que fazemos, não é verdade? Espero, um dia se o Nobel da Literatura.
O que é literatura para você?
Ela é a ciência catalizadora do pensamento: penso como escrevo, crio o que sinto.



fonte: Jornal A União

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